O meu pior dia (até à data) em cima da bike
Bike Night Race
Já de forma mais calma posso fazer o relato daquele que foi o meu inferno nesta prova.
O entusiasmo era muito. A vontade também! Tinha, como sempre, preparado a prova de forma afincada, regular e empenhada. Tinha pensado na alimentação, com a qual tive bastante cuidado: hora e meia antes comi duas sandes com compota, uma banana e umas bolachas de aveia. Mesmo antes da partida, uma barra powerbar que me tem servido sempre bem antes de começar esforços mais intensos.
As 20:00 aproximavam-se rapidamente e fui para a linha de partida. Muita gente ocupava já o espaço. Estavam muito mais máquinas de estrada que o ano passado! era impossível saber quem ia formar o grupo da frente. Soou a partida e eu arranquei em direção à frente da corrida. Ia-me desviando do pessoal que ia ao seu ritmo e fiz a primeira curva a seguir à reta da meta. Senti a primeira rajada de vento. Ele estava lá, mas ainda era algo bem gerível. Continuei a puxar, pensando que se não chegasse ao grupo da frente, onde estava o meu objetivo, teria que chegar a um segundo ou terceiro grupo que se formasse. Especialmente atendendo ao vento que se estava a fazer sentir.
Acabei a primeira volta, começou a segunda... e desde logo me apercebi duas coisas: o vento só ia piorar (e bastante) e eu não conseguia acertar nas duas curvas a seguir a cada uma das maiores retas. A trajetória em si, não é fácil. Uma a 90º outra era um cotovelo. Mas tentasse que trajetória tentasse o vento empurrava-me sempre para a escapatória. Não estava fácil. Pior ainda ficou quando numa dessas curvas na terceira volta alarguei a trajetória para ultrapassar um companheiro. Não sei o que lhe aconteceu, mas só o via aproximar-se de mim, gritei para não alargar mais pois estava ao lado dele, mas acabámos por tocar ombro com ombro. Como não quis arriscar, tive que ir em frente e fui pela relva. Não caí, nem parei, mas o meu inferno começou aqui. Segui a volta e a seguir à reta da meta comecei a sentir uma câimbra no gémeo esquerdo. Nunca tinha tido uma a andar de bike. Mesmo depois de esforço, só uma vez. Tentei esticar a perna enquanto pedalava. Calcanhar para baixo quando podia, mas nada atenuava a dor. Continuei...
Essa volta foi infernal, mas o pior foi que no final da reta da meta apareceu uma câimbra no gémeo direito! Tentei fazer o mesmo, mas para esticar a perna direita tinha que manter a esquerda fletida mais tempo, o que piorava a situação. Cheguei ao fim dessa volta com a ideia de desistir. Os dois gémeos doíam... o objetivo estava longe... o vento piorava a cada minuto que passava... e chovia. se não era mesmo chuva era cacimba com muita quantidade. Bebi quase todo o meu primeiro bidon nessa altura com a esperança de que o isotónico e a hidratação ajudassem... mas nem por isso. Ia tentar mais uma volta.
Tinha que tentar tirar a minha cabeça das dores nas pernas e por isso ia passando por algum pessoal e perguntava horas, comentava, tentava criar um grupinho ao meu ritmo... mas não estava fácil. ou eram mais lentos e eu ainda queria fazer o maior número de km's possível, ou eu não chegava aos mais rápidos. Estávamos a chegar a meio da prova e o grupo da frente passou por mim a primeira vez. A minha frustração era grande, pois estávamos a meio e eu estava a ser dobrado pelo grupo onde queria andar. Acompanhei-os meia volta... a verdade é que ainda é, infelizmente, demais para mim.
Não sei precisar quando, pois as dores que sentia obrigavam a uma concentração maior, lá acabei por criar um grupinho com uma rapariga com equipamento do sporting tavira (blharg) e um outro senhor que rolava bem nas retas. Não era um grupo, mas andávamos os 3 ao mesmo tempo... nas curvas eles fugiam, nas subidas eu lá os apanhava. Mas o vento piorava, e as dores também. Mais uma volta e eu pensava em desistir...
Os meus tempos pioravam... não via no relógio, mas sentia-o... e a cada volta que passava eu via o paddock e pensava em encostar... mas não queria. Tentava dar o meu melhor. não faço ideia se estava a andar bem ou mal. Se passei alguém ou se muitos me passaram.
Devíamos estar com cerca de 1:45 de prova e senti uma mão nas costas. O companheiro Bernalve e o grupo da frente passavam por mim a segunda vez. Desta vez nem meia volta os acompanhei. Maior desilusão... e no meio desta ventosa e dolorosa tortura cheguei ao fim da prova.
Dados
Distância: 57.26 km
164 bpm médio (183 máx)
Velocidade média: 27.8 km/h (56.5 máx)
91 rpm média (131 máx)
https://www.strava.com/activities/707616212/overview