[Nota prévia]
Como tenho andado a falhar muitas promessas ultimamente, e à boleia de uma das conquistas mais saborosas deste ano, achei por bem não procrastinar mais e regressar às minhas crónicas, deixando-vos com o relato ilustrado da minha recente ascensão até ao Vértice Geodésico da Serra de Montemuro, em bicicleta de estrada. Esta crónica ultrapassa um par de outras que deveriam já estar concluídas, mas acredito que esta possa ser também uma forma de as desbloquear em termos de escrita.
A ferrugem na prosa é mais do que muita! O que antes escrevia em 3 ou 4 horas, demora agora um pouco mais a ser digitado e mesmo a fluidez do relato carece de melhoria. Poderá também existir alguma pobreza de linguagem, aliada a eventual incoerência temporal/verbal ou de construção frásica, pontuada aqui e ali com um evidente excesso de vírgulas. Por tal peço, desde já, as minhas desculpas aos incautos leitores que se aventurarem ao longo dos quase 42.600 caracteres e 100 parágrafos que se seguem.
A escrita, tal como a arte de rodar os pedais, só melhora com a prática!
Dito isto, dois anos e meio depois, aqui fica o meu regresso às crónicas de aventuras por estradas desertas e fascinantes!
---
(E : Solo) Montemuro: onde a estrada acaba e uma ideia fixa começa... (Parte I)
Este era um objectivo em que já matutava há um par de anos. Recuando rapidamente até ao início da história, a minha relação com o Montemuro não começou da melhor forma. No início de 2011, no dia previsto para o primeiro ataque ao alto (diga-se, às Portas de Montemuro) um engano no mapa atirou-me para fora da subida prevista, pela vertente da Faifa. Desde esse dia, tal subida tem sido o meu unicórnio no Montemuro. Nunca mais a tentei desde aí, por razões que a própria razão desconhece.
Na visita seguinte ao maciço, as contas foram ajustadas em grande: subi-o logo por 3 vertentes diferentes e, desde então, voltei lá mais doze vezes, sempre a descobrir novos troços em cada uma dessas incursões, naquele que é o meu maciço montanhoso de eleição, de entre as dezenas que já tive o privilégio de escalar.
Aparte do projecto pessoal de subir todas as vertentes possíveis da Serra (desta e de mais algumas outras!) — demanda que estará agora cumprida a sensivelmente dois terços no caso concreto do Montemuro — existia ainda o objectivo maior que era o de levar uma bicicleta de estrada até à base do penedo granítico onde está implantado o vértice geodésico, a 1382m. Que é como quem diz, 200m acima da vulgar passagem no topo, pelas Portas de Montemuro e respectiva capela.
Tinha igualmente a convicção que, ao fazê-lo, tal conquista teria de ser o corolário de uma ascensão digna de registo, nomeadamente que estabelecesse a bitola de ser a maior a ascensão vertical (num só bloco) que já tivesse realizado no Montemuro. Este objectivo de atacar o cume foi sendo adiado ao longo do tempo mas, finalmente, por estes dias decidi que teria de o riscar definitivamente da coluna das "aventuras a fazer".
Assim sendo, e com estas premissas de grandeza em mente, debrucei-me sobre um mapa em branco e comecei a desenhar...
Desde logo uma alteração de fundo na minha forma de planear as rotas. Fiel companheiro de milhares de quilómetros, desenhados pelas estradas mais improváveis deste Norte português, o BikeRouteToaster (BRT) aparentemente entrou em negação com mais uma alteração da API do Google Maps. Já o mesmo tinha acontecido com a alteração para a API 2 mas em poucas semanas o problema tinha ficado resolvido. Desta feita, a prolongada ausência bem como a inexistência de resposta aos meus emails fizeram antever o pior...
Para mim o BRT era "a" forma de planear. Simples, prático, directo e extremamente preciso no cálculo dos acumulados de subida, característica que valorizo de sobremaneira quer para a definição do grau de exigência das voltas quer para a gestão anímica ao longo das mesmas.
Desta vez, e numa perspectiva de substituição temporária, estava entregue às mãos do RideWithGps e do seu algoritmo de altimetria absolutamente fantasioso. Da mão cheia de alternativas que experimentei nas últimas semanas, nenhuma foi capaz de igualar a precisão do BRT, realidade que aliás já estava à espera, pelas experiências que tenho feito ao longo dos tempos e que nunca me tinham convencido a mudar de mapeador de rotas. Aliás, nem igualar nem sequer ficar consistentemente perto, para que seja possível fazer um desconto fixo e chegar a valores plausíveis. Quedei-me, por isso, por aquele onde era mais agradável rabiscar, certo de que teria de calcular grosseiramente a altimetria à mão ou então andar a exportar e importar ficheiros...
Com o mapa em branco, decidi desde logo que ia mudar a "base logística" que habitualmente instalo em Cinfães, transferindo-a para as margens do Douro, em Pala. Isto permitiria-me ganhar logo à partida cerca de 350m de ascensão sem desperdiçar quilómetros a descer até ao nível do rio. Por outro lado, ficaria mais perto das encostas viradas a Resende, objecto de interesse adicional para esta aventura. Além do mais, nunca é de enjeitar a magnífica paisagem que nos é apresentada a partir da marginal do Rio Douro e que seria, certamente, um excelente tónico para um dia bem passado.
Definido o ponto de partida, seguia-se a tarefa de delinear a espinha dorsal desta aventura, ou seja, a subida principal do dia. Uma das rotas longas ao topo que ainda me faltava conhecer - e candidata agora a ser incluída na tal grande ascensão - era, curiosamente, a mais conhecida via de acesso às Portas de Montemuro. A R321 é, normalmente, a rota de eleição para todos os que querem tentar uma primeira subida até ao alto. Mas, se bem me conhecem, não raras vezes a rota "normal" é quase sempre a última que descubro, depois de vasculhar as encostas das montanhas em busca de alternativas menos conhecidas. O Montemuro não é excepção e, portanto, nunca o subi pela vertente Norte, utilizando a referida R231. E também não seria desta vez que o faria. A totalidade da "via larga" teria de ficar para uma incursão futura, esgotadas que estiverem outras hipóteses mais interessantes... o que poderá demorar algum tempo!
Há uns meses, ao vasculhar o mapa, descobri um par de troços que configuravam uma ascensão que ainda não tinha explorado, pelo vale Norte do Montemuro, na encosta Oeste, vertente que aliás já tinha escalado, mas apenas ao de leve, de Cinfães para Ervilhais. Conhecia bem era a sua irmã do lado Este, que subi várias vezes por Pelisqueira e Ferreiros de Tendais. Mas, do que já tinha visto, pareceu-me que esta opção nova seria uma aposta interessante.
Rabisquei então uma volta contida, a rondar os 100km, centrada nesta ascensão principal até ao cume do Montemuro mas sem deixar de explorar mais uns recantos que ainda me faltavam visitar. Aliás o aquecimento seria desde logo interessante, com bastante subida logo nos primeiros vinte quilómetros. Sem facilitar, como é apanágio das minhas aventuras...
Comparadas as opções de pormenor e feitos os respectivos ajustes, de entre o manancial de possibilidades que o Montemuro oferece, cheguei a uma versão final do rabisco no mapa. Escusado será dizer que seriam umas duas da manhã de sexta-feira. O que daria apenas para o habitual sono reduzido pré-aventura. Há mesmo coisas que nunca mudam...
O dia de pedaladas começou cedo e, como esperado, bastante frio. Fui fazendo a rotina matinal sem grande pressa, certo de que seria mais inteligente deixar avançar um pouco a manhã, para evitar submeter as articulações a temperaturas perigosamente baixas. Assim, foi com toda a calma que arranquei para Pala, via Marco de Canaveses. Aproveitei para revisitar, embora de carro e apenas parcialmente, aquele que chegou a ser o meu percurso mais longo nos primeiros meses de 2010, quando fazia a volta de Valongo a Valongo, passando por Entre-os-Rios, Pala, Marco de Canaveses e Sobretâmega. 150Km pejados de civilização mas relativamente interessantes. O miolo de curvas e contra curvas entre Pala e o Marco é das zonas mais bonitas do percurso, serpenteando pelos recantos da serra. E depois de muito desfiar este novelo curvilíneo, já perto do destino sou brindado com a primeira vista panorâmica do impressionante maciço de Montemuro, visão que impõe desde logo respeito...
Cá em cima estava sensivelmente a mesma temperatura fresca do que em Valongo, mas nem por sombras imaginava o que me esperava à beira rio... Estacionei na marginal, junto à capela de Pala e, quando abri a porta para me espreguiçar na bonita margem do Douro, tive um encontro imediato com a incrível ventania que fustigava a bacia de Pala e Porto Antigo! Um vento gelado que me fez pensar uns bons minutos na combinação de roupa técnica que iria levar comigo. Por norma sou calorento e evito levar muita roupa para não ficar desconfortável a meio do dia, nas horas em que o sol se faz sentir com mais intensidade. Mas o vendaval fez-me pensar duas vezes nessa regra. Ainda assim, no final acabei por decidir levar só uma camisola interior cabeada para proteger o tronco, juntamente com um casaco pouco térmico e o colete corta-vento por cima. Buff, luvas, calção, pernitos, meias de lã e meias corta-vento completaram o fardamento. E bem que iria agradecer esta ponderada decisão ao longo do dia...
Com tudo isto, o arranque acabou por ser naturalmente tardio. O relógio marcava exactamente 10 da manhã e o termómetro uma temperatura ainda bastante baixa. O vento frio fustigava-me com vontade e, depois de mais uma paragem de 15 dias sem pedalar, além de estar concentrado em retomar a naturalidade dos movimentos tentava, sobretudo, aquecer...
O traço gizado no mapa leva-me desde logo para Oeste. Primeiro ao longo da margem Norte do rio e, logo depois da travessia para Porto Antigo, pela N222 em direcção a Resende. Primeiros quilómetros ainda com a companhia do Douro, que se distanciava rapidamente à medida que a estrada sobe. Aos 6Km já estou 200m acima do espelho de água, apesar de ter arrancado com ele a meus pés.
O percurso que desenhei não atacava directamente o cume. Não costumo balancear as voltas assim porque gosto de fazer um certo crescendo, até ao momento alto (literalmente!) do dia. Mas isso não significaria moleza. Antes de mais havia que fazer um pequeno aquecimento pelo vale do rio Cabrum, subindo até perto dos 800m, antes de voltar a descer para os 60m do Rio Bestança. E aí sim, começaria a grande subida do dia.
Como tal, e apesar de apanhar uma pequena descida, numa altura em que a estrada contorna uma reentrância da montanha, a predominância é e será claramente de subida, embora suave, por força de estar a pedalar numa Estrada Nacional. Este contorno à serra permite também o primeiro descanso do vento que se fazia sentir no canal do rio, autêntico túnel que concentra toda a força da buzaranha. E sem o vento a arrefecer, rapidamente a temperatura corporal sobe, o que imprime logo outro ânimo às pedaladas.
Em Finzes despeço-me do Douro por umas horas: só o voltarei a ver no final do dia, já de regresso à base. Viro para o interior e desde logo sou recebido pela alteração do caderno de encargos da obra: os limites de inclinação do pavimento nas estradas municipais são mais folgados e, por isso, a estrada inclina rapidamente em direcção a Pinheiro. Há que poupar em terraplanagens e movimentação de inertes!
Este bloco inicial é uma espécie de continuidade da marginal e da N222 em termos de implantação demográfica. Nem muito concentrada, nem muito dispersa... Não atravesso nenhuma localidade memorável mas a estrada é de boa qualidade, fazendo-me lembrar a subida ao S. Cristovão em Resende: bom piso, inclinação séria, envolvente agradável e, sobretudo, muito sossego automóvel. Aliás, agora que fiz a totalidade do percurso, posso afiançar que foi das voltas em que me cruzei com menos veículos e este troço inicial não foi excepção.
Pequena paragem num primeiro topo, para tirar o buff e as luvas. As subidas tinham-se encarregue de aquecer os ânimos e o sol estava suficientemente quente para dispensar agora estes extras. Se o buff ficaria guardado até à descida final, as luvas foram sendo utilizadas intermitentemente ao longo de todo caminho, já que nas descidas com passagens mais abrigadas, a temperatura descia rapidamente para níveis bastante desagradáveis para as mãos.
Gosto bastante destas estradas que contornam por completo os vales recuados da montanha e em que, estando a circular numa das encostas, conseguimos ver do outro lado do vale a estrada que nos espera uns quilómetros mais à frente. Aqui, nos arredores de Lagariça, acontece precisamente isso. Distraio-me, por isso, durante alguns segundos a mirar a estrada que entretanto circunda o vale e surge mais acima, lá do outro lado.
Entre Covelinhas e Ovadas atravesso, novamente, o rio Cabrum. Além da travessia moderna, vislumbra-se a jusante ponte centenária que antes servia de ligação entre as duas margens. Agora dedica-se exclusivamente às travessias pedonais e portanto não me consigo servir dela. Por aqui, a frescura das águas do rio traz consigo as primeiras manchas de gelo nas orlas da estrada, fenómeno que aconselha prudência.
Esta continuidade pós travessia é infinitamente mais macia que uma outra que existe uma escassa centena de metros acima, na barragem de Mariares. Essa implica que, num dos sentidos, seja necessário ultrapassar a absurda rampa de acesso à aldeia de Mariares. Neste belíssimo exemplar de colocação artística de tapete betuminoso as inclinações mantêm-se firmes nos 22% durante uma interminável centena e meia de metros, para alegria de quem tem a brilhante ideia de lá passar. E não me perguntem como é que sei isto...
Continuando, em Ovadas, logo ali à distância de uma pequena subida, consegue-se ter uma interessante perspectiva do minifúndio utilizado nesta região, cuidadosamente encaixado em socalcos que amenizam as vincadas encostas.
A estrada continua a subir, de forma nem sempre suave, em direcção à passagem pelos 750 metros. Mais algumas manchas de gelo adornam as bermas, confirmando que a temperatura continua bastante baixa nas zonas abrigadas, apesar de o sol já obrigar a desapertar um pouco os fechos do colete e do casaco, sobretudo nas secções mais inclinadas da subida.
Aqui, e depois de já me ter cruzado com um par de rebanhos de ovelhas e respectivos pastores ao longo destes quilómetros iniciais, esperava-me um novo encontro com a fauna local... Várias toneladas de carne seguiam em parelha, estrada fora, pouco depois da aldeia. À minha passagem reparo em alguns olhares de soslaio, umas experiências em trote de fuga e algum estudo mútuo, não vá algum dos animais assustar-se perigosamente ou eu entrar na zona de (des)conforto de um deles. O pastor, entretido ao telemóvel, afiança que elas não fazem mal. Eu, como é óbvio e face à disparidade de massa corporal entre mim e as quadrúpedes, ponho sempre as minhas dúvidas: é que dias maus todos nós temos! Mas as simpáticas bovinas acabam eventualmente por encostar na berma e eu sigo a minha viagem.
Com apenas 22Km percorridos, conto já com 900m de desnível positivo coleccionado. A subida (e relembro que esta é apenas uma "subidita" secundária no Montemuro) tem uns respeitáveis 13Km a 5% com a primeira parte a ser uma espécie de Assunção comprida, contabilizando logo 8km a 6.6%. Embora longe da frescura física de outros tempos, estou mesmo onde me sinto bem: a subir! Não poderia ter desejado, por isso, melhor aquecimento para o resto do dia.
Mais do que os números, esta subida serviu para conquistar a primeira grande panorâmica do dia, já nos arredores de Ramirez. Daqui avista-se todo o enorme vale do rio Cabrum e os dois principais maciços a Norte, o Marão e a Aboboreira. O vale é surpreendentemente largo e alguns quilómetros separam as duas cumeeiras.
O Montemuro tem esta característica interessante de conter verdadeiras montanhas, dentro da montanha. São exemplos disso os vales de Paus, Cárquere, Sobradinho, Pereira, Faifa e outros, que configuram só por si interessantes vertentes individuais. Este vale do rio Cabrum, em particular, será um dos três mais longos, a par com o vale principal de Alhões e o de Paus, já com a Serra das Meadas como companhia.
Daqui consegue-se perceber a forma dispersa como estão implantadas as pequenas povoações ao longo da serra, embora seja uma dispersão que gravita ao longo de um fio condutor, que no caso é a estrada que tenho vindo a percorrer.
O perfil é agora predominantemente descendente, seguindo o recorte da montanha. Curvas e contracurvas, salpicadas aqui e ali com manchas geladas, que assim ficaram por estarem resguardadas da luz solar grande parte do dia. Nota-se aliás, uma imediata flutuação térmica à passagem por esses recantos mais gelados. Tento ter a cautela devida, para não ser apanhado desprevenido a alta velocidade em cima de uma destas armadilhas brancas. A solo e em autonomia, todo o cuidado é pouco...
Ramirez, Paço e Verduzelo seguem-se com a rapidez que a estrada gelada permite, embora as elevadas inclinações convidem a outras velocidades. Aliás, um pouco antes de Verduzelo apanho novamente uma generosa camada branca a revestir a negrura do asfalto e que, mais uma vez, demanda máxima atenção e prudência no seu atravessamento.
Mais uma pequena subida, coroada por nova panorâmica do vale, desembocando a uns aparentemente modestos 450m, mas onde se desenrola mais uma maravilhosa passadeira asfáltica. Não necessariamente pelo aveludado do tacto mas mais pela rectidão ondulada que a caracteriza.
A estrada está-se a revelar um pequeno tesouro e, aqui e ali é salpicada com verdadeiras jóias paisagísticas que fazem esquecer, com facilidade quer o frio quer a relativa dificuldade do percurso.
Regressa a descida, desta feita até aos arredores de Oliveira do Douro. A concentração civilizacional aumenta também, embora seja uma zona sem particulares atractivos. Ultrapasso, por isso, com rapidez estes quilómetros. Excepção feita talvez a uma pequena janela que permite mirar o Douro em mais uma agradável panorâmica.
Os derradeiros dois quilómetros de subida a 7% até Desamparados, selam este primeiro núcleo da minha volta. A aposta em descobrir este vale provou, mais uma vez, que ainda não perdi o jeito para mapear e encontrar estradas desertas e fascinantes. Se a primeira parte do percurso é mais mundana, de Lagariça em diante a variedade de paisagens é extraordinária e não fica nada a dever a qualquer uma das outras encostas do Montemuro. O perfil comparativamente suave faz da subida uma excelente aposta para uma primeira incursão à serra, uma espécie de apalpar de pulso ao manancial de propostas que por aqui se podem encontrar. Aliás, em Ramirez há até a hipótese de cortar para Vale de Papas, ligando de seguida à aldeia da Gralheira, já a 1100m de altitude.
Voltando ao percurso, a partir daqui é sempre a descer até ao sopé, já dentro do vale principal da serra. A descida é sinuosa mas entusiasmante. O frio, esse faz-se sentir e em Fundoais tenho mesmo de parar para calçar as luvas.
Aproveito para captar mais uma panorâmica do vale, com o Montemuro sempre a dominar a paisagem. A neblina que acompanha o frio ajuda sempre a criar um ambiente ainda mais fantástico. Segue-se-lhe mais uma tirada de descida que me faz perder rapidamente altitude. Em 2 quilómetros baixo mais 250m, muito graças à generosa inclinação da descida e de um par de cotovelos na estrada, que ajudam a perder metros mais rapidamente.
Reconheço agora esta estrada de outras aventuras. Circulo no troço inicial da subida por Ferreiros de Tendais, e a perspectiva inversa que agora tenho das rampas iniciais confirma que, para quem sobe, aquela parte é de facto um cartão de visita bem inclinado desta vertente do Montemuro. Mas hoje não era por aqui que escalaria o gigante e, por isso, continuo a favor da gravidade, em direcção ao rio.