Não vou pronunciar-me radicalmente a favor ou contra as ciclovias. Entendo que como quase tudo na vida, têm vantagens e inconvenientes e essas vantagens e esses inconvenientes estão muito dependentes de um conjunto de circunstâncias de utilização que variam muito de caso para caso.
Naturalmente que pelotões muito numerosos, como acontece muito por exemplo entre a Ponte da Varela e a Torreira, inviabilizam completamente a utilização da ciclovia devido à falta de largura e à frequência simultânea de muitos caminhantes pedestres, incluindo crianças e idosos, nos dois sentidos. Mesmo grupos mais pequenos, de cinco, seis, sete ou oito ciclistas, correm riscos na sua segurança devido à quantidade de utilizadores e aos diferentes ritmos que utilizam, além de que a via é única para os dois sentidos. Ou seja, se a ciclovia naquele percurso nos dá inegavelmente segurança em relação aos automóveis, por outro lado concentra num espaço sem dimensão para tal um grande conjunto de utilizadores com formas de utilização do espaço muito heterogéneas, o que potencia o risco de acidente. É este o quadro habitual aos fins de semana, particularmente da parte da manhã.
Por outro lado e cingindo-me à mesma ciclovia, nos dias de semana e fora do período de Verão, a utilização baixa consideravelmente por parte de ciclistas e principalmente de pedestrianistas e nessa altura, com a excepção dos tais pelotões de muitos ciclistas, então parece-me francamente vantajosa a utilização da ciclovia pela protecção que nos dá em relação à circulação automóvel.
Pessoalmente, faço a minha opção ciclovia/estrada em cada momento e conforme as circunstâncias, mas também já me aconteceu ser interpelado por um carro-patrulha a intimar-me para passar para a ciclovia. Seria bom que os agentes de autoridade estivessem devidamente informados sobre as condições de segurança das ciclovias e fossem sensíveis ao bom senso, em vez da ordem cega para o cumprimento dos sinais de utilização obrigatória. Seria óptimo (e inteligente) que as ciclovias não fossem de utilização obrigatória, mas apenas de utilização aconselhada. Na minha perspectiva de utilizador frequente da bicicleta e às vezes de marchante a pé.
Outra aspecto relevante e que vemos frequentemente descurado é o estado de manutenção dos pavimentos e particularmente da sua limpeza. Nos casos que conheço melhor e concretamente nas ciclovias entre a Ponte da Varela e Estarreja e entre a Foz do Rio Mau e Paradela do Vouga, nos concelhos, respectivamente, da Murtosa e de Sever do Vouga, as respectivas autarquias tiveram o mérito de construir ciclovias com bons pisos e boas ou razoáveis delimitações e protecções laterais, mas esqueceram-se de que é absolutamente fundamental cuidar periodicamente da sua limpeza para que elas possam ser usadas. Tanto uma como outra, mais a murtoseira, encontram-se habitualmente num estado de sujidade lamentável e perigoso para os ciclistas. No caso desta última, o pavimento tem lá de tudo, folhas das árvores, pequenos ramos, areia (muita!), terras arrastadas pelas rodas dos tractores que as cruzam, pequenas pedras, silvas, fenos, dejectos de cavalo, vidros e plásticos de um qualquer acidente automóvel, enfim!... No caso da ciclovia severense é mais o problema das folhas das árvores que ali ficam depositadas meses a fio e que no Inverno e em dias de chuva transformam o piso em manteiga...
Vai longa a exposição. Ouvi ontem num telejornal que (finalmente!!!) parece que um governo se prepara para legislar no sentido da protecção rodoviária dos ciclistas. Aguardemos com a esperança de que saia algo feito por quem conhece a realidade da utilização da bicicleta e não apenas pelos burocratas dos gabinetes e que não se esqueçam também destes condicionalismos que envolvem a utilização das ciclovias...