Re: Percursos no Porto // Os primeiros duzentos!
Missão cumprida! Depois de 223Km, 3850 metros de ascenção e 9h40 em cima de um speedneedle, cumpri um dos meus objectivos do ano: Ultrapassar a barreira dos duzentos quilómetros, numa volta exigente mas também turística.
Com o percurso desenhado e carregado no GPS, consegui finalmente deitar-me a horas decentes para uma volta grande, ou seja, antes da 1 da manhã…
Isto foi especialmente importante uma vez que desta feita queria estar a sair de casa antes da 6h30 e portanto, levantar às 5h45 para os preparativos finais.
6h20 estava na estrada e segui com um ritmo muito calmo até, nos primeiros quilómetros. Não só pelos muitos quilómetros que ainda tinha pela frente, mas especialmente porque o início incluía logo a subida do carreiro em Baltar e também a subida de Paredes para Penafiel.
Ritmo certinho até Sobretâmega e, a conselho do Consciousness, subida para Baião pela antiga nacional. Lá tive alguma dificuldade em encontrar o acesso e quando perguntei, por acaso não andava longe do corte correcto para lá. Quem me indicou o caminho ficou muito admirado: “Você vai subir por lá? Vai ter de dar bem ao pedal!!!”. E sabem porquê? O que o malandro do José se esqueceu de contar era que a subida “antiga” começava logo com rampas de 26%! E com rebuçados semelhantes lá pelo meio. Mas custou-me muito menos do que a subida pela variante, já que esta é muito bonita, variada e interessante. Lembro-me de ficar muito admirado quando me surgiu pela frente a placa topomínica de Baião: “Já?!” Pensei.
De facto em menos de nada já estava na estrada que me levaria de encontro à já conhecida N101, vinda de Mesão Frio. Ascenção rápida e já estava a descer novamente a alta velocidade pela encosta do Marão.
Poderia ter descido até aos arredores de Amarante e iniciar a subida desde lá. Mas optei por cortar perto de Bustelo, indo apanhar a N15 na Rovilhã. Este troço de estrada já dava um cheirinho da beleza que me esperava nos quilómetros seguintes. Pena o estado de conservação. Aceitável a maior parte do trajecto mas com uma parte bastante mazinha no final. Nesses metros mais atribulados prometi que iria manter-me fiel aos Krilion Carbon da Michelin, que provaram, mais uma vez, ser de uma resistência assombrosa.
E estava assim na N15. Como o fogueteiro tinha avisado é uma subida constante, na volta dos 5 a 8% sem grande dificuldade, e que se faz com relativa facilidade, com a ajuda da maravilhosa paisagem.
Sempre em bom piso, e com a subida a correr a bom ritmo, começam a passar por mim inúmeros motociclos clássicos, nomeadamente FAMEL e CASAL. Até achei piada às 15 primeiras, mas depois disso, e ainda passaram bem mais, o fumo da gasolina de mistura 2T começou a ser um pouco incómodo…
Passada a zona habitacional, comecei a escalar então o Marão. Como o calor achou por bem começar a fazer companhia, parei numa das fontes improvisadas que me apareceu À beira da estrada. E que maravilhosa água fresca lá bebi! Soube-me pela vida e só tive pena de não poder ter aquela frescura comigo no resto da volta.
Mais um pouco e avistava a Pousada do Marão, o que significava mais uma dezena de quilómetros até lá chegar. Ascensão rápida, sendo que este tipo de subidas me agrada bastante, já que posso estabilizar no meu ritmo.
Passei a pousada e entrei num troço da estrada que não conhecia. Até ao Alto de Espinho, seria mais um par de quilómetros. De referir que desde a caravana de motos, passaram por mim 2 carros e um camião, certamente em direcção às obras do túnel do Marão. Fora isso, sossego absoluto.
Confesso que ia com bastante expectativa para a chegada ao Alto de Espinho, mas fiquei bastante decepcionado quando lá cheguei. Não tem nada de assinalável, nem mesmo uma BoaVista (é mais à frente na estrada) e, por isso, ficaria bastante desconsolado se fosse apenas lá e voltasse sem mais.
Mas como não consigo fazer isso, em boa hora tinha planeado a ida embora pelo Alvão. A paisagem no planalto da Campeã é extraordinária, pejada de minifúndio que parece saído de um postal ilustrado.
Na sardoeira apanhei a estrada que me levaria até ao Alvão, e logo com mais uma longa mas fácil subida, que ia fazendo elevar o acumulado do dia.
No final da subida vejo ao longe uma silhueta bem conhecida. Era o Monte Farinha! E mal descolei os olhos do monte vejo a descida! E QUE DESCIDA! Foram milhares de metros a descer a alta velocidade, com um olho na estrada e outro no fogo de artifício geológico que se perfilava perante mim. E a descida nunca mais acabava!! Mais uma vez, apenas se cruzaram comigo quatro automóveis, o que atesta da pacatez da estrada.
Entrada na zona do Alvão, saudado por abundantes manchas de pinheiros e mais zonas bonitas que me encheram a alma e deram alento para o resto da epopeia.
Corte para o Ermelo e começam as peripécias do dia. Como não tinha estudado bem a lição, assumi que as fisgas fossem visíveis da povoação em si. Fiz umas centenas de metros até Ermelo e depois numa de “deixa ver se é já ali à frente” fui seguindo uns 3 ou 4 quilómetros da estrada que seguia para Fervença. Mas a dada altura, não tendo visto mais do que uma nesga da cascata, decidi não arriscar e virei para trás.
Acabei por comer calmamente a bela (e gigante!) da sandes mista e do Sumol, num cafezito lá no Ermelo e voltei à estrada. Risos quando, 200 metros à frente, me deparo com a indicação para as Fisgas do Ermelo. Como já tinha perdido algum tempo com o desvio anterior, e não sabia a qualidade da estrada nem os quilómetros que faltavam até avistar alguma coisa, decidi não arriscar mais e continuar.
Mais uma subida longa e constante, para o momento decisivo do dia e que me ia custar bem caro. Como não estudei ao pormenor a rota, não reparei que a ligação que eu tinha previsto entre a estrada onde estava e Amarante era, durante 10Km, feita por CM ou seja, caminho municipal, o que equivale a estradão de terra batida.
Depois de perguntar, acabei por chegar à conclusão de que teria de ir por Mondim de Basto e seguir o Tâmega pela margem Norte e não pelo lado Sul, como tinha previsto.
Isto iria naturalmente implicar um acréscimo de quilómetros significativo.
Passei então por Mondim, e pela primeira vez estive no sopé do Monte Farinha, que me lançou o convite para o ir subir assim que possível. A visão é realmente impressionante, já que o monte, se desenvolve rapidamente, logo à saída da cidade, tomando a respeitável proporção que lhe é conhecida.
Mas a idílica visão em Celorico, escondia o pior que estava para vir. Como estava em estrada desconhecida, ia com bastante atenção e preocupação em encontrar o corte para Amarante, uma vez que a estrada tinha como destino Fafe. Por isso, como não abasteci na paragem para almoço nem em lado nenhum até Celorico, dei comigo na N210, a 20Km de Amarante, com uma réstia de água e com o calor no pico.
A confiar nas previsões metereológicas, a meio da tarde estaria um céu muito nublado com 58% de probabilidade de aguaceiros, com uma máxima de 26 graus. Na verdade o céu estava limpo e a temperatura superou os 35 graus. E ali estava eu, no meio de um deserto civilizacional.
Foram, por isso, os quilómetros mais excruciantes que já passei na estrada, com as subidas, maioritariamente as rampas longas típicas deste tipo de estrada, a sucederem-se durante 10 ou 12km, e sem nenhum sinal de civilização em toda a extensão da estrada. A água entretanto acabou e era impossível alimentar-me sem ficar com uma bola na garganta, o que estava a tornar a situação complicada. Com os quilómetros a sucederem-se rapidamente estava a ficar esgotado. Comecei a equacionar a necessidade de me desviar ainda mais da rota para ir a uma das povoações sobranceiras à estrada, mas o receio de mais quilómetros em vão, fizeram-me aguentar, cerrar os dentes e usar as forças com muita sensatez para chegar até Amarante.
Parei no primeiro café que me apareceu e tomei a melhor Coca-Cola dos últimos anos. Mais um litro de água que foi consumido em menos de nada. Ficou a lição que já deveria saber. Em território desconhecido, não se enjeita NENHUMA possibilidade para repor o stock de víveres essenciais.
Para vir embora, escolho novamente a N211-1, apesar de saber que ia apanhar 3 rampas mortíferas em Ataíde. O piso aqui é bem melhor que a N15 e só isso é suficiente para me fazer aguentar o esforço extra.
Duas paragens entre Amarante e a N15, primeiro para me refrescar (poderei dizer, molhar da cabeça aos pés) num fontanário de água fresca e depois para mais litro e meio de água, antes das penosas subidas. O alívio do “banho” durou pouco mais de 5 minutos até estar novamente seco e a água ingerida rapidamente saía pelos poros.
Vencidas as 3 rampas, e com a pedalada já em modo “super económico” fiz o troço da N15 até Penafiel e depois a variante para Paredes.
Respirei fundo para a última dificuldade do dia, a subida de Baltar. Com o aproximar da meta, o psicológico fez a sua magia e enfrentei os restantes quilómetros com um alento e energias renovados.
Cheguei finalmente a Valongo, 12 horas depois de ter saído, com duas centenas de quilómetros nas pernas, completamente exausto, com menos 2 quilos e meio, mas com um enorme sentimento de superação e de missão cumprida.
No entanto, terei de fazer ainda mais algumas voltas abaixo dos 200 quilómetros até tentar novamente uma distância tão grande. Ainda tenho de trabalhar um pouco melhor a resistência e a ponderação para não ter percalços como o de Celorico.
Por isso, voltarão as voltas de 120 a 150km, com a já falada volta com comboio pelo meio e claro, uma perninha no BTT para não perder a técnica.
Ficam aqui os dados da telemetria para registo:
(o sensor de velocidade actuou de forma errática, e portanto a quilometragem do Garmin Connect é inferior ao real. No entanto como tinha a certeza que, com as voltas adicionais que dei teria de fazer mais do que os 207km da rota original, fui hoje confirmar com o export em GPX e daí os surpreendentes 223Km)
Consumos:
Sólidos: Uma sandes e meia mista + dois cubos de marmelada + 2 embalagens de gel + uma barrinha/bolo de maçã
Líquidos: Aproximadamente 7 litros, entre água e refrigerantes (ajudam a levantar a moral!)