Pacheco + pratoni:
este passeio surgiu, como já surgiram muitos, num programa de fim-de-semana com a família. Como temos a herdeira a estudar em Coimbra fomos estar com ela e depois no regresso a casa, eu vim de bicicleta... há que aproveitar as oportunidades
Tal como diz o Armando, o que custa é recomeçar. Os "jogadouros ósseos" não estão lubrificados (não disse com ferrugem
), a força anímica também já não é a mesma, mas lentamente isto vai ao lugar.
Pois bem, Domingo lá embarquei em mais uma aventura que me deixou de rastos. Acredito que se tivesse acontecido há dois anos atrás, a coisa seria bem diferente, mas a falta de treino cobrou os seus dividendos.
Não tive a companhia do meu companheiro de loucuras, mas no Sábado à noite telefonei e perguntei-lhe: "Ò Luís... o percurso da praia fluvial do Pessegueiro é mais fácil de se fazer pelo lado... ou pelo lado...?" Resposta dele: "Zé aquilo tanto duma forma como de outra é de morrer..." Mas tentando que a minha consciência me deixasse em paz tentei pensar racionalmente: "Ora, pela geografia se eu começar o percurso de uma forma terei mais possibilidades de descer..." Enganei-me redondamente!!!
Bom, mas eram 7,45 da matina e saía de casa, para cumprir um percurso que eu já conhecia em parte, mas com dois setores que eu não sabia nada deles. Entrei na nacional 2 que me levaria até Alvares, aldeia que eu falei na última história que escrevi. Comecei a subir o que há uma semana tinha descido, mas a meia subida, virei para a direita, para entrar no 1º percurso que eu não conhecia... o tal da praia fluvial do pessegueiro.
Começou logo em ascenção. Mas eu teimava em pensar que aquilo ia "amainar" e que depressa iria começara descer até à Pampilhosa da Serra, que era o meu objectivo a meio do trajecto. Mas aquilo não dava tréguas. Para terem uma ideia, este troço é totalmente em carrossel, mas não os dos cavalinhos, mas sim uma montanha russa muito cheia de adrenalina. As descidas sempre na cada dos 10 -13%, depressa eram transpostas, motivado pela velocidade que atingia, mas logo a seguir uma parede com igual inclinação. Certa vez olhei para o meu VDO e marcava 15%, numa parede com cerca de 400m. Mas se fosse apenas duas ou três a coisa nem ia mal, o pior é que aquilo não parava.
Como se não bastasse a roda da frente começou a perder ar, por causa de um furo (foi bem feito, porque por preguiça não atestei o pneu que sabia estar com a pressão baixa). Câmara mudada, segui, com os meus pensamentos positivos: "pelo que já andei isto deve estar quase a acabar". Mas teimava em não acabar.
Finalmente alcancei a N112, que me iria agraciar com uma descida de 4kms até à Pampilhosa da Serra. Parei para retemperar as forças, e no café o dono meteu conversa e perguntou de onde vinha. Expliquei-lhe e ele com uma cara que nem vos conto perguntou-me: "Mas você veio pelo Pessegueiro?!! Aquilo até de carro custa de **$%&$#"()))&G%$!!!" Pois eu já estava por dentro da coisa.
Cambas era o novo objectivo. Nunca me cansarei de percorrer a N112, por é das estradas mais bonitas que conheço e com uma subida deliciosa. Passei por cima do Zêzere e no café perguntei: "Ò Amigo, eu quero ir para o Alto do Cavalo, mas por Amieira, e Urraca, é por ali?" "Sim, respondeu o homem... você vai sempre à borda do rio que vai encontrando as placas." Perguntei:" E sobe muito?" "Não! Só um bocadinho perto da Amieira, mas nada de especial!" Ou o homem não sabe o que é uma subida ou então o seu burro é obediente. A minha burra nas subida é mais teimosa que o dono.
Bom, mas com estas informações lá segui viagem, sempre ao lado do rio. Ia aproveitando para apreciar a paisagem e ver um cegonha negra, que nem me apercebi que a estrada estava a começar a inclinar. Ia inclinando, devagarinho sem dar tréguas, até que surge a primeira rampa de 10%. O homenzinho não percebe nada... Um bocado mais plano, e nova parede e assim foi durante uma boa dezena de kms. Finalmente, lá no alto, no meio do nada, deparo-me com um cruzamento sem indicações. E agora?? Olhei e vi um edifício e alguns carros, e mais proximamente ouvi vozes.
"desculpem. Eu quero ir para o Alto do Cavalo, é por onde?" Um deles disse que o ideal seria seguir até determinado ponto e depois apanhar um estradão em terra batida, porque senão teria que descer à ribeira e fazer o bocado restante até à nacional com rampas muito íngremes. O outro concordou mas disse que seria muito complicado para mim dar com o tal estradão. "Eu vou consigo! O sr. se for pela Amieira vai apanhar inclinações na ordem dos 20% durante muitas centenas de metros. Você devia usar um GPS!"
Ou o homem percebe disto ou então anda de bicicleta para falar daquela forma e tão confiante.
Foi simpático, mas obrigou-me a esforçar-me mais, serra acima, e assim acabar com o resto. Finalmente lá bem no alto, está ele parado, fora do carro à minha espera. explica-me tudo "tim-tim" por "tim-tim", e lá sigo eu à espera do estradão. Saltou-me logo à mente o inferno do Barroso, há uns 3 anos atrás, onde experimentei o sterratto e não me dei nada bem. Mas Domingo eu já ia demasiado esgotado para renunciar a este "rebuçado" que me iria livrar de mais subidas alucinantes.
Finalmente o alto do Cavalo. Até casa separavam-me 15 kms, na sua maioria em descida.
Tenho por hábito apelidar algumas das minhas voltas (rota da vaidade, ponte do silêncio, etc) e esta poderei chamar-lhe:a rota do diabo enfurecido.
Dados:
Kms percorridos: 115
Inclinação média +: 4%
Inclinação máxima: 15%
Acumulado +: 2300m
Média:
(mas afinal para que é que isso importa?
)
Mapa