La Etapa de La Vuelta - 2012 - 1ª Edição (Relato, peço perdão aos amigos portugueses se não entenderem alguns termos que utilizamos aqui no Brasil, podem perguntar).
Vou começar pela entrega do kit, as 15:30 da sexta-feira(24) eu já estava a postos, e as 16h peguei o kit composto de meramente uma camisa de malha de algodão com os dizeres La Vuelta, nem menção a Etapa, os numerais e o chip. 600 inscritos. Conheci um Brasuca(chileno de nascimento) nessa hora, Guilhermo, ele e sua senhora, gente finíssima que mora em SP e já fez os Letapes de 2008/09/10/11 mais algumas outras. Então um cara bem experiente.
Dormi muito bem, sem ansiedade, acordei bem descansado as 6 e me vesti sem pressa, estava a 5 minutos a pé do local da largada. Tempo em torno de 16 graus, com um pequeno risco de chuva, fui so com a camisa normal e com uma capa de chuva para me manter aquecido. Chegando lá vi que ia esquentar e entreguei a capa de chuva pra muié. Primeiro erro, não levei meu corta vento. Ligo o garmin, e nada, o fdp não quer iniciar nem fudendo, fica so na tela do nome garmin, juro que seu fosse rico tinha jogado o fdp na pqp. Ainda bem que não o fiz, embora preferisse ser rico. ****-se, levei o celular mesmo, ligo o strava do celular, mas fico estressado tentando ligar o garmin.
(tentei conseguir o numero 24, mas não consegui)
Na largada dos 600 inscritos só aparecem 170, eu procuro desesperadamente os senhoreszinhos de 70 anos com suas bikes de aço que tanto ouvi falar dos Letapianos(pessoas que participaram do Letape da França, mas só vejo do meu lado nego de bike top e tudo FIT, isso la no fundão, imagina os caras la da frente. Com o stress do garmin acabei esquecendo de ir tietar o Indurain que tava la na frente, não sou macaco de auditório, mas gostaria de tirar uma foto com ele pra fazer inveja aos macacos(acho que isso me faz um tb, whatever).
Largou, um pelotão grande, que vai aos poucos esticando, forma-se um grande na frente, acho que uns 200 caras e fica um mais pra tras com uns 100, eu fico nesse de tras, pra não me empolgar demais e acabar pagando o preço depois. Até a primeira subida (que eu nem posso chamar de montanha comparando com o resto) é um sobe e desce o tempo o todo, mas que da pra ir confortavelmente embalado pelo pelotão. Aos 15,4km o Garmin ressuscita. O primeiro ponto de abastecimento é aos 39km(obs, fiz toda uma colinha na bike, que pra funcionar me obrigou a ficar fazendo conta), como era só de líquidos eu e o Guilhermo passamos direto, muita gente parou, aproveitamos para abrir um pouco e ir na boa.
Primeira subidinha Alto de La Cabrunana(CAT3) 5,3km a 5,2% sem solavancos, uma maravilha, subi quase toda em pé, acho que na casa dos 250w(Power Meter ficou em Fortaleza), os batimentos subiram legal, pra casa dos 90% do limiar, adorei essa subida, fui pegando vários carinhas, subi curtindo mesmo, foi a melhor parte da prova.
Ao começar a descer forma-se um pelotinho, de 4, e vamos pegando outros pelo caminho, média de uns 34km/h, ritmo bom, mas desnecessário, pelo menos pra mim. aos 70km, segundo abastecimento da prova, comida e líquidos, nesse parei para esperar o Guilhermo e irmos de boa. Comi pra caramba, já que não tomei café da manhã, mas que já estou acostumado, afinal jantei pra compensar isso. Em uns 3 minutos ele chega com um pelote grandinho, fomos embora, aos 90 teríamos a primeira dose das Asturias, San Lorenzo, uma montanha bem incomoda. Tive que refazer minhas contas novamente, pois o percurso original não incluía o trecho "controlado" da saída da cidade, ou seja, 7~8kms + os 15 que o garmin comeu + minha planilha, então San Lorenzo(Strava da HC pra ela) que de santo não tem nada é uma Bruta com 10km e falsos 8,3%, a ***** não baixa de 13% nem a pau, só baixa quando chega em dois planos que tem no km04 e outra no Km08, um refresco pra continuar na putaria de 13->16%->13->15 e assim vai, uma bosta que eu não curti nem um pouco. Ao chegar lá em cima, vi que o corta vento ia fazer falta, nada crucial tb, só que me dou melhor entre 25 e 40 graus do que nos 15 que estava fazendo no topo, passei um pouco de frio na descida mas nada demais, a medida que ia descendo ia tb ficando mais quente. Em baixo outro reabastecimento, relaxei bem, enchi a pança novamente, e fiquei esperando o Guilhermo. Depois de alguns minutos ele chega e fomos embora para a próxima, sempre subindo em falso plano.
No Km150 La Corbetoria(CAT1), 7,8km a 8,5%, embora com percentual pior que a anterior, era beeeeeeeeeeeeeeeeeem melhor, o tempo todo na casa dos 8 a 10%, sem muito picos chatos, mesmo já um pouco fadigado, consegui curti essa subida, na verdade nem to lembrando muito bem dela, o que significa que ela não me doeu tanto, rsrsrs. Depois da descida mais um abastecimento, nesse esperei um pouco mais o Guilhermo. Ele chegou cansado e me falou que não sabia se ia completar, e me falou pra ir embora que o vassourão ja vinha perto, me aperreei um pouco, e botei um ritmo marromeno e fui-me embora.
(a partir daqui não tirei mais muitas fotos, e no final o cell + gps 11 horas ligado foi pro saco, as fotos da chegada tão com o Guilhermo)
Puerto de Pajares(HC), 22km com 4,8%, é uma subida que da pra curtir bastante, desde que, você(ou eu), já não esteja com 165km nas costas e com uns ~4000m de desnível acumulados, ou seja, toda vez que a bicha dava 10% eu xingava tudo, 10% é algo que passo bem, mas com a fadiga qualquer coisa acima de 6% já me irritava bastante. No final dela, já vejo neguinho descendo, putz, to atrasado pra caraleo, ai mais gente descendo, pronto, fudeu, não vou nem terminar pelo jeito, me bastava um furinho no pneu pra entregar os pontos, já fazia tempo que tinha perdido a graça. Nesse interim, eu fico torcendo(pq não tenho pra quem rezar) que a ASO tenha desistido de utilizar os 3kms novos, recém asfaltado, que sera utilizado na Vuelta, pros amadores. Doce ilusão, triste decepção.
Cheguei ao final do Pajares, tapete cronometrado, e tome, os 3kms mais infernais da minha vida.
Os 22km viram 25, Autopista Ruta De La Plata Climb (a desgraçada ainda não tem nem nome), 3kms com 13,8%. hahaha, faz me rir, não baixa de 20% nem a pau, o garmim fica louco sem acreditar e varias vezes vi ele marcando 0%, quando tava no mínimo a 20%, e pela dor e força que eu fazia não era delírio. o tempo tinha fechado, cerração braba, acho que isso mexeu com o altímetro do Garmin, deixando-o loucão. A vagabunda só tem 2~3m de largura, nem fazer zigzag a rapariga deixa, resultado, um pouco alem da metade eu tento um zigzag, mas com a bike empinando de tudo que jeito acabei tomando uma queda e tenho que me segurar pra não rolar montanha abaixo, kkkkkkkkkkkkkkkkkk, um fotografo da organização, esta logo próximo e corre pra me ajudar, sem nenhum dano começo a empurrar a bike e vou conversando com o senhorzinho, e ele me conta o historico da desgraçada, ele me ajuda a empurrar a bike por uns 300m, e me ajuda a subir pra continuar pedalando, tenho muita sorte de não ter caimbras e esse tipo de coisa, tava fraco mas ainda com força pra continuar, a caminhada com sapatilha, no frio e na inclinação doía mais minhas costas do que minhas pernas pedalando. Ele me deu uma empurrada e fui, pedalei mais 700 metros, embicando a bike de tudo que era jeito, em pe, sentado, uma força desgraçada, eu chuto uns 400w ou mais pra subir aquela *****, ai quase caio denovo, mas consegui botar o pé no chão e me equilibrar, desci empurrei com muita dificuldade, por mais uns 80m, dificuldade pq era tão inclinado que com a sapatilha, mais umidade da cerração ficava escorregando, **** demais. Já pertinho da linha de chegada, acho que uns 50 metros deu uma aliviada e subi na bike, so para passar no ultimo tapete pedalando, 11h04min.
Opinião e impressão sobre esse tipo de prova(cicloesportive):
Nunca tive e continuo sem ter sonho de participar em provas desse tipo, não sonho com montanhas da França, Italia ou onde quer que seja, adoro o ciclismo, mas só faço o que me é conviniente e o que eu gosto(quando posso escolher).
Este ano a programação era ir para o Letape, estava inscrito para a Segunda etapa desde que abriram as inscrições, ia mais porque vários colegas também iam, então eu queria ir pela farra, não pela prova em si. Quando afunilou, todo mundo desistiu, so sobrando o Bruno(sevenbr), com os preços das passagens nas alturas e com a logistica bem mais complicada e sem o atrativo da farra, desisti, me desestimulei um pouco nos treino, passei quase 1 mes parado no mes de abril, e 2 semanas sem pegar na bike. Quando defini como seriam as ferias, novamente em Portugal, resolvi treinar para pelo menos não passar vergonha demais por lá. Diminui muito os treinos de subida e a neura toda de preparação pro Letape.
Nesse periodo fiquei procurando provas aqui na região, mas por mais incrivel que pareça não tinha nada em Portugal. Decidi fazer um simulado da etapa rainha da Volta de Portugal um dia antes dos prós e assisir a etapa do dia seguinte. Começo de julho achei por acaso La Etapa, e a data dava certinho com minha viagem, além de relativamente próximo aonde estou, 600km, numa data que daria para eu aproveitar o pedal em Coimbra, fazendo subidas ir e voltar com folga. Infelizement era na mesma data da Volta a Portugal, mas resolvi fazer La Etapa por se tratar de uma prova mesmo. Não me arrependo, a cidade de Gijon é muito bonita e deu pra fazer uma média legal com a Muié.
Acho que a pouca quantidade de inscritos, somando-se a grande quantidade de desistentes, deveu-se a alguns fatores como, pouca divulgação, percurso muito duro, final de férias europeias, muita gente já tinha feito os letapes/lamarmotte e outras cicloesportive da vida. O fato é que só tinha cara em preparado lá.
Gostei muito da organização, dos pontos de apoio, alguns com coca cola e isotônico quentes, mas bem distribuídos e staff muito simpático. Sanduíches de queijo com presunto, frutas secas com sal, um bolinho que não gostei, bananas, e na primeira parada um barrinha doce. Senti falta de energético, ou café, prevenido levei uns energéticos em shot que tem pra vender aqui, me dou muito bem com eles. Fui de camisa do Brasil, uma velhona que comprei em 2004ou 2005, o verde ta todo amarelado, não era zipper inteiro, 3/4, mas como tava clima ameno não precisou abrir tudo. Foi bom pq muito cara vinha falar comigo e talz, o Brasil continua na moda.
Como toda prova, o sofrimento depende do ritmo, já senti muita mais sensação de morte em prova de 25 minutos do que nesse tipo prova. Poderia ter terminado a prova com 1 hora de antecedencia, mas não era meu objetivo, meu objetivo era curtir e fui curtindo com os colegas, e terminar na meta de 10 a 12 horas. Subir, cada um sobe no seu ritmo. Agora, eu não participo mais de provas dessa distancia que tenham subidas com mais de 10% por muitos quilômetros, pro meu peso e meu nível de força e relação acho muito desgastante e não divertido, talves se eu estivesse com um pedivela triplo, 30x32(fui de 34x29), pra ir girando mais eu teria gostado mais. Mas a segunda montanha logo tirou todo o tesão meu da prova, as pernas incharam logo e o resto fica tudo mais dolorido. A terceira montanha que não era tão dura ficou prejudicada, e a terceira que mesmo longa daria pra ter curtido. Agora os últimos 3kms, esses sim, eram totalmente desnecessários. Para uma primeira La Etapa, acho eu que deveria ser algo menos duro. Meu colega brasuca afirmou que essa Etapa foi muito mais dura que todos os letapes que ele fez, 2008/09/10/11, e um outro colega triatleta afirmou também que foi muito mais duro que todos os ironman que ele ja tinha feito.
A prova custou 35 euros, não teve medalha de finisher nem nada, nem um tapinha nas costas lá em cima, já que na chegada final do cronometro só tinham uns 5 caras da organização num frio do cacete só esperando o resto chegar, tive que descer esses 3kms sem enxergar 20m na frente e batendo os dentes de tanto frio. E ainda tinha nego subindo. Nesse ponto mais embaixo era a estaçao de esqui de Pajares, la deixamos a bike com a organização e tinha um jantar com Paella, e umas coisas mais. Eu ainda teria que descer 22km para ir encontrar a muié, eu e o Ghilhermo, mas tava um frio desgraçado e ia ser um inferno, ja tinha arrumado um saco de lixo para vesti-lo. Mas conversando com o pessoal no jantar já estava mendigando uma carona pro pé da serra, *****, não contava com o frio que fez. Mas o pessoal da organização foi muito gente fina e nos levou pra baixo de carona, um dos dirigentes. O que ajudou foi que o Guilherme veio com o vassourão atrás dele por 25km, com a negada incentivando ele a não desistir, então ele já chegou la em cima famoso. Mandamos as mulheres irem pra lá as 17h, chegamos la em baixo as 21h, ja depois de tudo desmontado, quando a ambulância estacionou na frente do carro delas bateu o desespero, mas avisaram a elas que estavamos vivos e descendo de carona.
Pro meu gosto, esse tipo de prova com essa inclinação não farei nenhum esforço mais para ir, se o Letape for com essas inclinações eu to fora. A não ser que eu esteja na visinhança, e ai aproveito pra me fazer sofrer, pq ciclista é tudo otário mesmo e esquece rápido o sofrimento que passou. Com relação a treinamento, com meu treinamento regular(10 a 15h semanais) eu completo qualquer tipo de prova desse estilo, tenho boa resistência para longas distâncias, não tenho câimbras, não penso muito em desistir. Aprendi que não preciso ficar noiado em não perder treinos ou fazer 30 mil simulados e subir 10 vezes a mesma serra pra treinar pra esse tipo de prova. Claro, isso tudo sem ambições de ficar em colocações estupendas. Mas eu ainda prefiro muito mais esse tipo de desafio do que prova de retorno de 30~60min. O ambiente é de festa, o povo é muito simpático, todo mundo interessado em se divertir, que é o que importa na minha opinião, e eu me diverti, no começo pelomenos.
