9º Dia * Covilhã - S. Gião (Oliv. Hospital)
O dia amanheceu muito bonito. Do alto da varanda do alojamento tinha uma vista fantástica sobre a cidade da Covilhã. Acordamos bem cedo, para fugir ao calor, mas sobretudo porque esta seria a etapa rainha da nossa volta. Nunca eu tinha posto a possibilidade de a fazer, mas não me tinha passado ao lado. Nem a propus à minha esposa, mas ela leu o meu pensamento e desejo, e foi ela que me desafiou: "que tal subirmos à Torre?" Acreditem que não foi motivo para discutirmos, porque eu humildemente aceitei, porque desejo é a paz no lar.
Mas haviam algumas dúvidas. A bateria precisaria de ser carregada, mais vezes, porque o esforço dela exigido seria igualmente maior. Estudamos a subida ao pormenor, e os pontos de paragem para recarregar. Mas para que as dúvidas ficassem um pouco mais esclarecidas, no dia anterior, depois do jantar, fizemo-nos à subida. Chegamos ao parque de campismo, e voltamos, já com a decisão tomada: "Amanhã a Torre é nossa!!!!!"
Eram 7,45 e já davamos as 1as pedaladas. Tinhamos decidido encher os meus alforges com o máximo de tralha e sobretudo a mais pesada. E notou-se!
Mas a vontade ara tanta e o prazer imenso, que o peso por maior que fosse era o menos.
1ª Paragem: Parque de campismo. Até aqui a inclinação, sempre nos 8,9 e 10% foi demolidora, mas o pior estava para a etapa seguinte. A partir do parque a inclinação sobe para os 12% e em curtos espaços até roça os 14%. Cotovelos muito duros, mas ultrapassados com determinação.
2ª Paragem: Obras do antigo sanatório. Em boa hora a bateria recalmou carregamento, porque na verdade aquele troço é deveras complicado, ainda por cima com dois alforges, pesando cada um deles mais ou menos 10 kgs. Felizmente que a parte mais difícil estava ultrapassada. Umas centenas de metros acima do sanatório, a inclinação abranda muito, possibilitando que o andamento seja mais rápido. Até às Penhas da Saúde, a dificuldade é média, à excepção dos últimos 200 metros.
3ª paragem. Embora não fosse ainda preciso, decidimos parar para recarregar a bateria, porque sabíamos que dali para a frente não haveríam mais tomadas disponíveis.
A descida de 1,5 kms, após o Centro de limpeza de neve, é ilusória, porque nem dá para recuperar o folego. Eu receava este bocado de 6kms. Já conhecia a sua dureza, e os seus ganchos, por entrei a medo. Mas para minha surpresa, depressa chegamos aos cotovelos, que antecedem o túnel. Aconteceu aqui o caso do dia. O trânsito estava parado, mesmo na boca do túnel, e nem nós os dois pudemos seguir. Porquê: Porque estavam a ser feitas filmagens, entre o túnel e a imagem da Nª Srªa mais acima. O protagonista era o novo modelo do Hyundai i30, bonito por sinal.
Sinal verde, e lá fomos nós, pedalada após pedalada até à Torre. À medida que nos aproximavamos, o nosso ânimo crescia. Como o meu andamento era muito reduzido,
( A minha mulher sempre ia umas centenas de metros mais à frente) aproveitei para ver a exuberante, beleza do Cântaro Magro (já o subi numa caminhada), o cântaro Gordo, a nascente do rio Zêzere, o vale glaciar e sei lá mais o quê. A serra ficou gravada cm a cm.
Fianlamente a torre. O mais interessante é que eu estava na subida final, após a rotunda e toca o telemóvel. Vejo que era e para minha surpresa era o MINGUS. Mas como é que ele soube que faltavam uns escassos 200 para a Torre???
Obrigado Mingus!! Neste local já cheirava a sande de queijo da serra que eu estava a plenear comer, como recompensa. TOOOOOOOOOOOOOOORRRRRRRRRRRRRRRREEEEEEEEEEEE, finalmente. Acredite que me sentia mesmo muito feliz, não tanto por mim, porque eu tinha a "obrigação" de subir mas sobretudo porque sabia que para a minha esposa era uma grannnnnnnnnnnde proeza. Mesmo ajudada pelo mecanismo eléctrico, ela tinha que fazer a parte dela senão a engenhoca não funcionava. E notou-se porque ela chegou a transpirar e cansada. Não costumo fazê-lo em público, mas esta não posso deixar passar: "A minha mulher é uma mulher daquelas duras de roer. Após um ano passado lutando contra um câncro, levar com a quimio, e tantas outras "ios" e "pias" e ter esta força de vontade e prazer para subir à torre, pela vertente considerada a 2ª mais complicada, por muitos, é de lhe tirar o chapéu!
Desculpem o elogio a um familiar tão próximo, mas acho que o devo fazer, quanto mais não seja para ajudar alguem a levantar a moral e mostrar que a vida e os sonhos só acabam quando morremos.
Sande comida a ritmo muito lento, finalmente nos pusemos em marcha, em direcção a Seia. Só que como sabem, eu tento evitar as rotas mais batidas, por isso antes do Sabugeuri viramos para Loriga, e descer o que eu considero a subida mais complicada para Torre. Até a descer aquilo é medonho. No cruzamneto tinhamos que optar: Loriga, Seia ou Sazes da Beira. Mapa aberto, e tendo Oliveira do Hospital como destino, optámos por uma estradinha muito estreita, existente no mapa, passando por Sazes da Beira. Ficamos deslumbrados com o que vimos. Felizmente que íamos a descer, porque aquilo para subir deve ser terrível, mas vale a pena.
Em especial para aqueles "malucos" que gostam de evitar as "rotas comerciais" esta é uma uma possibilidade a tomar muito em conta. Acreditem, que vale a pena. Só vendo com os vossos próprios olhos. Não esperem a a "softeza" da subida de Seia!
Mais uns kms à frente desembocamos numa estrada junto ao rio Alba, e começamos a ver as indicações para um parque de campismo. Fomos lá e fomos presentiados com o melhor alojamento destas férias, não tanto pela qualidade que era mais ou menos a mesma, mas por estarmos sózinhos num local idílico. Foi o prémio da nossa façanha da torre.
Quase nem dei por me deitar. Desconfio que a meio do processo já tinha adormecido.