Prestando provas
Na primeira página do tópico já está colocada uma foto actual. Numa próxima volta faço fotos mais detalhadas...
Quanto aos upgrades mais recentes:
Travões M5
Os travões M5 são, de facto, qualquer coisa de especial. Multiplicação de força aparte, a sensação que transmitem é que estamos a apertar o aro directamente com uma garra hidráulica e não com com um sistema diferido de cabo e manete. O travão da frente tem uma flexão praticamente nula e o travão de trás apresenta uma flexão semelhante à que experimentei num travão da frente convencional shimano, equipado com cabos nokon. Ou seja, muito reduzida. Para isto contribui naturalmente a espiral que é um verdadeiro tanque e que, por isso, exigiu horas de preparação antes dos cortes finais!
A travagem é sólida, e muito muito positiva com as mãos no topo das manetes que é como ano 98% das vezes. Como sou pesado (90Kg) a progressividade e modelação são dadas pelo meu próprio peso. Com as mãos nos drops é muito fácil colocar a roda de trás a derrapar e levantar a bicicleta com o bloqueio da roda da frente. No entanto, ciclistas mais leves tendem a não gostar do comportamento tão directo destes travões precisamente porque se transformam num poderoso interruptor on/off quando confrontados com menos massa para abrandar.
Comportamento à parte, esteticamente resultam perfeitos neste projecto e são ainda mais bonitos ao vivo do que nas fotos.
ZTR, King e Superspokes
Esta fotografia resume de forma exemplar o porquê da escolha das rodas ter demorado mais de 6 meses...
Adquiri este fantástico vício de traçar as rotas que faço longe das estradas principais, com incursões nos mais inusitados troços de estrada isolada que, não raras vezes, se apresentam neste estado. Fendas no alcatrão, buracos e até ramos e paus.
Juntemos a este cocktail um ciclista pesado e temos condições muito particulares que exigiram um par de rodas também ele especial, principalmente porque teriam em consideração o factor peso. Poderá parecer um contra-senso procurar umas rodas leves para condições agrestes uma vez que umas rodas 32/32 com enraiamento 3x seriam perfeitamente à prova de bala. Pois, mas se posso arrastar menos 800g montanha acima, porque não? Aliás, era esse um dos pressupostos iniciais: Construir um clincher pensado para subir uma vez que, apesar de o fazer em câmara lenta, o que mais gozo me dá nas minhas voltas é enfrentar subida após subida, em busca das óbvias recompensas cénicas que se escondem no final de cada grande ascensão.
O cuidado que foi posto na montagem é evidente desde logo na roda da frente. Poderia ter optado pelo convencional enraiamento radial que tão em voga está agora. No entanto este apresenta 2 características que, para mim, eram problemas: Coloca um stress desnecessário nas flanges do cubo uma vez que o impacto é transmitido de forma directa e perpendicular desde o aro, via raio, até ao cubo e, consequência desta primeira, são rodas menos confortáveis sujeitando portanto todo o conjunto a esforços muito maiores quando submetidas a repetidos impactos, como é o caso das estradas negligenciadas por onde ando.
Assim, com um enraiamento 2x os raios ficam a exercer força tangencial no cubo, o que distribui as forças de uma forma menos agressiva.
Os raios escolhidos foram os novíssimos SuperSpoke da Sapim. Destinados a ocupar o topo da gama Sapim são basicamente os CX-Ray com uma secção mais fina, antes de sofrerem o processo que os tornaria num raio em lâmina. São por isso raios altamente resistentes à fadiga, extremamente leves e que comportam uma característica que neste caso é muito apreciada: São raios "maleáveis". Ou seja, ao contrário dos Laser ou dos Race que são raios mais rígidos (também pela sua maior secção) os CX-Ray e agora os SuperSpokes, são raios que têm um pouco mais de flexão nas mesmas condições de tensão.
Ora a minha opção foi no sentido de obter a roda mais confortável possível mas que fosse isenta de torção negativa. Entenda-se, nada de tocar nas pastilhas de travão quando forem sujeitas a torção quer do pedalar quer do curvar.
E na estrada comprovei ontem, com uma selecção de troços extremamente degradados (quem conhece a N224 entre Arouca e Castelo de Paiva sabe do que falo), que estas rodas são algo enigmático. Fiquei com a mesma sensação que tive quando montei as rodas equipadas com CX-Ray na bicicleta de BTT: agora tenho suspensão nas rodas!
De facto, a bicicleta tornou-se notoriamente mais confortável! As pequenas irregularidades são filtradas de uma forma impressionante e mesmo nos grandes impactos existe uma segurança a manter o controlo que supera o que já tinha experimentado anteriormente. Isto reflecte-se também na reduzida agressividade que agora é transmitida ao guiador com o consequente aumento do meu conforto ao longo dos quilómetros.
O reverso da medalha seria, poderá assumir-se, uma roda demasidado flexível. Mas tal não acontece. Nos troços de descida que ontem apanhei a seco, especialmente a descida da Freita, notei a mesma resposta positiva que tinha com as Shimano. A frente não ficou hesitante e mantém as trajectórias sólidas a curvar.
A mesma filosofia foi aplicada atrás, e aqui é que residia o verdadeiro teste de fogo. A roda de trás sofre duas forças adicionais relativamente à roda da frente: A torção assimétrica causada pela pedalada e a pressão adicional colocada pelo constante peso do ciclista.
Aqui a questão da torção foi resolvida com a colocação de raios Sapim Race do lado da cassete, no sentido de tornar a roda mais sólida. De igual forma o lado da cassete, devido ao ângulo dos raios ser menor, exige tensões maiores o que reforça ainda mais a necessidade de colocar um raio mais robusto. Do lado oposto voltaram os Superspoke e, pelos mesmos motivos da roda da frente o enraiamento foi a dois cruzamentos quer do lado da cassete quer do lado oposto.
O resultado correspondeu exactamente ás expectativas. Ontem encontrei por mais que uma vez a situação que normalmente fazia as Mavic tocar nas pastilhas de travão: Uma pequena rampa feita com duas mudanças mais pesadas do que o normal. Normalmente isto seria suficiente para, nas pedaladas mais sólidas, fazer a roda torcer demasiado. Com as ZTR isso não aconteceu e portanto nesse departamento cumprem com distinção os requisitos.
Ou seja, o resultado final não foi um par de rodas incrivelmente rígido até porque isso seria prejudicial à luz do que referi no início deste bloco de texto. O objectivo era fazer umas rodas suficientemente rígidas para não causarem incómodo mas, a partir daí, procurar tanto quanto possível o conforto.
Resta aferir a qualidade da montagem. 500Km volvidos, sendo que mais de 150 foram realizados em condições bastante adversas em termos de pavimento (cumulativamente foi das voltas em que apanhei piso em pior estado), as rodas estão exactamente como no dia em que saíram da caixa, em termos de desvio ou empeno.
O pré-tensionamento, esforçamento e re-tensionamento foram correctamente realizados na fase de montagem, conforme o esperado, e por isso não existirá certamente necessidade de as afinar nos próximos tempos. Afinal de contas é precisamente neste detalhe que se distingue uma boa montagem artesanal de uma montagem realizada por máquinas como no caso das rodas de série.
Uma última palavra para os cubos. Foi talvez o componente que demorou mais tempo a escolher, e a luta foi acérrima até ao final. O coração estava completamente rendido aos Phil Wood, mas a razão (de serem demasiado pesados) acabou por ditar a escolha dos Chris King como cubo à prova de bala a utilizar nesta montagem.
Com 0Km de rodagem era notório o arrasto já que em roda livre a cassete tinha tendência a rodar também. Mas logo na primeira saída para a estrada os vedantes dos rolamentos encontraram a sua posição definitiva e agora os cubos estão perfeitamente soltos. O novo anel de engate em titânio significou uma redução substancial do tradicional barulho "vespas enfurecidas" presente no anterior modelo de estrada, característica que me agradava de sobremaneira, mas não se pode ter tudo.
Daqui a alguns anos farei a respectiva análise da longevidade. Afinal de contas foi por isso que os Chris King ganharam um lugar nesta montagem!
Agora entramos em velocidade de cruzeiro nos upgrades à BMC. No horizonte estão para já apenas os pratos da Rotor, assim que seja possível encomendar o modelo de 2011, um parafuso aqui e ali e pouco mais.
98% do projecto está concluído e reflecte na perfeição aquilo que imaginei quando a odisseia começou.
Resta aproveitar cada oportunidade de 2011 para continuar a surpreender os habitantes de algumas terriolas perdidas nas serras com a visão de um maluco solitário em cima de uma bicicleta esquisita.