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[Arquivo] La vélo Duchene: As crónicas de André Carvalho

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duchene

Well-Known Member
GMQ
Essa é fácil de rebater. Só tenho um set de rodas e são umas Aksium Race... :eek:

E a Lynskey já é uma espécie de allroad...
 

Skyforger

Active Member
Ricardo

Para já, não há novidades a reportar... :rolleyes:

Neste momento o meu foco está fora das montagens até porque ainda há por aí alguns factores que não controlo e, portanto, não vale a pena pensar muito no assunto. A Lynskey continua apuradíssima e já tem a agenda cheia para os próximos tempos.

O que posso dizer é que andei a remexer nos caixotes de peças que tenho aqui para casa e encontrei uma bicicleta quase completa! Mas daí até esses objectos soltos se transformarem numa coisa utilizável, ainda vai demorar...

Contudo, e como já disse, há outras novidades a serem cozinhadas e estas podem-te interessar particularmente! Mais uns dias e verás!


Oh diabo...com essa das novidades poderem interessar-me particularmente ainda me deixaste mais curioso...:rolleyes:

Olha, ao mexeres nesses tais caixotes de peças que por aí tens, se encontrares algo que não precisas avisa que eu estou comprador de várias coisas.
 

GMQ

Well-Known Member
GMQ
Essa é fácil de rebater. Só tenho um set de rodas e são umas Aksium Race... :eek:

E a Lynskey já é uma espécie de allroad...

Tentar não custa ;) Eu sei disso. Mas julguei que estavas a desenvolver um projecto de uma bike mais dirty. Apesar de darmos os nossos bitaítes temos mesmo que aguardar que tu vás levantando o véu do novo projecto. De qualquer forma pensei por exclusão de partes tendo presente os projectos e as caracteristicas das bikes que tens vindo a desenvolver. Bem aguardemos então.
 

Bracaro

Member
Quando vi esta última foto das portagens abandonadas, a primeira coisa que que me veio à cabeça foi a série The Walking Dead.

Sobre o tema do carbono, compreendo que haja quem não goste e prefira outro material, mas comigo as coisas têm corrido bem.
Além de já ir na segunda bike de estrada em carbono (ambas Trek), tenho a minha velhinha Fuel 98 de 2002 também em carbono. E esta última, além dos milhares de quilómetros que tem, já levou muita pancada e mantém-se intacta.
 

Pintas

Member
André peço desculpa pelo off topic mas só para acalmar as hostes, quero dizer que não tenho nada contra o carbono e se tivesse $$ até gostaria de ter um ou outro quadro que por aí andam. Quanto ao "quebradiço" é a minha forma de dizer que não me posso dar ao luxo de partir um quadro pois depois não há guito para o substituir. Desse modo tento optar por material mais durável teoricamente e menos dado a quebras, por isso mesmo tenho ali o mealheiro a encher para daqui a uns anos poder trocar o meu modesto quadro de alumínio por eventualmente um em titanio, ou dependendo da evolução dos métodos de fabrico possivelmente por outro em alumínio de topo. Abraço a todos.
 

duchene

Well-Known Member
Ricardo
As novidades talvez tenham de esperar mais uns dias, porque ainda estou à espera de uma confirmação importante. Mas brevemente direi coisas.

Quanto aos caixotes, não sobrou muito depois de fazer a selecção. Mas a seu tempo publico os excedentes cá no fórum.

Miguel
A B'twin terá certamente um novo fôlego!

Bracaro
É um cenário muito raro e com algum impacto, até porque a Brisa não abandona uma máquina de fazer dinheiro como esta sem uma razão muitíssimo forte. No caso apenas a mudou de local...

Valter
Olha que boa ideia... :cool:

__

Já agora, tenho ali uma coisa no forno que poderão gostar...

Vou só ver se já está no ponto!
 

Skyforger

Active Member
Ricardo
As novidades talvez tenham de esperar mais uns dias, porque ainda estou à espera de uma confirmação importante. Mas brevemente direi coisas.

Quanto aos caixotes, não sobrou muito depois de fazer a selecção. Mas a seu tempo publico os excedentes cá no fórum.

Miguel
A B'twin terá certamente um novo fôlego!

Bracaro
É um cenário muito raro e com algum impacto, até porque a Brisa não abandona uma máquina de fazer dinheiro como esta sem uma razão muitíssimo forte. No caso apenas a mudou de local...

Valter
Olha que boa ideia... :cool:

__

Já agora, tenho ali uma coisa no forno que poderão gostar...

Vou só ver se já está no ponto!


Eh lá...o que temos para o almoço..? :)
 

duchene

Well-Known Member
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FuraDouro, esse delicioso trocadilho! (Parte 1)
11 de Julho de 2015 // 238Km // 4050m AC+

Este ano as responsabilidades não permitiram que comemorasse o meu dia de aniversário a pedalar. Por isso, no dia seguinte não deixei passar a oportunidade de me presentear com mais uma aventura pelas maravilhosas estradas e paisagens aqui do Norte.

O meu plano original contemplava uma volta um pouco mais extensa, numa outra zona geográfica, mas o facto de não ter os preparativos feitos em condições e também o adiantar da hora por conta das festividades fizeram com que mudasse de ideias.

Quando já se tem a minha bagagem em termos de percursos efectuados existe sempre a necessidade de ser criativo na hora de desenhar novas aventuras, para evitar a monotonia, o facilitismo e a repetição. Desta vez não seria excepção, com a agravante de ter de o fazer bastante em cima da hora. Contudo, lembrei-me de uma ideia engraçada, um trocadilho em que tinha matutado há uns tempos e que seria perfeito para esta ocasião.

Ao meu anúncio de que tinha decidido fazer um dia de FuraDouro não faltaram reacções de surpresa. Na verdade o trocadilho residia aqui mesmo: Não seria um dia para ir “ao” Furadouro, mas sim para fazer FuraDouro. Que é como quem diz, andar aos saltinhos entre as margens do Douro, a modos que “furando” o rio. Dentro do novo intervalo quilométrico que tinha estipulado e encontrando o Douro em Entre-os-Rios, desenhei uma rota que utilizava todas as travessias cicláveis existentes daí até à cidade de Peso da Régua. A saber: Barragem de Carrapatelo (Cinfães), Ponte de Mosteirô (Porto Antigo), Ponte da Ermida (Resende) e Ponte Metálica da Régua (Peso da Régua).

Apesar de já conhecer praticamente a totalidade do percurso, cada visita ao Douro é sempre uma redescoberta, onde saltam à vista novos detalhes e pormenores. Desta vez, contudo, motivou-me particularmente este objectivo interessante das travessias e isso é meio caminho andado para me aguçar o entusiasmo para sair a pedalar.

A escolha do sentido das travessias foi, em grande medida, influenciada pela rota de regresso. Como não queria voltar a subir por Capela ou Sobretâmega quando voltasse para casa (opções que tinha utilizado em voltas mais recentes) optei pela subida de Abragão o que me permitiu dar uma dinâmica interessante ao percurso. Introduzi assim no menu do dia a longa subida ao Alto de Quintela por Mesão Frio. Como gosto destes desafios de montanha, e olhando às inúmeras escaladas que me esperavam, fiquei particularmente satisfeito com a qualidade do rabisco no que a esse particular diz respeito.

Fechei o track no GPS já passava das três da manhã! Duas horas de sono normalmente bastam para repor os meus níveis de energia e assim foi. Às cinco já estava a preparar o pequeno almoço e pouco depois pedalava pela deserta cidade de Valongo.

Saindo de casa, uma das formas mais interessantes de chegar ao Rio Douro é, sem dúvida, subindo a Serra da Boneca, via Capela. Desta vez, a neblina e a luz matinal criaram uma atmosfera extremamente relaxada e agradável que me envolveu ao longo dos 12Km deste aquecimento inclinado. Esta é uma subida que nunca me canso de fazer e portanto é um excelente catalizador para as jornadas que por aí começam.

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A descida do lado oposto da serra é rápida e em menos de nada tinha o Tâmega e o Douro a meus pés. A travessia inaugural da série "FuraDouro" não seria feita aqui em Entre-os-Rios, mas sim mais à frente em Carrapatelo. Portanto atravessei o Tâmega para a margem de Alpendurada, acompanhando depois o Douro para montante na famosa N108.

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Primeiros dez quilómetros até Alpendurada predominantemente a subir, seguidos de uma pequena descida antes de mais 8km a subir até Penha Longa. O bloco de subida mais a sério começa com o troço até São Lourenço do Douro, que oferece a primeira grande panorâmica do rio e é sempre motivo de registo fotográfico. Aqui sou ultrapassado por alguns companheiros que pedalam céleres em direcção a Cinfães. Acompanho-os à vista na subida, até que paro mais à frente em Veiga, na pastelaria do costume, para um café matutino.

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Terminada a subida, em Penha Longa, embalo logo nos 8km de descida que se seguem, baixando 350 metros até lá ao fundo, para junto do rio. E aqui estava o primeiro momento FuraDouro do dia: Barragem de Carrapatelo, no atravessamento da margem Norte para a margem Sul. Terminada em 1972 encurtou bastante a viagem entre o Marco de Canavezes e Cinfães sendo que anteriormente era necessário atravessar o rio vários quilómetros a montante ou a jusante, em Porto Antigo ou Entre-os-Rios, respectivamente.

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A hora de passagem na barragem foi perfeita já que cheguei mesmo a tempo de assistir ao sempre fascinante ciclo de utilização da eclusa de navegação. O poço da eclusa enchia-se lentamente para permitir a travessia de um barco a navegar para montante, carregado de turistas alemães. Fico por ali a tirar umas fotografias, esperando alguns minutos até que o barco esteja na posição perfeita para um último registo, antes de ambos seguirmos viagem.

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A única verdadeira novidade neste percurso surgia agora, sob a forma da subida até à N222, que percorre a encosta mais acima. Ascensão relativamente modesta, de apenas 4Km, mas que rapidamente me faz acumular mais 250m de subida, oferecendo em troca uma bonita panorâmica sobre um troço mais indómito do rio, pouco ou nada alterado pela modelação de caudal provocada pelas barragens à sua volta.

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Lá no alto, a meia encosta do Montemuro, iria então encontrar a N222. Um pouco mais à frente cruzo-me com os companheiros que tinham passado por mim antes e que já regressavam de Cinfães. Uns acenos e umas palavras curtas em movimento foi o que deu para interagir, antes de seguimos viagem, pedalando em direcções opostas.

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Depois de um troço de cariz mais descendente, os três quilómetros seguintes até à cidade seriam feitos sempre a subir, numa pendente macia e que não causou grande desgaste. A N222 permite umas vistas desafogadas sobre o vale do rio Douro e com essa distracção rapidamente estou em cima do paralelo que anuncia a chegada a Cinfães.

A descida de Pias oferece duas vistas sempre inesquecíveis: Por um lado uma belíssima panorâmica da bacia de Pala e Porto Antigo, com a majestosa ponte do caminho de ferro como ex-libris. Por outro o enigmático vale do Rio Bestança, porta de entrada para o esmagador mundo montanhoso da Serra de Montemuro. Divido-me entre largar os travões e aproveitar a descida, ou abrandar e contemplar o cenário...

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Pouco depois estava em novo "FuraDouro", desta feita na Ponte de Mosteirô, em Porto Antigo, passando agora da margem Sul novamente para a margem Norte. Esta travessia é consequência da Barragem de Carrapatelo e é uma reconstrução/modernização da ponte original, sendo esta nova versão da autoria de Edgar Cardoso, o que aliás justifica o seu aspecto intemporal e bastante elegante.

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Pedalo vagarosamente pela margem, contemplando novamente o majestoso e titânico confronto entre o Rio Douro e a Serra de Montemuro, esse imponente gigante que domina a paisagem.

Detenho-me pouco depois de Pala, num muro à berma da estrada. Surripiado ao stock que o filhote nunca consumiu, devoro um lanche em forma de boião, improvável alimentação para um ciclista de longa distância. A cada colherada, uma mirada a um dos meus recantos favoritos do Douro. A tranquilidade é contagiante e fico ali uns bons minutos, absorvido pelo cenário.

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Infelizmente a pressão turística já se faz sentir por estes lados. Quando o poder local não resiste à hipnotizante receita das taxas e licenças camarárias surgem aberrações como o enorme caixote branco do Douro Royal Valley Hotel & SPA que agora está empoleirado na encosta, absolutamente impossível de ignorar, tal a forma deselegante como se destaca dos arredores. Coragem houvesse e a cor das paredes exteriores certamente seria outra, mais respeitadora do agradável contexto cénico do rio.

Terminado o lanche, sigo viagem para outra subida espraiada mas já algo exigente. A partir daqui a estrada sobe durante 11 km até à Portela do Gove. O traçado leva a N108 a afastar-se bastante do Rio, encavalitando-se e escondendo-se nos montes em redor. Por causa disso, a meio do caminho a vista oferecida sobre a bacia de Pala/Porto Antigo é ainda mais fantástica e rouba-me novamente alguns minutos de contemplação.

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Pedalando sempre com tranquilidade, porque o dia é longo e ainda há muito para ver e calcorrear, chego ao final da subida. A partir daqui seria sempre a descer até à ponte da Ermida, penúltima travessia do dia. Bonitos miradouros populam nesta parte do percurso. Infelizmente estão completamente ao abandono, sinal do total desrespeito para com a louvável intenção de quem os mandou construir naqueles locais, esperançado que as pessoas fizessem das viagens de automóvel algo mais do que um mero exercício de condução de A até B. Num desses miradouros, repito a fotografia tirada há 5 anos, ainda com a BMC, e que mostra o verdejante vale do Douro com a Ponte da Ermida já à vista.

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Esta ponte é a travessia mais jovem da minha jornada e uma das mais recentes do Rio Douro. Construída em 1998, revolucionou a ligação rodoviária à cidade de Resende e poupou milhares de quilómetros anuais aos habitantes locais que anteriormente tinham de cruzar o rio na Régua ou em Porto Antigo. Fruto da sua geração, a envolvente em termos de obra não é particularmente fascinante. Domina o habitual cinzentismo pragmático das obras públicas da época. A juntar a isso, talvez por força da regulamentação previdente actual, o gradeamento metálico foi recentemente pintado de amarelo torrado ao invés da cor branca original, apalhaçando bastante a ponte.

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A vista que se pode contemplar da ponte não é de todo aconselhável a pessoas com vertigens já que esta é de longe a travessia mais alta do dia, com o tabuleiro implantado 80 metros acima do nível das águas do Douro. Lá em baixo, a linha de comboio e a estação da Ermida parecem miniaturas saídas de uma loja de brinquedos. Dou por mim a garantir que todos os objectos que trago estão devidamente seguros e a salvo. Incluindo os óculos, que recolhem ao bolso do jersey. Só por segurança...

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Para alcançar novamente a N222, mais uma curta mas inclinada subida. Daí para a frente 15km de rompe-pernas, com meia dúzia de subidas enganadoras. A paisagem é agora dominada pela Serra das Meadas que suporta a estrada e, do outro lado do vale do Douro, a brutal e esmagadora imponência da Serra do Marão. Vencida esta secção, estava na altura de descansar as pernas e o corpo na descida, aproveitando para contemplar a forma como algum património arquitectónico está a ser recuperado e bem integrado na envolvente.

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duchene

Well-Known Member
FuraDouro, esse delicioso trocadilho! (Parte 2)
11 de Julho de 2015 // 238Km // 4050m AC+

A última travessia foi também a mais carregada de história: Cruzei a lindíssima Ponte Metálica da Régua, antiga travessia rodoviária construída em 1872 e reabilitada em 2012, convertendo-se então em travessia pedonal e de velocípedes. Esta ponte é ladeada pela também histórica Ponte Ferroviária da Régua, obra construída para o projecto da linha de Lamego, ramal que nunca chegou a ser terminado. Como nunca entrou ao serviço do caminho de ferro, acabou por ser aproveitada para o tráfego automóvel, condenando ao encerramento e ao abandono a Ponte Metálica.

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O centro da cidade da Régua está completamente virado para o turismo e, por isso não vislumbrei nenhum local prático ou sossegado que me cativasse para parar. Atravessei a cidade e segui viagem pela N108, tendo o rio sempre como permanente companhia, nesta que foi a parte mais rolante de todo o percurso. A título de curiosidade é neste troço, mesmo à saída de Caldas de Moledo, que se encontra o marco quilométrico dos 108Km da estrada nacional número 108.

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Aproximava-se a dificuldade seguinte do meu menu, aquela que seria a grande subida do dia. Os 12Km que escalam a Serra da Aboboreira sob o olhar atento do Gigante Marão não são macios e convém respeitar a serra, para não acabar à conversa com o homem da marreta!

Há uns 5 anos que não subia ao Alto de Quintela pela N101. Aliás, a única vez que usei esta rota para subir foi numa das primeiras voltas longas da BMC (Valongo > Entre-os-Rios > Mesão Frio > Amarante > Valongo) e desde então ou passava por ali a descer ou usava a via alternativa de Teixeira para a subida. Por isso, subi-la desta vez foi quase que uma redescoberta. E nesta altura do dia o sol alto, praticamente vertical, anunciava que o calor implacável poderia ser mais desgastante do que a inclinação e a distância ainda em falta.

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A subida começa timidamente, logo após a passagem de nível nos arredores da estação de Rede. Aqui, a inclinação suave ainda permite contemplar devidamente a maravilhosa paisagem mas rapidamente a situação iria mudar... Inesperadamente, a subida encrespa-se violentamente numa primeira série de cotovelos, para depois suavizar momentaneamente como se nada fosse.

Nesta altura, ciente do esforço que ainda se seguiria e precisar de almoçar, acabei por fazer uso do que tinha no saco e por me sentar à sombra perto de Gafaria, mirando o cenário naquele que é um dos mais bonitos postais ilustrados do Rio Douro. O olhar espreguiça-se pelos socalcos, pelo rio, pelo casario típico e segue o caminho de ferro em direcção ao infinito...

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Com um punhado de ameixas compradas à beira da estrada, uma salada de atum com feijão fradinho e um famoso donut espanhol retemperei as forças e ganhei ânimo para as hostilidades que se seguiriam. Logo ali, à entrada na N101, a subida volta a erguer-se convictamente à medida que contraria a íngreme encosta. Seguem-se depois mais dois quilómetros trabalhosos até chegar a Mesão Frio... E o calor a apertar... muito!

Passando Mesão Frio, uma pequena plataforma na encosta permite descansar da inclinação, antes da travessia para a o bloco mais longo da subida. O início desta segunda parte da ascensão poderá parecer demasiado assustadora, com a estrada a contorcer-se num par de cotovelos bem inclinados, logo à saída da ponte sobre o Rio Teixeira. Mas rapidamente a rebeldia acalma e a pendente passa a valores normais para uma estrada nacional de montanha, oscilando suavemente entre os 6 e os 10% na meia dúzia de quilómetros que ainda restam até ao alto.

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O primeiro terço desta parte da subida é feito numa agradável sombra que me poupa ao implacável sol de Verão. Quando deixo de contar com essa benesse a temperatura sobe rapidamente e fixa-se novamente bem acima dos 30 graus, exigindo toda a ventilação e hidratação possível. O corpo acusa o desgaste, não gosta muito da brincadeira e tenho de moderar o esforço para evitar males maiores.

Finalmente, o casario de Quintela anuncia que a subida está praticamente a terminar e que as pernas poderão ter o merecido descanso. Miro o vale que fica para trás e saboreio a paisagem conquistada. O mais difícil estava feito, agora era "só" chegar até casa.

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Depois de uma pequena descida chego ao largo do fontanário. Onde sempre há bancas de fruta, desta vez havia também umas dezenas de motos clássicas, em animada confraternização. Como se preparavam para tomar o mesmo caminho do que eu, em direcção a Baião, optei por deixá-las seguir viagem primeiro, poupando-me assim a ser envolvido no intoxicante fumo dos motores a dois tempos, multiplicado por muitos.

Livre da ameaça gasosa continuo então viagem, aproveitando a longa descida até Baião para recuperar algumas energias e alongar a musculatura. Faço uma pequena paragem à entrada da cidade para lanchar e ganhar ânimo para os últimos quilómetros de subida na Serra da Aboboreira.

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Atingida a cota mais alta da estrada, segue-se a descida para o Marco de Canaveses. O percurso oferece uma perspectiva extremamente ampla dos arredores, com os grandes maciços vizinhos como pano de fundo. Fortemente ajudado pela gravidade, embalo por ali abaixo e aproveito para recuperar algum tempo nas contas do dia.

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Como sempre, a passagem pelo centro de Marco de Canaveses não traz consigo história ou interesse. Exige, contudo, alguma atenção na longa secção de paralelo que é necessário atravessar, já que "o cubo" é revestimento incontestado das ruas nesta parte da cidade.

Rapidamente me desenvencilho da cidade e da N210, fazendo a viragem à direita, de encontro ao rio Tâmega. A segunda passagem do dia sobre o rio marcava também o início da clássica subida de Abragão, rebuçado final deste percurso mas que, por si só, já é uma das subidas inolvidáveis aqui do meu quintal.

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Uma subida de 8km quando já se tem 200 a moer nas pernas é sempre para se encarar com respeito e eventualmente com apreensão, mas acabei por ultrapassa-la de forma menos dramática do que seria de esperar. Nesta fase importa sobretudo manter o foco e ir pedalando num ritmo despachado mas o mais económico possível. O final do percurso está logo ali, mas já levo comigo muitas horas de estrada e o corpo precisa de compreensão. Aqui manda mais a cabeça do que propriamente as pernas... Assim, entre exercícios mentais diversos e matemática prática da pedalada, fui tentando manter-me distraído.

Uma última mirada e fotografia à paisagem, uma curva fechada para a direita e pouco depois estava no topo. Daqui para a frente não haveria motivos de grande interesse fotográfico e acabam-se os registos, em favor de uma conclusão de jornada mais célere. Ajudado pela descida até aos arredores de Penafiel e daí até à entrada de Paredes, rapidamente me coloco no último bloco do percurso.

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De Paredes até casa há sempre uma misteriosa reserva de energia que é chamada a contribuir nas despesas do dia. Por mais quilómetros que tenha nas pernas, dou comigo a fazer estes últimos 20Km com redobrado ânimo. A subida até Baltar, drama de outros tempos, fica rapidamente para trás e depois é só embalar pelo Carreiro abaixo, com os devidos cuidados para não ser atraiçoado pelo cansaço, agora que estou tão perto do final. Mais meia dúzia de pedaladas para ultrapassar uns pequenos topos à entrada da cidade e estou de regresso ao ponto de partida. Que dia!

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Os dias longos de Verão proporcionam condições para boas aventuras e este não foi excepção. Uma belíssima jornada de passeata pelas bonitas paisagens do Douro, configurada neste delicioso trocadilho: FuraDouro.

O Verão ainda vai alto, e os planos são mais do que muitos. Por isso, havendo possibilidade, lá estarei eu a pedalar por novas estradas desertas e fascinantes.

Até à próxima!
 

SantosDaCasa

Well-Known Member
Um percurso fantástico salpicado com pequenas preciosidades históricas e fotografias de uma beleza intemporal.
Na minha humilde opinião, um dos melhores trabalhos de "reportagem" do Sr. André.
Os meus parabéns e agradecimentos pelo conteúdo! :)
 

vhugocosta

Well-Known Member
Eu só te dou boas ideias...e falando de boas ideias, olha lá, é preciso oferecer te um mapa? Quando regressar vou ver se passo por uma dessas feiras de velharias e se encontrar uns mapas antigos compro para te oferecer. Sabes do que estou falar, não sabes?

Quanto ás tuas voltas, é mais do mesmo (no bom sentido), começa a fazer me falta umas voltas dessas, embora agora (apesar de inserido num contexto bem especial) vou ter oportunidade de ver umas coisitas novas..

Abraço e venham mais voltas dessas.
 

Skyforger

Active Member
Confesso que encurtei a hora de almoço para chegar 20 minutos mais cedo ao serviço e ter tempo para ler isto com a calma e a dedicação devida. Já pouco há a dizer, no bom sentido! Continua a brindar-nos com estas maravilhas! ;)

Mas já agora, dois apontamentos curiosos que fotografaste:

- Uma cabine telefónica - há dias, em Lisboa, precisei de encontrar uma cabine telefónica e não consegui...!
- Nutribén ? Eh pa....sempre a inovar e a surpreender...;)
 

Bruso

Well-Known Member
Mais um excelente, enorme relato do André. Parabéns.

As curiosidades e aqueles pedacinhos de história enriquecem e muito estes relatos.
 

Cláudia

New Member
Bem... Fantástico!
Tudo. As fotos com a belíssima paisagem do Douro, zona que adoro e que tenho tantas saudades.
O relato, magnífico. Envolve-nos com as suas palavras, parece que estamos lá a viver aqueles momentos.
Muitos parabéns é um excelente texto :)
 

Cláudia

New Member
- Uma cabine telefónica - há dias, em Lisboa, precisei de encontrar uma cabine telefónica e não consegui...!

Eu não sei se isto se passa no país todo, mas cá pelo Norte a PT andou a colocar cabines telefónicas novas em cada canto e esquina. Temos cabines para aí de 1 em 1km ;)
 
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