Só para que fique registado no devido tópico,
As bicicletas com aquele charme clássico italiano, o
L’Eroica stile, ainda são apreciadas e procuradas em todo o mundo. Marcas históricas que nasceram das ideias e determinação de ex-ciclistas, que marcaram presença no ciclismo ao longo dos tempos.
Tubos de aço soldados e pintados à mão, embelezados com cromados, pantografados e acabamentos personalizados, que nos remete aos tempos das autênticas obras de arte sobre duas rodas. Aquele material antigo com o qual as bicicletas foram feitas há mais de cem anos e que continuam a dar alegrias e muita satisfação a muitos ciclistas, exactamente como acontece comigo.
Recriar uma bicicleta vintage requer uma lista de componentes de época. Peças mecânicas de tecnologia requintada, de criação italiana ou outra, estão entre as mais procuradas pelos entusiastas das clássicas fiéis aos modelos originais. Verdadeiras “máquinas” intemporais, cada uma delas com muito para contar, com pormenores que são pistas para encontrar a sua história. No entanto outros sobreviventes escondem bem os seus segredos.
Para substituir o danificado quadro da Tripas iNBiCLA, a minha intenção inicial era construir de raiz um quadro à minha medida com atributos Tourer/Randonneur. Por vicissitudes várias a soldadura dos tubos Reynolds não se completou, o que me obrigou a colocar o plano B em acção: encontrar um quadro de aço que simplesmente me enchesse o olho e as medidas corporais. Descobri um puro-sangue italiano de tubos Columbus bem longe de casa.
Sendo uma das marcas velocipédicas mais carismáticas, a Cicli Pinarello implementou muitas das novas ideias na construção manual dos seus quadros. Com geometria mais apropriada à corrida, que permitiu um historial vitorioso nas míticas estradas de França e Itália, este Columbus KL modelo Super Prestige é elegante e pede componentes clássicos a condizer. Tenho tudo aqui: Cinelli, Mavic, e um mix de genuína joalharia mecânica com aquele logotipo alado que deu asas ao ciclismo, a Campagnolo.
O quadro, que, no fundo, é a base de tudo, é uma tela em branco que possibilita juntar o gosto pessoal à inspiração do master das pinturas. É isso que aprecio no mundo das bicicletas customizadas, a originalidade que as faz fugir dos padrões que são impostos no catálogo. E para inspirar o verdadeiro artista, pedi-lhe um acabamento de catálogo, o efeito defumado do modelo da
TT Asolo Prólogo.
Com a sua perícia e criatividade, o meu amigo
Vitor Machado deu-lhe o seu toque especial. Para lá da mestria na pintura, da perfeição nos acabamentos, a ilusão pretendida foi conseguida com a chama de um maçarico. A escolha de um
lettering incandescente tornou esta bicicleta exclusiva ainda mais “especial”. Esta bina é uma brasa.
Para mim não há de todo uma regra a seguir na geometria de um quadro. Acho que, em grande parte, o acerto pretendido está mesmo nessa liberdade e criatividade em fazer algo diferente do que seria suposto. Neste ponto é natural que existam toda uma série de limitações, ao nível de roscas, espaçamentos, e pequenos pormenores que possam complicar um pouco a coisa. Nesse sentido, a aposta foi não só manter o formato original como adaptar o material existente, misturando conceitos dentro das possibilidades para se chegar ao resultado pretendido, uma espécie híbrida: uma “commuter” diária, uma “estradeira” para as voltas ao fim-de-semana e
uma “randonneur” para as longas distâncias, com a matéria prima herdada da defunta Tripas iNBiCLA, mesmo que não fosse garantido o conforto de uma endurance de gema.
Aprecio ver uma bicicleta recuperada e fiel à sua origem. Há quem dê mais valor à pintura original mesmo que exiba as cicatrizes do tempo, a “patina”. Também respeito quem desaprove quando se desvirtua um conceito. As bicicletas clássicas no seu estado original não deixam de evidenciar a sua história se porventura lhes for montado material contemporâneo. Não me choca ver a mistura do antigo com o moderno. O material vintage, original, em bom estado e de qualidade é caro. Isto tudo para dizer que, basicamente, não há fronteiras nem regras nisto das bicicletas antigas. O que manda mesmo é o gosto pessoal e a possibilidade de o pôr em prática.
Certamente que o metal tem o seu peso, mas desde quando as emoções são pesadas numa balança? Pedalar uma velha bicicleta de aço certamente nos fará redescobrir sabores e emoções antigas. Decididamente, os progressos notáveis da tecnologia nos agrada. Assim é em tudo na vida, o que poderá fazer pensar que uma moderna bicicleta de carbono, cheia de fibra, teve uma querida avó de aço, tão bela e fascinante…
Esta é a bamBina, uma Pinarello com o sabor do passado e que promete
satisfação por muitos e bons quilómetros.