Há relativamente pouco tempo, lembro-me do nosso colega de fórum Lo Scalatore, de seu nome Fabrizio e de nacionalidade italiana, ter mencionado por aqui que ficou surpreendido pela forma como a Pinarello é vista em Portugal, encarada como uma marca de luxo, conotada como sendo daquelas que justificam os preços absurdos que custam, que confere um estatuto especial a quem as tem e estabelecidas como o ponto supremo de realização de qualquer ciclista que se preze! Disse ele, se bem me recordo, que a Pinarello em Itália é somente mais uma marca e que achou no mínimo cariuosa este culto e esta euforia que gira por cá em torno da marca, fazendo com que seja muito fácil capitalizar uma Pinarello que tenhamos em mãos. E a euforia e o deslumbramento é tanto, que nem o facto de toda a gente saber que a Pinarello é das marcas mais contrafeitas pelos chinocas e que quem anda com uma "original" pode sempre correr o risco de a ver confundida com uma "cópia" parece fazer esmorecer o entusiasmo. Há coisas que, confesso, são difíceis de compreender e ainda mais difíceis de explicar....talvez por nem sequer haver uma explicação lógica para as mesmas.
Por esta altura já deverão estar de garras afiadas para me rotular como um crítico da marca ou como um invejoso por não ter uma, mas devo dizer-vos que nem uma nem outra situação se aplica. Gosto da Pinarello, da sua história, das suas bicicletas, do seu carisma, da mesma forma que gosto de várias outras marcas tão ou mais interessantes. Reconheço inclusive que, de entre as chamadas marcas clássicas italianas, a Pinarello foi a que melhor soube acompanhar a evolução dos tempos e a passagem do aço para o alumínio e deste para o tão cobiçado carbono. E fê-lo melhor que a Colnago, que a Bianchi, que a Moser, que a Botecchia, que a Olympia, que a Battaglin, que a Cinelli, que a De Rosa, que a Fondriest, entre outras, apresentando bicicletas realmente apelativas e que cairam bem no goto do mercado que virou atenções para o carbono, para os materiais aero espaciais e para as teorias tão elaboradas quanto forçadas. E é aí que está o grande mérito e o grande trunfo da Pinarello, ou seja, o de ter conseguido dar o salto e conquistado um novo mercado e um público com outras exigências, tendo trabalhado tão bem o seu nome e o seu historial de forma a que se erguesse um culto à volta do mesmo. Se esse culto é justificável? Em parte sim, mas não pelas bicicletas pois essas, sou sincero, encontram facilmente concorrência em marcas bem mais acessíveis mas que, lá está, não conferem o tal estatuto a quem as compra e não envaidecem quem as passeia pelas estradas.