A conquista do ....inho
Boas pessoal,
há muito tempo que não utilizo este espaço. Várias razões me levam para longe desta casa, mas sobretudo a falta de tempo. Depois vem a falta de tempo para pedalar. Fugi do Porto onde tinha tempo para pedalar todos os dias, e aqui no campo, existem muitas mais coisas boas para fazer, e constatamos que a vida afinal é muito mais do que a bicicleta. Mas sempre que posso lá vou eu descobrir as estradas da zonas, desertas e fascinantes, utilizando palavras do André.
Na minha “caderneta” ainda faltam alguns cromos, e um deles era o tal “...........inho”. Já andava na minha cabeça há algum tempo conquistá-lo, e caí na asneira em dizê-lo ao meu amigo de doidices, o Luís Cabaço. Ele lá se comprometeu a arranjar uma volta, tendo no meio o tal doce chamado “......inho”. Mas há sempre uma (ou muitas) surpresa nos percursos que este senhor inventa.
Eram 7,30 da manhã, do passado Domingo, quando eu, o Luís Cabaço, o Marco (um amigo lisboeta), e o Hugo (cara nova para mim, membro do grupo cicloturista PNSC). Logo a abrir as hostilidades começaram: 5 kms a subir. Fizemos a subida em amena cavaqueira o que fez com que não custasse muito. O andamento era baixo, porque o dia prometia ser duro... muito duro, aliado ao sol abrasador que se iria sentir. As subidas por estas bandas abundam, e de que maneira, e há algumas que consomem os músculos até à última fibra. O pior foi que essas subidas foram mais que muitas.
Umas pedaladas na chamada estrada do céu, a N112, e depois a longa descida do Colmeal, ajudaram os músculos a recuperarem, para a dolorosa subida que se seguia até ao alto Ceira. Entretanto bem lá no alto já se vislumbrava o objetivo da tirada, o “.......inho”. De longe até parecia fácil e isso reanimou-me e em bom andamento chegamos à base da subida.
No início até que nem foi muito difícil, mas rapidamente os meus andamentos (25x34) revelaram-se insuficientes.... sim porque a culpa nunca morre solteira
. Penso que a idade e a falta de treino não são determinantes, mas tenho que aceitar a dura realidade: “ Ó pah, não vês que o vigor e força dos 50 não é a mesma que tinhas quando eras “chavalo”?”
Pedalada ante pedalada lá fui subindo, muito lentamente. Os dois amigos de Lisboa fugiram serra acima e eu fiquei com o Luís. Não tenho vergonha em dizer que parei umas 3 vezes, sobretudo junto da eólicas, onde os 17% marcavam presença. Finalmente cheguei ao alto, junto da capela. Olhei para Oeste, e vi a imponente serra da estrela, para noroeste o caramulinho, para este o Trevim.
Onde estava eu? Sim, tinha conquistado mais um cromo e que cromo: O CULCURINHO. Esse era meu e ninguém mais o tira. Custou? Sim custou-me muuuuito. A subida nem por isso é muito longa, pelo menos pela vertente escolhida, mas a inclinação é muita e mais ou menos constante nos 12,5%.
Conquistado o cume agora bailava outro assunto na minha cabeça: Os 90 kms que restavam para chegar ao fim, sabendo que esses iam ser percorridos em percurso puramente montanhoso... mas eu não sabia o que me esperava. Veio depois a saborosa descida ao Piódão, e uma saborosa sopa. Apenas um aparte: Fiquei totalmente desiludido com o Piódão. Já lá tinha ido há muitos anos com um ambiente bem mais calmo, mas o turismo e as atividades anexas estragaram tudo. Não há locais igualmente bonitos em Portugal?
Agora tínhamos de subir o que descemos. O sol abrasava e secava a boca de tal maneira que toda a água que bebíamos parecia uma gota num incêndio. Lentamente chegamos ao topo e impusemos um ritmo interessante a meia encosta, mas o que é bom dura pouco e este foi mais um caso desses. Aquelas cruéis palavras “vira à esquerda” eram como uma sentença de morte. Começou logo o martírio. Com muita frequência o meu altimetro marcava 11, 12, 15%. A satisfação era que depois dum calvário vinha um descida, mas era satisfação de curta duração. Por serem inclinadas atingíamos velocidades elevadas e depressa chegávamos ao fundo sem sequer conseguirmos recuperar o fôlego da subida anterior. Fórnea, Covanca, em pleno Açor, Malhada do Rei, Unhais o Velho, foram aldeias que significam beleza e para um cicloturista muito esforço.
Finalmente chegamos ao final desta epopeia. Foi um dia com muito boa companhia, perdidos nas montanhas e serras da beira alta. Teve muita dureza, mas como diz o Luís Cabaço: "Poderia ter sido diferente, mas não seria a mesma coisa.” Chegamos satisfeitos em todos os aspetos, e com vontade de nos reunirmos novamente para mais uma odisseia.
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Dados da volta: 145 kms (162 para mim)
Acumulado +: 3245m
Tempo em andamento: 8 horas
Inclinação média: 4%
P.S: O único inconveniente, para mim, foi o de ter que carregar uma mochila, mas tenho que admitir que fez muito jeito, porque em todo o percurso apenas encontramos um sitio onde comer alguma coisa, no Piódão.