Acho que as ideias de que o João viajava acompanhado começam a entrar na esfera das teorias de conspiração.
Senão vejamos:
Cenário A
Ambos os X montanhistas estão desaparecidos. Só existe história do lado do João? Não há família do outro lado? Essa família não vê notícias, não chega à fala com ninguém do lado do João e nem as equipas de resgate sabem de nada?
Cenário B
A suposta companhia a dada altura despede-se do João e segue a sua vida. Despedem-se até nunca? Não trocam uma SMS a perguntar se continua a curtir a montanha, mensagem essa que ficaria sem resposta? E vendo as notícias do desaparecimento ninguém comunica que partilhou caminhada com ele? Não se fornece uma última localização? Pura e simplesmente cala-se bem calado?
Não me parece de todo plausível. Aliás ainda há dias um amigo do João referia em tom de brincadeira as secas que apanhavam quando ele fazia repetições das fotos, para garantir que saía exactamente como ele pretendia.
Quanto à foto do post acima basta pensar na mecânica da coisa. Quando carrega no botão da câmera e se activa o temporizador, não é obrigatório contorna-la e seguir em frente em direcção ao local de pose. Facilmente o nessa foto se sairia para a direita a correr, fazendo uma curva relativamente larga até aparecer de frente para a câmera e ligeiramente inclinado como na imagem. 10 segundos dão para muita coisa.
Por outro lado, e como o João usa um iphone, a fotografia poderia perfeitamente ter sido tirada com o tripé que se sabe que ele transportava, recorrendo simultaneamente a uma aplicação de intervalómetro. Da sequência de X fotos, escolheria a melhor. Simples e autónomo.
É exactamente assim como faço com as minhas fotografias e nunca me questionaram se de facto eu faço mesmo as minhas voltas a solo ou se levo companhia secreta...
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Pessoalmente acredito que infelizmente aconteceu, a certa altura da jornada, um acidente de montanha que tanto acontece ao João com 31 anos de idade e 5 de experiência de montanha, como poderia acontecer a um veterano do Evereste com 50 anos de idade e 31 de experiência em alta montanha. Excluindo os inúmeros factores de erro humano com igual resultado, uma derrocada ou outra alteração súbita das condições seriam, por exemplo, situações completamente fora do controlo do João e que o poderiam ter apanhado de surpresa. A altura do ano não é propícia e o terreno é o que as fotos e vídeos documentam. Tudo somado e temos condições complicadas, como aliás testemunharam depois as equipas de resgate, que enfrentaram enormes dificuldades, mesmo estando extremamente bem equipadas, com toda a tecnologia à disposição e com a benesse de um sono retemperador no final de cada dia de buscas.
A sequência de fotos e acontecimentos mostra, até certa altura, perfeitamente o caminho que ele tomou: desde Posada de Valdeon (carro), Collado Jermoso (foto de dia 2/11) passando por Peña Vieja (foto do bastão de caminhada e calções). Mesmo a foto das placas que indica Sotres, acredito que tenha sido tirada numa rota perto de Bulnes, seguindo o enfiamento Norte deste Peña Vieja. A nevão de quarta-feira ainda foi documentado nestas últimas fotos e a partir daí... nada.
Acredito também que ele não estivesse a fazer a totalidade do Anillo mas sim uma rota alternativa congeminada ao sabor da caminhada, deixando de parte o maciço Oriental. De terça (data do último post oficial) até sexta (data em que deveria ter regressado a Portugal) não sei se teria tempo de fazer todo o percurso. Daí o corte para Norte, e daí o esforço de buscas estar concentrado no maciço ocidental, onde poderia estar em rota de regresso a sul, ao carro, nos últimos 2 dias de caminhada.
Mas tudo isto são suposições que certamente terão sido abordadas e exploradas por todos os envolvidos nas buscas. De qualquer forma, e embora compreenda a onda de esperança que rodeia o caso, é minha opinião que o João não terá sobrevivido à montanha.
Espero porém que, pelo menos com o degelo em Abril ou Maio, surjam respostas mais concretas para apaziguar a angústia dos que estão mais próximos.