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[Arquivo] La vélo Duchene: As crónicas de André Carvalho

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duchene

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(E : Solo) Pedalar para longe: A primeira de 2014.
30 de Janeiro de 2014 // 181.5Km // 2780m AC+

E estamos de volta! Esta é a crónica do meu primeiro passeio de 2014, por estradas desertas e fascinantes. Espero que seja cativante...

Este ano tenho como objectivo a realização de algumas voltas a "pedalar para longe". Isto é como quem diz, passeios com quilometragem um pouco maior do que o habitual. Dentro desses passeios, incluem-se alguns dos Brevets Randonneurs Mondiaux a realizar por terras lusas: este ano queria fazer, pelo menos, os Brevets de 200km do Alto Minho e Douro Vinhateiro, bem como os 300km do Brevet pelo Baixo Minho e Terras de Barroso. Já conheço a esmagadora maioria das estradas por onde passam mas o conceito agrada-me e, portanto, por uma questão de desafio e superação pessoal, gostaria de experimentar. Além destes brevets tenho um pequeno projecto que já ando a adiar há tempo demais e que queria levar a efeito: uma travessia de dois dias algures no Norte do País. Entre uns desafios e outros, como é óbvio, conto manter as habituais e inusitadas voltas diferentes por estradas desertas e fascinantes...

No imediato o meu enfoque é nos brevets, tendo em conta que o primeiro, no Alto Minho, está apenas mês e meio de distância. Com as grandes distâncias surgem desafios por vezes desconhecidos. E, no mínimo, convém estar preparado para o que por aí vier. A minha dúvida nem seria tanto se conseguiria completar os 200Km, uma vez que esta é uma distância minimamente acessível a quem pedala com alguma regularidade e também porque já a completei um par de vezes. A minha ideia passava mais por fazer uma simulação no sentido de detectar a presença dos mecanismos necessários a completar com sucesso os 100Km extra que são necessários para completar os 300Km, distância sem dúvida já mais respeitável e que, ainda assim, não é mais do que o segundo degrau na respeitável escadaria dos randonneurs. Depois é sempre a subir até aos 1200km do Paris-Brest-Paris!

Numa altura em que a minha condição física se situa entre o baixo e o sofrível, cortesia das longas paragens ocorridas ao longo do ano passado e especialmente da última, em que estive mês e meio sem pedalar, não haveria melhor altura do que esta para fazer um pequeno teste empírico à minha capacidade de endurance, suportada essencialmente no aspecto mental. É a lógica da batata em acção: Se pedalo 180Km sem preparação, poderei estar apto a pedalar 300Km com alguma preparação prévia. Mas a lógica ás vezes falha, por isso vamos apalpando terreno a ver no que dá.

A ultima vez que pedalei 180 quilómetros foi há mais de 2 anos e, mesmo para encontrar voltas um pouco mais modestas, será necessário recuar até Julho de 2012 e aos 160km do PIF no Tua. Ou seja, há muito muito tempo que me deixava ficar pela zona de conforto dos 100/130Km, pese embora a redução de distância tenha sido devidamente compensada com o incremento proporcional na dureza nos perfis altimétricos.

Desta feita ia então inverter, de certa, forma as escalas. Pedalar mais distância mas reduzindo um pouco ao acumulado, preparando dessa forma o cenário normalmente encontrado nos Brevets em que, pelo facto de se utilizarem essencialmente estradas nacionais, os acumulados são um pouco mais macios do que aquilo a que estou habituado.

Precisava então de um percurso com um mínimo de exigência mas com variações de altimetria lineares, longe da agressividade das estradas secundárias de montanha. Ainda assim, não queria propriamente pedalar na N13 à beira mar...

Dadas as directrizes mestras, o percurso foi escolhido quase sem pensar, porque existe mesmo aqui ao lado um quintal magnifico para esta demanda. O passeio seria então uma espécie de réplica de um dos meus primeiros percursos longos por estradas desertas e fascinantes. Na altura fiz Valongo > Entre-os-Rios > Castelo de Paiva > Alvarenga > Ponte do Silêncio > Arouca > Mansores > Canelas > Freixo > Valongo. Desta vez, como já sou um pouco mais experiente a planear as rotas, o regresso de Arouca foi feito por Castelo de Paiva, evitando assim a desinteressante zona interior de Gaia.

O núcleo do passeio estava desde logo bem definido: Castelo de Paiva > Alvarenga via R225 e Arouca > Castelo de Paiva via R244. Faltavam as "pontas" e aí esbarro, como sempre, na habitual falta de opções interessantes entre Valongo e o Rio Douro. Para evitar repetir o percurso na ida e na vinda é preciso enfrentar sempre uns quilómetros de N108. Isto porque queria fazer o regresso a casa por Capela. Daí ter ficado desde logo excluída a passagem matinal por lá. Restava-me então optar pela rota do Freixo, Foz do Sousa ou Branzelo. A escolha acabou por recair na opção de Foz do Sousa e pela sua fascinante e abandonada central de captação de águas. Percurso feito, quilometragem confirmada, e desta vez não há carregamento para o GPS. Bem familiarizado que estava com o percurso e variantes, não precisava de mapa em tempo real... sempre se poupa bateria no GPS!

E porque foi totalmente pensado em torno dos BRM, este passeio (re)introduziu um paradigma que, em certos aspectos, é bastante diferente daquilo que tenho vindo a praticar ultimamente, mas que relembra um pouco as minhas primeiras jornadas épicas há um punhado de anos.

Por norma agora sou muito pouco científico nestas coisas das pedaladas. Pedalo para conhecer sítios bonitos, paro para fotografar quando me apetece, alimento-me com algo substancial quando surge um café com bom aspecto pelo caminho e vou viajando ao sabor da estrada. Mas esta fórmula não resulta tão bem quando começamos a pensar em números grandes. Sobretudo por uma questão de gestão do tempo. Aquelas 15 fotografias e respectivas paragens que se fazem nos primeiros 50 quilómetros, prolongam inevitavelmente as passeatas. Ao ponto de que sobram mais quilómetros do que tempo para os fazer...

Por isso, teria de certa forma que voltar uns anos atrás e ajustar a minha forma de gerir o tempo de outra forma, isto se tivesse em mente completar os desafios que enumerei mais acima. Pedalar para longe exige tempo, como já se percebeu. E pedalar para muito longe exige ainda mais tempo...

Dei então comigo a fazer um exercício que nunca faço nas voltas de descoberta mas que desta vez seria imprescindível: estabelecer e limitar previamente o número de paragens e os respectivos locais. Bem, em boa verdade não planeei o número total mas sim o número de paragens principais para alimentação, plano que seguiria à risca: uma paragem antes de Alvarenga, uma em Arouca para o almoço e uma última em Castelo de Paiva. São estas paragens que consomem mais tempo e que acabam por quebrar a métrica da pedalada. As paragens para fotografar, por seu lado, seriam apenas as necessárias para ficar com um pequeno filme da jornada e deveriam ser o mais curtas possível.

Esta forma de gerir é típica dos randonneurs e não será de todo a forma que vou adoptar em todas as voltas de futuro, devido sobretudo às restrições que aplica ao turismo fotográfico, mas quando se tratar de distancias mais a sério, faz todo o sentido gerir o tempo e o esforço desta forma quase científica.

Fazer este trabalho de casa traz reconhecidas vantagens, como seria de esperar. Conseguimos dividir os grandes desafios em pequenas parcelas (p. ex. troços entre grandes paragens), psicologicamente mais fáceis de digerir. E se a mente digere bem, as pernas vão logo atrás. Por outro lado, minimizam-se as surpresas e o factor de incerteza o que ajuda sempre à progressão com tranquilidade. Esta é também a organização que se adapta melhor ao meu estilo, algo lento, de pedalar.

É claro que muito disto é teorização de quem conta com uns modestos 220km montanhosos como melhor marca pessoal. Daí para a frente há muito desconhecido para desbravar e é minha intenção aprender muitas coisas novas nos próximos tempos.

Obviamente que apesar deste planeamento todo nunca estive perto sequer de me envolver numa forma obcecada de programar e cumprir planos a pedalar. O divertimento é parte fundamental da aventura e esta organização é apenas uma forma de garantir que os objectivos são cumpridos. Não ia para nenhuma corrida e esse espírito velocista não podia estar a mais anos luz daquilo que quero para o meu futuro enquanto ciclo-descobridor-pedalador-turista-whatever...

Ajustados os pressupostos chatos, havia era então que seguir a cabeça e cumprir com o plano, pedalando para longe!

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Este passeio foi programado para uma invulgar quinta-feira. Ora o emprego mundano que tenho não funciona por turnos nem tem folgas em dias de semana portanto, a única justificação para uma volta em dia útil, é o facto de ser programada assim por alguma razão. E a razão neste caso foi a convicção com que o Accuweather jurava a pés juntos que haveria um raríssimo dia de sol na zona de Castelo de Paiva e Arouca, regressando a chuva no Sábado, habitual dia de pedaladas.

Assim, confiante nessa previsão que normalmente é bastante fidedigna, marquei um dia de férias, convencido que me esquivaria ao permanente estado de dilúvio que nos tem assolado nos últimos meses. As coisas não correram propriamente como o esperado, e já conto porquê mais à frente nesta crónica...

Levantei-me bastante cedo, sem uma ideia concreta a que horas amanhecia para me fazer à estrada com segurança. Aproveitei para tomar o pequeno almoço reforçado com calma e para preparar os itens de última hora. Coloquei o GPS na rua a captar sinal e como o dia ainda não tinha raiado, ainda dei um salto ao fórum para partilhar a iminente aventura.

07h15 e a visibilidade já é aceitável para viajar em segurança. Arrancar de casa, embora ultimamente não tenha sido um hábito, é sempre agradável: deixa-me com o reconfortante pensamento de que, apesar dos últimos quilómetros custarem sempre mais por serem mais banais e aborrecidos, a jornada termina logo ali, no conforto de casa.

Foi portanto com o habitual sentimento de "vou ali e já volto" que encaixei o cleat direito no pedal e dei as primeiras pedaladas do dia. A manhã estava fresca sem estar gelada. Optei pelo kit de Outono, com jersey de manga curta e manguitos, que normalmente é mais do que suficiente para aceitar um pouco de frio nas primeiras horas do dia, em troca de um maior conforto quando a temperatura sobe, algures a meio da manhã. Pelo menos assim pensava eu...

Neste dia a velocidade média global de deslocação assumia especial importância porque é ela que define a que horas irei terminar. Única e exclusivamente por isso. Estabeleci como objectivo os 18Km/h de média global, garantido que chegava a casa daí a cerca de 10 horas, ainda com luz natural. Por outro lado sabia que era um número plausível em termos do meu andamento. As contas eram fáceis de fazer: bastava rolar de forma confortável no plano, descer sem arriscar nas poucas descidas do percurso e subir a um ritmo certo e pouco esforçado. Nas contas do deve e do haver, entre zonas bem mais rápidas e outras bem mais lentas, haveria certamente de me manter perto desse número.

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Cruzo um Valongo que ainda está meio letárgico. Pouco movimento nas ruas e a banda sonora é dada pela passarada que entretanto já andava numa lufa-lufa, aproveitando também a inesperada ausência de chuva. A pausa no semáforo de Oliveira Zina resulta logo na primeira fotografia do dia. Lá ao fundo, a Igreja Matriz da cidade esconde a subida de aquecimento. Sendo Ferreirinha o destino imediato, o aquecimento é feito logo a subir, ultrapassando uma das encostas da Serra de Santa Justa, em direcção a São Pedro da Cova. O céu está bem menos limpo do que seria de esperar pela tal previsão do Accuweather, mas vou acreditando que se trata de uma nebulosidade passageira e/ou localizada. A descida faz descer a temperatura a as pontas dos dedos queixam-se (com alguma razão) face à minha escolha de trazer umas finas luvas de algodão. Sempre fez parte da minha preferência para viajar pouco atulhado de roupa... mas tem os seus custos.

São Pedro da Cova rapidamente fica para trás, à medida que vou descendo para Ferreirinha. Os quilómetros seguintes são percorridos rapidamente e em pedalada ligeira, ao longo das margens do Rio Sousa. Perto do rio a temperatura baixa ainda mais e de forma significativa, como sempre acontece junto aos cursos de água. Não quero esforçar as articulações, por isso tento pedalar em rotação para ir mantendo o corpo quente e não estragar nada já no início.

Uma fotografia da Lynskey na Central da Foz do Sousa terá de ficar para uma outra altura mas não deixo, como sempre que lá passo, de admirar atentamente este belo exemplar de ruína industrial. A estrada nacional (que agora se designa de "regional") é já ali. Com ela surge o Rio Douro, que me iria acompanhar até Entre-os-Rios. A R108 não é particularmente interessante neste bloco mais civilizado: O trânsito é constante e a estrada em si não tem muitos atractivos. Escapa a vista da Barragem de Crestuma, o antigo complexo de processamento de minério das Minas do Pejão e um ou outro apontamento ao longo destes quilómetros até Broalhos.

Um desses apontamentos é a vista de Crestuma, Areia e Vessada lá do outro lado do rio que, envoltas numa névoa muito cinematográfica, justificaram plenamente a breve paragem para a segunda fotografia do dia.

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Feita o pequeno topo das Medas, passo por Branzelo e Melres em velocidade de cruzeiro. Não com a velocidade de outros tempos e voltas, mas com a desenvoltura necessária para esta jornada, aproveitando para tal o terreno mais nivelado. Para mim, esta estrada só tem verdadeiro interesse agora, já muito perto de Entre-os-Rios. O trânsito já é mais diminuto e a paisagem, dominada pela Serra da Boneca, melhora a cada quilómetro. Os 3Km da subida de Sebolido são o que mais se assemelha a uma subida por estes lados mas ainda assim são suaves o suficiente para manter a dinâmica antes da descida para Entre-os-Rios.

Algures por esta altura começo a sentir umas pingas de água na cara, rapidamente confirmadas pelas congéneres que aterram em cima do GPS. Balbucio uma série de impropérios e maldigo seriamente o Accuweather. Chuva... a sério?!?! Ainda acalento a esperança que seja algo temporário e que, atrás dos montes que servem de pedestal a Castelo de Paiva, a coisa melhore. Vã esperança mas a ela me agarro para não desanimar em demasia. A perspectiva de passar 8 horas ensopado não é muito agradável...

Tento esquecer concentrando-me na estrada. A vista melhora definitivamente. A encosta da Serra da Boneca empareda-se, a estrada serpenteia pelo contorno da serra e a berma precipita-se para o rio de uma altura considerável. Do lado oposto do rio, nas desertas e escarpadas margem, as raras casas lá plantadas sempre despertam o meu imaginário de refúgios e retiros para os anos dourados da minha terceira idade. Mais à frente são as muitas laranjeiras carregadas na berma da estrada, a convidar a uma pausa para reforço. Estivesse o dia mais acalorado e a paragem era certa! E é assim, entre contemplações e divagações, que rapidamente devoro este troço. Em menos de nada estou a cruzar a ponte para o outro lado...

Por este ou aquele motivo, nunca tinha parado no memorial às vítimas do acidente da ponte Hintze Ribeiro. Desta vez achei que valia uma paragem como forma de assinalar a passagem para a margem sul do Rio Douro. O monumento em si é de facto bastante evocativo e imponente. Infelizmente a porta de vidro que dá acesso à capela que fica por baixo da estátua estava completamente destruída e o interior não tinha nada bom aspecto...

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Sigo caminho pela R224 em direcção a Castelo de Paiva. Como era longa a volta que seria necessário fazer há uns anos para chegar da ponte até à vila! Para mim não é de todo um problema, porque é um troço que aprecio bastante. É, desde logo, a primeira subida longa do dia: são 6.5Km bastante interessantes e incrivelmente sossegados, especialmente os 4 quilómetros que precedem o acesso ao IC35 em Cruz da Agra e por onde desagua agora praticamente todo o tráfego que atravessa o rio. Os quilómetros seguintes ao cruzamento são bastante mais movimentados, com direito a alguma claustrofobia quando um par de camiões, a espaços, partilha comigo a modesta largura da sinuosa estrada.

Felizmente, dura apenas um par de quilómetros o aperto. Em Trelacosinha o terreno espraia-se e a estrada acompanha-o. Não chego a entrar em Castelo de Paiva. Um pouco antes, junto à adega cooperativa instalada às portas da cidade, corto para a mítica R225, entrando assim no troço nuclear deste passeio. A paisagem melhora a cada quilómetro e o Montemuro faz a sua grande aparição mostrando algumas das suas encostas viradas a Oeste. Rapidamente começo a descer em direcção à primeira travessia do dia sobre o Rio Paiva, que é também a penúltima existente a jusante, antes do rio se entregar definitivamente ao caudal do Douro.

Já há uns anos tinha dito que esta ponte de Travanca é como que um portal de entrada e saída para uma outra dimensão. Isto porque a passagem aqui implica certamente estar a entrar ou a sair de um núcleo de aventura muito especial e não é por isso de estranhar que esta ponte esteja marcada em muitas das minhas mais saborosas conquistas em bicicleta de estrada, em especial aquelas que envolveram a Serra de Montemuro e maluqueiras associadas.

Mercia por isso um pouco mais de consideração minha. Pelo menos uma fotografia. Mas nem isso. Hesito e quando quero agir já a inércia me tinha colocado apontado à subida para Travanca. O caminho é para a frente e a devida fotografia teria de ficar para uma próxima...

A R225 é estrada com o perfil perfeito para estas aventuras e em particular para a experiência de hoje: São mais de 30Km recheados com subidas longas e constantes, quebradas por pequenos planos ou descidas agradáveis. Não mata, nem tampouco mói. Apenas favorece a contemplação. E a paisagem é tão diversa como interessante, com o Montemuro de um lado e o vale do Rio Paiva do outro. Pelo meio, os pequenos algomerados de civilização introduzem novos contrastes. Por isso, a viagem nunca se torna monótona. O trânsito automóvel, esse, varia entre o muito escasso e o inexistente. Uma completa delícia!

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E falando de Rio Paiva, o dito é extremamente tímido por estas bandas. Além das três óbvias travessias por ponte rodoviária (Travanca, Espiunca e Alvarenga), contam-se pelos dedos de uma mão as vezes que se deixa mostrar ao longo dos próximos quilómetros até à derradeira travessia na mítica Ponte do Silêncio, a ponte romana de Alvarenga. É por isso quase um jogo do gato e do rato tentar encontrar por entre as manchas de arvoredo, as pequenas aberturas que permitem contemplar o acidentado rio, lá ao fundo do vale, serpenteando por entre os recortes da paisagem.O exercício é, portanto, ir pedalando até encontrar uma destas janelas para o rio. Pelo caminho aprecio os salpicos de civilização aqui e ali, que tentam encaixar pequenas hortas nas encostas algo agrestes. Aliás, e curiosamente, há um grande número de povoações que preferiu fixar-se um pouco mais acima na encosta, perto da cota dos 400m, onde o perfil suaviza ligeiramente.

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A chuva é companheira fiel destes quilómetros iniciais. Sem configurar um dilúvio, era homogénea o suficiente para, lentamente, se ir instalando nas peças de roupa exteriores. O kit de outono que trazia vestido obviamente não era impermeável e chuva foi-se entranhando nas peças, começando a chegar ao corpo. Sabia agora, garantidamente, que ia ter um resto de dia molhado, Mas quanto a isso nada havia a fazer. Restava esperar que as abertas que fossem existindo, aliadas ao vento na estrada, permitissem ir secando um pouco.

Continuo a desfiar quilómetros. A saída de Vila Viçosa, encontro o ponto de não retorno... Embora não seja de todo meu hábito, tinha definido este atalho caso algo não estivesse a correr como o previsto, nomeadamente a nível físico, e fosse necessário encurtar a volta. Mas as sensações estavam a ser tão positivas que nem por sombras me passava pela cabeça usar a alternativa reduzida. Foi por isso com bastante positivismo que ignorei as indicações para Espiunca. Tomada que estava a decisão, os 180Km seriam pois uma agradável inevitabilidade!

Alcanço, pouco depois, a primeira paragem longa que tinha programado, em Vila Chã. Regressava a uma padaria que conhecia de outras andanças, mais concretamente de quando andava a validar de carro o percurso do primeiro PIF*U do forumciclismo. Por esta altura já estava devidamente ensopado... Sabia que iria encontrar aqui um bom aconchego para o estômago e eventualmente algum calor para quebrar o desconforto. Um chá preto bem quente e um pão com chouriço foi a invulgar parelha escolhida para o meu lanche do meio da manhã. Não tive a sorte de apanhar a salamandra acesa, por isso não tive grandes possibilidades de secar ou aquecer. Mas como planeado não demorei mais do que o tempo necessário para lanchar, sem alarvice. Por isso, poucos minutos depois de entrar, estava de volta à estrada molhada e ao plano de continuar a pedalar para longe.

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Este bloco de Vila Chã, Vista Alegre e Nespereira configura um aglomerado de pequenos lugares que se encaixam na entretanto suavizada encosta Sudoeste do Montemuro. O minifundio agrícola substitui a mancha florestal e a paisagem recebe diferentes e bem-vindos ingredientes.

À saída de Pereira inicia-se mais um belíssimo núcleo florestal que me irá acompanhar até Alvarenga e depois praticamente até Arouca. A estrada é fantástica, completamente deserta e, nas raras oportunidades em que os eucaliptos permitem, a vista sobre os recortes orográficos do rio Paiva é magnífica. Já passei por cá uma boa dezena de vezes, e qualquer que seja o sentido ou a altura do ano, não deixa de ser um daqueles bocadinhos de estrada que mais gosto. O piso mantém-se brilhante e a presença da chuva é constante. Mas, aparte dos pés molhados e agora algo frios, até convivo pacificamente com a restante indumentária ensopada. Não é a situação ideal, mas sendo a que existe, mais vale manter o positivismo e relativizar a coisa.

Eis que alcanço Alvarenga, "a Princesa do Paiva" como as gentes daqui carinhosamente lhe chamam. Mas para mim o apelo da povoação é mais terreno... Tento por isso não pensar muito nos suculentos bifes característicos da região, nacos que insistem em ser maiores do que as travessas onde são servidos, nem nas invulgares batatas fritas que sempre os acompanham. Tal manjar não seria o reforço alimentar mais indicado a meio de uma empreitada destas e, mais a mais, tal demanda gastronómica exige uma degustação cuidada e demorada. Porque o tempo desta feita era um bem escasso e precioso, meter os pés debaixo da mesa teria de ficar para uma próxima oportunidade numa incursão de faca e garfo com pés e cabeça.

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Liberto da tentação do bife, a saída de Alvarenga é feita por Miudal que, tal como nos quilómetros em volta, conserva interessantes exemplos de moradias de época. Sem terem a opulência de outras construídas, por exemplo, no Douro Vinhateiro, não deixam de ter um encanto especial e seriam certamente, refúgios perfeitos para fugir à agitação da cidade. Mais uma localização para a lista da minha reforma...

A estrada sobe agora muito ligeiramente, uma derradeira vez, antes da descida para o Rio Paiva, que começa já ali à frente. Abordo o plano descendente em ritmo moderado, antecipando o grande momento do dia. A canópia florestal começa a desaparecer da berma e, de repente.... o esperado êxtase! Fazendo facilmente inveja a muitas outras paisagens mais conceituadas, o complexo vale principal do rio Paiva surge agora completamente visível à minha frente, numa paisagem que sempre me deixa eufórico. Mais ainda porque se trata do "final" do asfalto. Para sul não há mais ligações até Ponte de Telhe, quase uma dezena de quilómetros depois. E sem ligações, também escasseiam as povoações. Por isso, daqui até à Senhora da Mó em Arouca, tudo o que a vista alcança são espectaculares e intrincadas colinas verdes entrecruzadas...

Toda esta mancha verde está completamente isolada e configura mais um dos interessantes núcleos florestais desta região. Pena que o eucalipto domine a paisagem, pois tenho a certeza que há 50 anos a visão seria ainda mais inacreditável, enriquecida pelo colorido invernal de uma floresta autóctone.

Desço mais devagar do que se fosse a subir, absorvendo o máximo possível de informação sensorial do espectáculo que me rodeia. Descia eu entretido com a paisagem lá a frente que quase não reparava na enorme mancha irrequieta que de repente tomou de assalto a estrada: Um grande rebanho de cabras cumpria a sua rotina, indiferente à via asfaltada que invadiam, provocando um imprevisto e inusitado bloqueio ao trânsito da altura que, bem se entenda, se resumia a mim... Nada que apoquente. Aliás foi uma óptima e curiosa oportunidade fotográfica!

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Passado o momento National Geographic, deixo-me levar pela gravidade ao longo do serpenteado da estrada, e aproximo-me cada vez mais do fundo do vale. Desta vez paro um pouco antes da ponte e fico ali a contemplar uma outra perspectiva do rio. Pouco depois, com praticamente 90km cumpridos, atravesso a da Ponte do Silêncio. O nome foi o Zé Almeida que o deu há uns anos, mas a Ponte Romana de Alvarenga faz pleno jus a esse epíteto. A sua magnífica tranquilidade, o contraste entre o vale espraiado de um lado e os cachões rochosos do outro... tudo nos leva a apreciar com calma a sua magnífica envolvente. E que melhor referencial para marcar o início da segunda parte da aventura, o regresso a casa?

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A subida que se segue à travessia era o grande rebuçado do dia. Sao 7Km simpáticos, com grau de dificuldade aceitável. Só a completei por este lado uma única vez, na tal primeira volta de longa distância. Na restante meia dúzia de vezes que subi esta encosta sempre vinha de Canelas, subida que é igualmente divertida, mas que só alcança a estrada principal mais acima. A primeira parte logo após a ponte é a mais complicada. Mas menos do que a visão da subida enquanto descemos para a ponte, na outra encosta, possa fazer parecer. Ainda assim é um osso para ser roído com calma. E era essa a estratégia do dia.

Sem ter certamente sido a subida mais rápida que já fiz ali, foi certamente uma das consistentes e agradáveis. O trânsito era nulo, a chuva deu uma trégua e a paisagem continuava deliciosa. Se a rampa inicial me levou para longe do vale do Paiva, depois de um valente cotovelo e mais umas curvas, sou trazido para a zona VIP, uma varanda sobre o lado oposto do vale e que é um regalo para a vista. Aliás a subida é quase toda feita a olhar para a esquerda! Revejo o encaixe dos povoados de Mealha e Gamarão de Baixo, onde passei há uns tempos em caminho para o lado lunar da Serra da Freita. O Centro de Interpretação Geológica de Canelas marca a entrada no último terço da subida. Pelo caminho a pendente quebra um pouco durante uma centena de metros, para depois voltar a estabilizar nos 6 ou 7% de média.

Esta é uma típica estrada balancé. Depois de conquistado o ponto mais alto, logo após o corte para Castelo de Paiva por Ladroeira, passamos sem grandes cerimónias para a descida. Simples e eficaz! A descida para Arouca foi então rápida, já com o pensamento fixo no almoço. Só me desconcentrei um pouco com a magnífica visão do caldeirão de Arouca, sempre bem escudado pela imponente Serra da Freita que desta feita era apenas parcialmente visível, cortesia do muito nevoeiro que por essa altura a envolvia.

À entrada na malha urbana o pensamento passou de novo para matérias mais terrenas, nomeadamente, para umas fantásticas merendas rústicas que a Confeitaria Rainha costuma ter. E digo que costuma porque desta vez... nicles! Quando cheguei ao local já se tinham esfumado! Em dia de semana, e ao contrário do que acontece ao Sábado quando normalmente lá vou, estas pequenas delícias esgotam bastante cedo. Acho que mais desencantado do que eu ficou o funcionário da confeitaria quando lhe disse que vinha do Porto de propósito e que já há uns quilómetros que pedalava motivado e focado na perspectiva de rapar o dito pastel. Mas prontamente se contornou a situação com um lanche misto, um compal e claro uma sopa!

A sopa é o alimento oficial de quem pedala longas distâncias e esse rótulo tem uma grande razão de ser. O caldo configura uma refeição muito completa em termos nutricionais, hidrata, é fácil de digerir e, sobretudo, ajuda a desenjoar da comida processada e embalada que normalmente trazemos nos bolsos do jersey. Para evitar ser corrido ao pontapé numa próxima visita, acabei por almoçar de pé, poupando as cadeiras às minhas costas e calções completamente ensopados e com terra à mistura. Noblesse oblige...

Reconfortado o estômago, estava na altura de seguir viagem. Todo o centro de Arouca é uma longa avenida de paralelo (pavé na gíria ciclista) que exige particular atenção nestes dias molhados. Mas ultrapasso-o sem problemas alguns e em menos de nada estou apontado ao troço seguinte: a agradável ligação entre Arouca e castelo de Paiva, via R224.

Há uns bons tempos que não fazia a viagem de bicicleta neste sentido. E decididamente não consigo decidir de qual das abordagens gosto mais. A paisagem é mais fechada e misteriosa do lado de Arouca, por oposição ao vale mais espraiado à saída de Castelo de Paiva. Mas tanto de um lado como de outro a pendente é constante e agradável, a estrada é deserta e certamente se enquadra na categoria de fascinante.

Deste lado de Arouca as encostas obrigaram a algum esforço de engenharia para fazer avançar o alcatrão. Há taludes que foram geometricamente recortados na rocha por alturas da construção mas que a natureza já há muito reclamou de volta. As curvas são mais apertadas e nos quilómetros iniciais a luz que vence as encostas e os densos eucaliptos é escassa.

Mais acima e porque nesta altura estaremos em mudança de ciclo produtivo na silvicultura, sucedem-se as encostas peladas, cortados e recolhidos que estão os eucaliptos. Este momento traz mais luz e uma dupla satisfação: Por um lado o monte vê-se livre dessa praga parasita, ainda que por pouco tempo, por outro permite que o olhar alcance novos horizontes, até então escondidos pela mancha florestal. Desta forma revelam-se alguns vales que nunca tinha visto na totalidade e que fazem parte desta outra enorme mancha florestal que se encaixa entre Gaia, Castelo de Paiva e Arouca. E aqui, mesmo nas barbas do Porto e de Gaia, uma pequena povoação chamada Paraíso tem toda a razão de existir... mas isso são atributos de outras aventuras!

A longo da estrada é possível encontrar, embora em estado de total abandono, as pequenas edificações que em tempos serviram de arrumos ao material da Junta Autónoma de Estradas. Nos tempos em que as vias eram um bem precioso e que era necessário manter em perfeito estado de conservação. Ironia das ironias, são agora essas estruturas de apoio que precisavam de uma boa conservação. Nada que entaipar a porta e uma pintura a branco não fizesse, podendo até ser criados interessantes painéis informativos na fachada. Mas pelos vistos nos dias que correm a formatação do progresso não permite tais devaneios...

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Entretido que estava, surpreende-me a chegada ao corte para Oliveira do Arda, que marca o final do bloco principal da subida. Haverá um pequeno topo um pouco mais à frente, para os arredores de Real, mas nada de incomodativo.

A estrada foi asfaltada há um par de anos e comparativamente ao tapete antigo, a melhoria é significativa. Lembro-me de fazer longos quilómetros em contramão em direcção a Castelo de Paiva porque o piso na minha faixa era absolutamente impraticável a uma velocidade digna. Agora melhorou mas, ainda assim, existe uma irritante ondulação transversal que chateia o ciclista, até a mim que costumo ser bastante imune a estas coisas do mau estado do pavimento.

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A meio da descida, o corte de cabelo aos eucaliptos revela mais uma surpresa. A barragem de Seixo está agora perfeitamente visível a partir da estrada e é o motivo perfeito para mais uma série de fotografias. Aproveito depois o embalo da descida até Real e daí até à cidade é um saltinho de coelho.

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Ultima paragem longa em Castelo de Paiva, mais por estar no plano do necessariamente por fome. Dando asas à rebeldia desregrada, comi um pacote de batatas fritas e bebi uma coca-cola na churrasqueira de sempre. Podia até ter ido para a fêvera no pão do costume, mas ficou para outro dia. Tal como das outras vezes a paragem foi curta e em menos de nada estava de volta à estrada.

Os 6Km e picos feitos a subir, de manhã, foram agora rapidamente percorridos em sentido inverso. A chuva tinha parado há um par de horas mas no lado poente havia uma mancha escura no céu que insistia em seguir-me desde Arouca. Achei por bem tentar despachar-me, receoso de uma molha que me enregelasse depois na descida de Capela.

Assim a talega foi chamada a contribuir e entre embalos fui aproveitando para alongar o esqueleto, não fosse a subida que se avizinhava fazer mossa. Nova travessia da Hintze Ribeiro e com rapidez se cumpriu o troço plano até aos arredores da ponte de Torrão. O último rebuçado do dia começa aqui: trata-se da longa subida de 10km necessária para ultrapassar a Serra da Boneca.

Potencialmente esta seria a subida mais complicada em termos físicos, uma vez que a encarava já com 140Km e 2000 e poucos metros de acumulado nas pernas. Mas estava confiante que a gestão mental seria mais importante do que a condicionante física, portanto tratei de encontrar algo para distrair a mente.

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Na primeira fase da subida, que é feita pela N106, não convém pensar em nada a não ser na nossa própria segurança. Esta é, de longe, uma das estradas mais perigosas da região, onde o excesso de velocidade é a norma e os atropelamentos quase não são notícia de tão frequentes. É muito complicado evitar este pequeno troço, por isso há mesmo que o fazer, embora rodeado de cautelas. Assim que entro na N316 o cenário muda completamente e a estrada já permite baixar um pouco a guarda, deixando a cabeça divagar para outros lados.

A subida foi então feita a pensar em coisas técnicas essenciais nos próximos tempos, tais como a melhor forma de fixar o módulo de baterias da luz frontal ao avanço ou como prender uma mala de selim a um Tune Speedneedle. A distracção mental é tão importante que mal dei pela subida. E é este um dos grandes segredos de pedalar para longe: manter a cabeça bem ocupada!

Pelo caminho cruzei-me com um outro companheiro que abastecia no fontanário por ali existente. Alcançou-me pouco depois e ainda seguimos umas centenas de metros a par mas, claramente, os objectivos dele seriam outros, e acabou por seguir a um ritmo mais elevado. Eu mantive-me fiel ao meu ritmo regular dividindo, como sempre, a subida em 3 grandes blocos mentais que foram conquistados com maior rapidez e menos drama do que aquilo que eu esperava.

A descida de Capela é sempre proveitosa no final de uma grande volta, porque permite estabilizar, hidratar, alimentar e recuperar algumas energias para as subiditas finais do percurso. Desta vez, e tanto quanto me lembro seria uma estreia, parei para tirar uma fotografia! O espaço escolhido foi o bonito complexo de moinhos do Museu da Broa, em Capela. O intenso caudal do Ribeiro da Trunqueira não engana quanto aos efeitos do dilúvio quase permanente das ultimas semanas. Estivessem ainda em actividade e os moinhos teriam energia na mó para dar e vender!

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Esta seria a última paragem antes do final, sendo que a partir daí restava somente um pequeno bloco de 30Km para cumprir. Sobreira, Recarei, Terronhas e Gandra sucederam-se sem grandes novidades. Esta parte normalmente já é feita em modo automático e serve essencialmente para fazer um primeiro balanço das conquistas do dia.

Desta vez, o final da volta foi um pouco diferente do habitual. Como era dia de semana, ao invés de seguir por Campo até Valongo, em Gandra variei o menu e dei um salto até Sobrado, terra de bons ciclistas, para então daí rumar até Valongo. Desta forma evitava alguma da confusão da hora de ponta nas estradas mais movimentadas do concelho.

Últimos quilómetros em ritmo de descompressão e, dentro do horário planeado, estava de regresso a casa. Precisamente 10 horas e 7 minutos depois de ter saído. Cansado e ensopado mas, acima de tudo, felicíssimo! O balanço do dia não podia ser mais positivo: cumpri o objectivo na íntegra, pedalei com prazer por estradas que me são muito especiais e regressei sem qualquer tipo de problema. A gestão planeada do dia e sobretudo a ginástica mental deram frutos e permitiram que o dia fosse passado sem dramas de maior.

E agora, à distância de alguns dias, posso também confirmar que a sinergia com a Lynskey é cada vez mais perfeita. Sem ser uma bicicleta de touring, a geometria específica para longas distâncias faz-se notar na forma delicada como tratou o meu sistema musculo-esquelético. No próprio dia, aparte do desgaste normal de quem tem estado bastante mais tempo parado do que a andar de bicicleta, não cheguei a casa particularmente amassado. Dois dias depois, quando normalmente se sentem com mais intensidade e nitidez os efeitos do esforço (ou do empeno...), estava literalmente como novo!

Com tantas coisas boas num só dia, vamos a ver se este arranque é um bom pressagio para o resto do ano!

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E pronto, o que era para ser um pequeno relato acabou por se transformar crónica do costume: maçuda e propositadamente cheia de palavras caras... ;-)

Ainda assim, espero que tenha sido uma boa leitura de evasão nestes dias de chuva!

— per ardua ad astra —
 

Bruso

Well-Known Member
Bem e eu como leitor e comentador assíduo congratolome por ser o 1º a comentar!!

Segui as fotos que foste postando via-instagram e de facto estranhei o dia escolhido para a empreitada.

Quanto ao relato não há muito a dizer. Excelente escrita com todos os pormenores que interessam a quem pedala. Digno de um roteiro para cicloturistas.

Parabéns e espero que consigas cumprir os objetivos a que te propuseste para 2014.

PS: Tenho curiosidade nessa "engrenagem" que tens por baixo do selim?? o que é mesmo?
 
Caraças André... Eu até gostava de poder comentar algo em particular acerca do teu relato, mas seria injusto com as outras partes. Ficamos assim: Espetacular :D :D

Obrigado pelo tempo investido, amanhã vou ler de novo mas na tv senão até troco os olhos com o texto aqui no portátil!

Abraço
 

petrix

Well-Known Member
Como sempre muito bom. Eu tb fui um dos que acompanhou a tua volta via istagram ... grandes fotos, só foi pena realmente o tempo... (quase que te cruzavas com o Gamito, que tb andou por aí nesse dia a apanhar uma molha), parte dela (R224) já a fiz de bike e outra parte (Alvarenga) somente de 4 rodas. :(
Percurso muito bom para quem quer pedalar em paz e sossego, com boas estradas (excepto na R224 em que o piso tem alguns troços menos bons) e com paisagens lindíssimas.
Espero brevemente voltar para aquela zona, o track já está no GPS, falta só, o tempo ajudar. :cool:
Obrigado pela partilha.
Abraço.
 

Morg

Well-Known Member
Tal como tu gosto do sentimento "vou ali e já volto", mesmo que seja por umas boas horas.
Senti nas tuas palavras a mesma paixão que me faz andar horas sozinho por estradas desertas.
Era capaz de estar a ler o dia todo.

Parabéns!
 

duchene

Well-Known Member
Bruso
Como agora se percebe, fui enganadinho pela previsão e acabei por ter de pedalar à chuva. Acabou por reforçar o teste mas já não estou em idade para apanhar molhas a pedalar.

Quanto ao zingarelho, não é mais do que uma bolsa de selim à minha moda, contendo os essenciais pequenos acessórios de desempanagem.

Carlos
Obrigado. Vou tentando desenferujar a escrita à medida das aventuras que for fazendo.

Daniel
De nada. Só tenho pena não conseguir escrever mais rapidamente. Mas tem sido o entretenimento dos meus serões tardios, a ouvir a chuva a cair. Quanto à TV, és capaz de ganhar o prémio de crónica mais bem... projectada. :)

krazyball e petrix
A zona é, de facto, excelente para pedalar em sossego. O Tiago Machado, soube há dias, andou por lá no início do ano e o percurso foi bastante semelhante ao meu. O Gamito como dizes foi também sofrer para os lados do Montemuro. É a vantagem desta zona. Há de tudo um pouco, para toda a gente, do cicloturista ao profissional...

morg
Quando se faz o que se gosta, o tempo passa a voar.
Traz-nos lá uns relatos desse Alentejo não tão plano como se conta...

--

Boas pedaladas a todos!
 

jpacheco

Well-Known Member
ahahah... levei dois dias a ler. Ontem antes de dormir e hoje na pausa para o almoço. Não queria apressar porque estava a gostar da passeata que me estavas a fazer com a escrita da aventura.

Que consigas chegar à volta dos 300km... certamente que será necessário, como referes, outro rigor. Ou o dia não te chegará para o concretizar dessa jornada.

força nas canetas e obrigado pela excelente reportagem!! :p
 

Bruso

Well-Known Member
Gostei do pormenor dessa bolsa.Bastante discreta. Pelo que percebi foste tu que fizeste certo? Pelo tamanho não deves levar grande coisa lá dentro.

Para os 300km's vais colocar um bolsa maior? Há uns dias atrás colocaste o link de uma specialized que parecia enorme, é essa?
 

duchene

Well-Known Member
jpacheco
Fico contente que a leitura tenha sido agradável, apesar de longa. A força nas canetas não é muita, mas compenso no teclado, como se pode facilmente constatar! :D

Quanto aos 300Km, os brevets desta distância devem ser cumpridos num tempo limite de 20h, portanto um dia tem mesmo que chegar. Em Abril logo tiro a prova dos nove!


Bruso
A bolsa é uma coisa artesanal, sim. Um pedaço de nylon, meia dúzia de costuras e uma fita de pedais. Nada de muito complicado.

Consegue comportar facilmente 1 câmara de ar, cola e remendos, desmontas, multiferramenta com saca correntes, elos rápidos, luvas, braçadeiras plásticas, dinheiro extra, um cabo de mudança e um de travão.

Nunca precisei de nenhum destes items mas... eles andam lá!

Para os 300Km, em princípio irei usar uma Carradice Barley que está em trânsito lento para PT, fustigada pelas tempestades em Inglaterra.

Não me lembro de ter referido nenhuma Specialized. Deves ter feito confusão. ;)
 

Bruso

Well-Known Member
Então também te ajeitas à costura hehehe.

Bolsa ficou 5* e original!

"Carradice" até que é parecido a "Specialized" :cool:
 

Morg

Well-Known Member
jpacheco
Consegue comportar facilmente 1 câmara de ar, cola e remendos, desmontas, multiferramenta com saca correntes, elos rápidos, luvas, braçadeiras plásticas, dinheiro extra, um cabo de mudança e um de travão.

Eu sou bastante mais contido. Bomba, cola e remendos, desmontas e mini-ferramenta.
O saca correntes deixei de levar porque só me lembro de ter partido uma corrente e foi em BTT.
Os cabos nunca pensei em levar mas também só me lembro de partir um das mudanças e não foi de repente. Andei durante uma volta de 100km com as mudanças a desafinar :), quando cheguei a casa vi que o cabo se estava a desfiar.

Acho que devemos levar o que nos deixa tranquilos para não estarmos preocupados com o que nos pode acontecer a muitos kms de casa.
 

angel@

Member
Nada como um dia de temporal como o de ontem para aproveitar para ler estas crónicas. Uma narrativa cuidada e rica em detalhes, para ler e reler. Eu levo uma Barley no meu Brooks e acho que é o selim mais adequado para esse tipo de malas. No entanto aqui há dias recebi um email com uma proposta interessante de uma mala de selim para randonneur que tem a mesma capacidade da minha mala Carradice: http://www.bashocyclingclub.com/#!saddle-bag/c1ktk
 

duchene

Well-Known Member
pratoni
O Books não será para já essencialmente por dois motivos: O primeiro é o facto de ter os brevets à porta e de ser altamente contraproducente tentar quebrar um selim como o Brooks até lá. Aliás, o melhor conselho que li é o de que a quebra deve ser feita no último terço do ano, já com voltas consolidadas e muitos quilómetros nos ísquios para evitar males maiores. E depois porque o único modelo que colocaria na Lynskey é o Swallow, e não consigo encontrar consistência na durabilidade dos mesmos: Uns aguentam-se, outros ficam tão bambos que a pele toca no espigão, mesmo depois de esticado ao máximo. O butchering ainda não me convence, essencialmente por causa da forma dos rails dos outros selins brooks ser diferente de um swallow "verdadeiro".

De qualquer forma, estou disposto a arriscar até aos 300km no Speedneedle e daí para a frente decidir. Obviamente que não quero inventar a roda, mas também não sei se quero ser um super randonneur. Portanto a compra do Brooks é uma questão que, no final, poderá nem se colocar.

morg
Como vês, o que levo a mais não ocupa muito mais espaço. São coisas tão pequenas e simples que ficar apeado a 100km de casa por falta de uma delas seria uma enorme frustração. Como estão permanentemente na bolsa, nem dou por elas.

Obviamente que poderá falhar qualquer outra coisa que não uma das previstas, mas sinto-me melhor assegurando 30% das soluções do que 10%, por assim dizer.
 
boas duchene,

já comecei a ler, estou no trabalho e mais logo continuo.
o preambulo promete "Este ano tenho como objectivo a realização de algumas voltas a "pedalar para longe". Isto é como quem diz, passeios com quilometragem um pouco maior do que o habitual"

Também tenho objectivos parecidos e sonho com o PBP, mas antes terei que provar que consigo e fazer (ou não) a série completa. Neste momento tenho sérias dúvidas, fiz há pouco tempo 200k que me custaram muito e percebi que para estas andanças o treino tem que ser um pouco mais sério. Desanimei temporariamente mas já "cerrei" os dentes de novo, bora lá preparar-me para isto.
ler o que escreves é muito fixe pelas razões que já se disse e eu acrescento mais uma, planeias tudo ao milimetro e há muitas lições a retirar destas tuas crónicas, para um gajo desorganizado como eu e com pouca experiência de grandes andamentos é excelente. Para além disto ao ler as tuas crónicas só me dá vontade é de agarrar na bike e ir andar..... :)
um ab
 

duchene

Well-Known Member
Ângela, obrigado por me incluíres na tua leitura de temporal! :D

Já tinha visto a Bashô mal foi tornada pública pelo Daniel, mas olhando para ela percebi logo que tinha alguns problemas. O principal é a fixação aos carris do selim que é feita por uma fitas que apenas suportam a bolsa livremente, ao invés de a fixarem solidamente. O resultado já relatado pelo Daniel é o facto da bolsa oscilar bastante o que para mim é um contra decisivo. Tem margem para evoluir e penso que se recolherem o feedback correctamente, poderão ter ali uma solução muito interessante.

Naturalmente que a Barley casa bem com é o Brooks, mais não seja pelos olhais. No speedneedle será preciso um pouco mais de engenharia, mas já tenho aí umas ideias para criar uma das combinações mais invulgares de mala+selim dos últimos tempos...
 
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