Tenho ido a alguns passeios deste género, gosto sempre mesmo daqueles que practicamente não têm história, mas este foi sem dúvida um daqueles que, por várias razões, me vai ficar na lembrança. Primeiro, porque nunca tinha tido nenhum em que fosse feita uma benção religiosa aos participantes. Independentemente das crenças de cada um, achei uma cerimónia bonita e cheia de significado e que nos permitiu também recordar com todo o respeito a memória do Bruno Neves. Ele mereceu aqueles dois minutos. Em segundo, integrar um pelotão de duzentos e cinquenta e tal ciclistas todos vestidos com uma camisola igual também não é coisa vulgar. E foi bonito, porque o jersey ainda por cima está muito bem concebido. Depois, porque rolando a uma velocidade por vezes já considerável em estradas com alguma sinuosidade, não vi uma única queda. Depois, porque não conhecendo o trajecto a partir de Guimarães, não contava com uma subida tão prolongada como é a ascensão até ao Alto da Lameira, julgava que a coisa só empinava a partir de Mondim de Basto. É uma subida pouco pronunciada mas muito extensa. O Superbike refere 11 quilómetros e serão esses a subida principal, mas practicamente começa-se a subir a partir do centro de Guimarães e até ao Alto da Lameira são 22 quilómetros. Fui-me atrasando progressivamente em relação ao grosso da coluna ainda uns quilómetros antes do Alto da Lameira e do meio da subida para a frente fui progredindo em pequenos grupos de duas, três, quatro unidades, tendo parado ao cimo da subida por dois ou três minutos que me fizeram depois descer até perto de Mondim completamente isolado. Isso acabou por ser excelente, porque fazer aquelas curvas de piso excelente e seco sempre a abrir compensou largamente o que tinha custado a subir. Já imaginava antes o quão difícil iria ser para mim, que já vou somando uns anitos que se notam quando a coisa empina, subir até à Senhora da Graça. Ainda assim, porque a vontade era grande e porque, tendo imposto a mim próprio um ritmo lento na subida do Alto da Lameira, me sentia bem, admitia todos os cenários, até mesmo o de conseguir chegar lá acima, mesmo sendo o último. Não consegui. A partir de determinada altura, mesmo pedalando na velocidade mais leve, comecei a ser atacado por sucessivas caimbras nos músculos das coxas, primeiro na direita, depois na esquerda, ainda parei para retomar muito devagarinho, mas não dava para continuar, mesmo com toda a vontade que eu tinha. Esta é também uma das razões pelas quais não me vou esquecer mais do passeio de ontem, o facto de em muitos anos de pedaladas ter sido a primeira vez em que tive caimbras e isto diz tudo da dificuldade de uma subida que, para além dela própria, nos surge depois de cerca de 100 quilómetros nas pernas. Enfim, o meu carro-vassoura privado seguia-me e em vez de ser eu em cima da bicicleta, foi com a bicicleta em cima de mim que cheguei à Capela da Senhora da Graça no alto do Monte Farinha. E que paisagem!... Que deslumbramento!... Se lá tivesse chegado a pedalar, teria sido porventura o antepenúltimo dos cerca de 160 que, segundo me disse um dos membros da organização, concluiram o Memorial Bruno Neves. Resta-me a consolação de que terei sido um dos últimos a desistir, o que, considerando que era seguramente um dos três ou quatro mais velhos que partiram, me deixa plenamente satisfeito. Um dia em grande!