Sem ter aqui acesso a algum link que confirme isto, li em algum lado que esta nova condenação da USADA ao Lance terá relacionada também com novos dados que não estão explícitos na acusação, e que se referem à prova que foi o Dr. Ferrari que acompanhou o Lance no seu regresso em 2009 e 2010, tal como no resto da sua carreira com a USP/Discovery. Ora, consultar este Dr. é já de si motivo para suspensão (banido desde 2002) e custa acreditar na inocência do Ferrari já que o homem, tal como o Fuentes, teve o desplante de defender o uso do EPO, isto numa entrevista ao L´Équipe circa 1994. Saber-se-á que o Lance o consultou porque o tipo também fugia aos impostos e estava há vários anos sobre vigilância e escuta pelas autoridades tributárias italianas. O Pozzato está já a ser inquirido com base em factos semelhantes (procurou o Dr. este ano e tranferiu-lhe €€€) e deve apanhar 6 meses.
Quanto à questão mais genérica, do Lance e do doping, há, de facto, muita, mas muita, prova circustancial contra ele. Mesmo não havendo controlos positivos, existe uma clara convicção geral que o homem e as suas equipas se doparam. Sabendo como nos EUA há sempre gente ambiciosa à procura de protagonismo, é difícil fugir à tentação do reconhecimento que implicaria apanhar um "mentiroso" e um "batoteiro" que enganou a grande nação durante tantos anos. Daí que o Lance dificilmente se verá livre destas acusações. Os acusadores têm sempre muito mais a ganhar que a perder.
Pessoalmente tenho sentimentos muito ambíguos em relação ao homem, parece-me óbvio que se dopou, mas parece-me igualmente óbvio que trabalhou imenso para isso e só ganhou porque tinha grande motor e principalmente um carácter muito competitivo e muito determinado. As consequências de uma possível condenação também são ambíguas, no curto prazo seria terrível para o desporto, no longo prazo, não sei, há uma pequena hipótese de se revelar benéfico. Do ponto de vista do que é justo, uma condenação seria justa para quem andava no pelotão desse tempo e não se dopou, ou para alguém que não seguiu uma carreira para se manter afastado destas coisas, mas seria justo dar a as vitórias p.ex ao Beloki? Se não, dava-se ao Rumsas?
Mesmo a dopagem é um assunto que podemos complicar do ponto de vista ético, pois se na nossa sociedade ele não tem grande discussão porque a vida é um valor absoluto, e o doping pode matar, se estivéssemos na Grécia Antiga, aí a glória tinha um valor absoluto (vide a escolha do Aquiles na Ilíada) e faria todo o sentido alguém trocar a vida por essa glória. De preferência morreria-se sobre a linha de meta.
Isto tudo para dizer que há sempre mais perguntas que respostas, e mesmo que não me choque nada que venha a ser condenado, irei sempre repeitar o LA até certo ponto.