Finalmente a caminho de Amarante. Era chegado o dia esperado com ansiedade. O Sol começava a elevar-se no horizonte e, enquanto embalada pelo som da rádio, a mente ia divagando, tentando antecipar como ia ser e quem ia encontrar.
Fora do mundo virtual pouco ou nada conhecia dos companheiros de pedalada que me aguardavam. Mas, baseado no que ia lendo, tinha já criado um perfil para alguns deles: o André, das estradas perdidas. O Altino, das incursões insanas. O Pedro Lobo, a quem o Sabugueiro não impressiona. E sem esquecer o jovem lobo Daniel.
Cheguei atempadamente ao ponto de encontro, o que permitiu cumprimentar o pessoal que já lá se encontrava ainda antes de preparar o material. Um tipo de vermelho devolveu-me um sorriso largo, só passado uns minutos é que percebi que era o Daniel. Nas fotos parecia mais gordo.
Não tardou a que estivessem todos presentes. Éramos 12. André Carvalho, Miguel, Daniel, Pedro Lobo, André Mariz, Roger, Altino, Vitor e Xavier.
Começámos a pedalar. Era a primeira vez que me integrava num grupo tão numeroso, finalmente ia sentir o gosto de pedalar em pelotão. Mas não para já… Logo após a viragem em Padronelo tivemos de enfrentar a encosta da Aboboreira e algumas rampas encarregaram-se desde logo de fracturar o grupo.
Incidente prematuro: uma corrente salta fora e a atrapalhação resultante encarrega-se de danificar a travessa de um dos sapatos. O infeliz contemplado foi o Xavier. Não dava mesmo para continuar naquelas condições. Como já estávamos conversados quanto à Aboboreira, descemos todos juntos até à N101 onde nos despedimos dele e do Vitor, pois partilhavam o transporte. Eles regressariam a Amarante, nós continuaríamos a jornada.
Adeptos das teorias da conspiração insinuaram posteriormente que teria sido o Cancellara a provocar o incidente, incomodado que estava com o aperto que estava a levar do Batman.
Seguimos então paralelos à N101. A estrada sossegada convidava ao convívio. Havia quem cantarolasse, havia quem desejasse também ter partido uma travessa e debatia-se a técnica da pastilha elástica.
Regressámos à N101 já perto do Alto de Quintela para depois nos deliciarmos com a descida a alta velocidade até Mesão Frio.
Sendo o nosso destino imediato a Régua, o normal teria sido seguir pela N108, coladinhos à margem norte do Douro. Mas “quando o óbvio engana, o inesperado acontece”, e toca a subir até Vila Marim, decerto dali a vista sobre o vale seria melhor. Mais à frente aguardava-nos mais uma bela descida que nos havia de trazer de volta à cota baixa da 108.
Finalmente tínhamos formado o nosso pequeno pelotão. O Altino comentava “aqui atrás é que se vai bem”. Não durou muito, o André acelerou um pouco, coloquei-me atrás dele pensando que o resto do pessoal ia colar mas ninguém pareceu interessado. Que se lixe. Colaborámos na despesa para ninguém ser apelidado de “chupa-rodas” e foi fixe fazer aqueles kms a boa velocidade até à Régua, onde viríamos a ter a primeira pausa prolongada para reabastecimento e também para o André “briefingar” a hierarquia.
O guia anunciava horrores daqui para a frente. Fiquei de pé atrás e fiquei na expectativa. Seguíamos agora em direcção a Sta Marta de Penaguião pela EM601, uma agradável alternativa à N2. O Daniel e o Miguel já lá iam. Olhando ao longe a estrada não parecia empinar muito, resolvi seguir no seu encalço.
Estava a adorar a subida, rolante e com uma paisagem fantástica. Infelizmente não conhecia a região nem o trajecto e chegado a uma bifurcação que me deixou na dúvida fui obrigado a esperar pelo guia. Raios, estava-me a saber tão bem!
Mas pior aconteceu aos dois que seguiam na frente que incorreram 2kms pela escolha errada, tendo, segundo consta, levado um valente puxão de orelhas do guia que os foi resgatar.
Nos entretantos aproveitei para retomar o gosto à subida mas mais à frente uma nova dúvida obrigou-me a parar. Habituado a pedalar com poucas paragens, aquele pára-arranca começava a “queimar-me a embraiagem”
A subida acabava em frente à igreja de Fontes. O André quis aproveitar a vista imponente sobre o vale para registar para a “prosperidade” os presentes neste PIF.
Dali até Fornelos recordo um emaranhado de caminhos com algumas descidas que na altura desejei nunca ter de percorrer no sentido oposto. Isso porque não sabia o que me aguardava.
Fornelos não fica num vale. Fornelos fica num buraco! Ou pelo menos assim me pareceu na hora. Tinha a sensação que quanto mais avançava mais me enterrava no meio daquelas encostas. Isto até começar a subir, claro.
O André deu a receita “Daqui até lá acima é o salve-se quem puder!”. E assim foi. Cada qual subiu ao ritmo que as suas forças permitiram. Devem ter sido uns 4km. O meu corpo libertava água a bom ritmo. Felizmente que a certa altura apareceu uma zona de descanso… que era a zona em que a subida acalmava para uns agradáveis 5-6%. Mas depois lá voltávamos ao mesmo. Não há mal que sempre dure e este não é excepção.
Lá nos reunimos no topo a “lamber as feridas” enquanto íamos reagrupando.
Segundo o André, o pior tinha passado. Mas agora o meu organismo estava a ressentir-se de algo e na subida que restava até à N15, que não era tão pouca como isso, já não consegui rolar ao ritmo que queria. Foi assim com alívio que acolhi a paragem no simpático café na beira da estrada.
Iludido pelos largos minutos de descanso, pensei estar recuperado. Juntei-me ao Daniel e ao Miguel e, apesar de desde cedo me ter apercebido que se calhar aquele não era o meu ritmo, forcei manter-me por ali, mesmo depois do Miguel se deixar ficar para trás. Foram apenas mais uns minutos. Comecei a fraquejar. Deixá-lo ir. Mas o problema não era o não conseguir acompanhar o Daniel, o problema é que tinha exagerado e agora já nem o meu ritmo normal conseguia manter. Sensação de dejá-vu? Cerdeirinhas, algures este ano…
Passado um pouco sou apanhado de novo pelo Miguel. Naquele momento só desejava chegar rapidamente ao Alto de Espinho. Apesar de conhecer a estrada não tenho bons pontos de referência da mesma e só a tinha subido uma vez de bicicleta, recordando que a subida tinha uns 7 kms, vindo da Campeã. Estava por isso mentalizado para mais uns 3km de subida, pelo menos.
O gradiente da estrada aumentou um pouco e lembrei-me do Pedro Delgado “Ai Dios, que puerto!”. Devia ser só um topo. Cerrei os dentes e pedalei em pé… eles estão ali parados? Afinal era já o final da subida. Eu gosto destes empenos mas foi um grande alívio.
Restava a longa descida para Amarante. Confesso que a acho mais interessante como subida mas foi bastante agradável poder largar os travões por ali abaixo, apenas interrompidos por mais umas sessões de fotos.
Podia tentar redigir aqui um epílogo mas não o farei. Julgo que basta dizer que adorei. Obrigado ao André e a todos os que o ajudaram a preparar este belo encontro de pessoal com uma paixão em comum. Quanto aos outros, sem excepção, grandes companheiros de pedal.
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