• Olá Guest , participa na discussão sobre o futuro desta comunidade neste tópico.

Projecto "EN2" - Agosto 2012

Armando

New Member
Espero que o FDS traga mais rescaldo, estou adorar e cheio de inveja!! Talvez lá para os 60 anos consiga aventurar-me numa cena destas.
 

eSPECIALista

New Member
Acho que está aqui alguma coisa mal ou eu li mal ou não entendi.

Projecto "EN2" - Agosto 2012 >>> e só é relatado agora é isso <<

E qual o problema de ser só relatado agora? O importante é partilhar a aventura, independentemente de quando ela aconteceu!


Um bocadito despropositado, não achas? (e o link do picasa não funciona)
Mas os meus parabéns pela ausadia e espírito aventureiro. É bom saber que há por aí, mais como eu :)
 

eSPECIALista

New Member
31 de Julho de 2012
Dia 3: Lousã -> Abrantes [132km 2600m D+]


Como seria de esperar hoje a simples, mas sempre complicada, tarefa de acordar está a tornar-se muito mais difícil que o habitual. Os (bons) exageros da noite anterior estão a manifestar-se mas na cozinha ouço, o que me parece ser, o Andy a preparar o pequeno-almoço. Basta pensar que tenho mais um dia a pedalar e depressa me ponho a pé e arrumo as minhas coisas.

Para o pequeno-almoço, Andy preparou um autêntico banquete nutricional: desde sumos naturais, fruta, ovos, pão, compotas, preparou também flocos de aveia com leite magro e mel. Enquanto me abasteço de energia, Andy conversa comigo, sobre qual o melhor trajecto para retomar e EN2. O conselho dele é seguir a N236 em direcção à Serra da Lousã. Avisa-me que tenho uma subida de cerca de 20km, numa ascensão aos quase 1000m de altitude.

Com a barriga cheia é hora de despedidas deste fantástico casal, que por si só, são uma prova de determinação e força, na procura da verdadeira felicidade. Obrigado por tudo Andy e Cheryl.

p1050539c.jpg


São as 08:30 e estou de regresso à estrada. Depressa chego ao centro da Lousã, quase deserta de pessoas e movimento. Tal como o Andy prometera, a N236 é estrada de serra e como ainda estou a digerir o pequeno (grande) - almoço, começo a subida num ritmo baixo e certo, ao som de um set do Pete Tha Zouk.

Alguns quilómetros depois de iniciar a subida, reparo num monumento do meu lado direito. É o Castelo da Lousã, também conhecido como Castelo de Arouce. Admite-se que a edificação (ou reedificação) do Castelo de Arouce remonta a 1080 e diz uma antiga lenda, que o castelo foi erguido por Arunce - um emir ou chefe islâmico derrotado e expulso de Conimbriga - para a protecção da sua filha Peralta e seus tesouros, enquanto ele se deslocava ao Norte de África em busca de reforços contra as forças cristãs que, cada vez mais, apertavam o cerco às terras muçulmanas.

p1050542r.jpg

[Castelo da Lousã]

Já pedalei em muitas estradas de Portugal e Espanha, mas a beleza da N236 é ímpar e ficará na minha memória por muito tempo. Estou em plena Serra da Lousã: serra com 1205m de altitude no seu ponto mais elevado - Alto de Trevim. Situa-se na transição do distrito de Coimbra para o de Leiria e integra o sistema montanhoso luso-espanhol da Meseta.

Por momentos, imagino-me na pele de um ídolo da modalidade, Alberto Contador; imagino-me numa etapa de montanha da minha "Vuelta"; imagino-me numa fuga sozinho; imagino as pessoas na berma da estrada, a gritar o meu nome e outros a aplaudir; imagino as motos da televisão a transmitirem a etapa para os 4 cantos do mundo; imagino como seria cortar a meta em primeiro lugar...

p1050550x.jpg


p1050552k.jpg


p1050554d.jpg


p1050557e.jpg


p1050560n.jpg


É com algum sacrifício mas uma imensa felicidade que atinjo o cume da subida onde decido repousar um pouco, junto de um marco religioso.

p1050565b.jpg


Daqui consigo ver um enorme parque eólico e apesar de ter consciência que têm um papel importante na produção de energia, não posso deixar de ficar indiferente ao impacto que têm numa paisagem como esta da Serra da Lousã.

p1050564p.jpg


São as 10:15 e volto à estrada. Espero que a velha máxima - "tudo que sobe, desce" - me proporcione agora uma descida. Passo por um cruzamento com indicações para o Alto de Trevim: o ponto mais alto da Serra da Lousã, a 1200m de altitude. Mas vai ter que ficar para uma próxima oportunidade ;) Agora é momento para descer.

[video=youtube;bH7MmDX2WSQ]https://www.youtube.com/watch?v=bH7MmDX2WSQ[/video]

Hoje volta a estar um dia quente, como tem sido apanágio desta viagem, mas em descida e com velocidades a rondar os 70km/h, o vento consegue ser um pouco fresco. Depois de cerca de 5km em descida, numa curva apertada, encontro um miradouro com uma vista sobre um Portugal que muitas das vezes não é valorizado como devia, pelos que mais deveriam se orgulhar dele. Sinto-me um privilegiado por poder apreciar esta paisagem nestas circunstâncias. Daqui consigo deslumbrar a vila de Castanheira de Pera, a minha próxima paragem.

p1050574.JPG


Depois de algumas fotografias para a posteridade é altura de voltar à estrada e continuar a descida. Depressa chego à vila de Castanheira de Pera onde decido parar num café para um breve lanche e consultar o meu mapa. Quero garantir que estou no caminho certo e que assim me mantenho.

Castanheira de Pera é uma vila com cerca de 3000 habitantes, que pertence a Pedrogão Grande. Também esta vila tem uma lenda e relacionada com Peralta - filha de Arunce que em sua defesa, tinha mandado construir o Castelo da Lousã. Diz a lenda de Castanheira de Pera que em 72 A.C., fugida de Colimbria, em consequência da invasão do reino, Peralta refugiou-se com seu séquito no Castelo de Arouce (Lousã). Por influência de Sertório (guerreiro romano que por ela se apaixonou), decidiu ir para Sertago. No caminho, morreu sua aia, Antígona, que ali mesmo foi enterrada. Sobre a sepultura foi colocada uma lápide com a seguinte inscrição: "ANTÍGONA DE PERALTA AQUI FOI DA VIDA FALTA". A deusa Vénus, que perseguia a princesa, enviou um poderoso raio, que transformou os acompanhantes em montanhas e a bela Peralta numa formosa sereia, que ficou a viver nas águas que brotavam da serra. Esse raio desfez, igualmente, a lápide, onde, para a posteridade, apenas ficou da primitiva inscrição: ANTIG...A DE PERA...desta lenda maravilhosa nasceu Castanheira de Pera.

Como cartão de visita actual da vila, podemos encontrar a Praia Fluvial das Rocas - um complexo de lazer situado num lago com quase um quilómetro de extensão. A grande atracção desta praia é uma piscina de ondas artificiais que ocupa 2100 m2 (a maior do país). Após a abertura deste complexo turístico, em 2005, mais de duzentas mil pessoas já visitaram a vila.

p1050583t.jpg

[Praia Fluvial das Rocas - Castanheira de Pera]

Depois de consultar o mapa, regresso à estrada e já faltam poucos quilómetros para regressar à EN2. Até lá ainda passo por algumas localidades com nomes, no mínimo, peculiares ;)

p1050584z.jpg

[no comments...]

PS: mesmo ao lado da Venda da Gaita, podem encontrar a localidade da Picha (podem verificar no maps.google). "E esta hein?!" :rolleyes:

É depois da Venda da Gaita que reencontro a EN2 e é bom estar de volta. Pouco depois chego a Pedrogão Grande e como a fome já aperta, decido procurar um sítio para almoçar. São as 12:15 e já percorri 50km.

Depois do almoço, sinto o peso de uma noite com menos horas de sono e nem o café parece aliviar esta enorme vontade de me deitar. Mas opto pela "obrigação" de continuar caminho, apesar do muito calor que agora se faz sentir. Logo à saída da vila, encontro a Barragem do Cabril. Situada no rio Zêzere, entrou em funcionamento em 1954. É uma das maiores barragens portuguesas e origina uma das maiores reservas de água doce do pais. Sendo uma das mais altas construções de Portugal, com uns consideráveis 136m de altura.

p1050587zz.jpg

[Vista do topo da Barragem do Cabril - Pedrogão Grande]

Ainda penso em descer até às margens do rio para me refrescar, tal é o calor que se faz sentir, mas o regresso a subir de volta à estrada, faz-me mudar de ideias. Hoje o corpo não está a responder bem.

Passo por Pedrogão Pequeno e alguns quilómetros mais adiante, chego à Sertã onde decido não parar e assim evitar quebrar mais uma vez o ritmo. Depois de alguns quilómetros pedalados vejo no meu horizonte uma forte inclinação e a paisagem envolvente toma contornos de serra. Estou perante a Serra da Melriça, conhecida localmente como "Picoto da Melriça". É uma serra portuguesa situada a cerca de dois quilómetros a nordeste da povoação de Vila de Rei, sede do concelho com o mesmo nome, do Distrito de Castelo Branco. Com uma área pequena de ocupação, tem a altitude máxima de 592 metros.

A importância desta serra resulta do facto de nela estar localizado o Centro Geodésico de Portugal Continental. Nela encontra-se o marco geodésico padrão "TF4" a partir do qual se deu início às observações angulares dos cerca de 8 000 vértices geodésicos existentes em todo o Portugal Continental.

A subida não é muito íngreme, mas o calor é abrasador e ao fim de cerca de 360km pedalados em 2 dias e meio, a dificuldade é enorme. Para tornar ainda mais complicada a tarefa, a estrada nesta zona, foi alvo de uma profunda intervenção de restauro. E o que até então era uma estrada com pouco trânsito e com apenas duas estreitas faixas de rodagem, agora é uma espécie de IP (Itinerário Principal) com duas faixas no sentido ascendente.

p1050597xf.jpg


Faço várias pausas para descansar e repor líquidos que já começam a escassear. São cerca das 15:00 e chego finalmente a Vila de Rei. A Serra da Melriça ficou finalmente para trás. Até a Abrantes pouco tenho para contar; são quase 30km de estrada nacional disfarçada de IP, com muito trânsito e veículos a circularem a velocidades de pista de Fórmula 1. Procuro abstrair-me e pensar que amanhã será um dia melhor.

São 17:00 e chego a Abrantes. Depois de duas noites a dormir em pequenas residenciais (mas sempre confortáveis), hoje quero mimar-me :eek:. Encontro indicações para o Hotel Turismo de Abrantes de 3 estrelas, que para meu azar, fica no ponto mais alto da cidade. É um último esforço, curiosamente, apoiado por um senhor, sentado num banco de jardim que grita: "Força, está quase jovem!". Queria agradecer, mas já não tenho forças. Ao chegar hotel, deixo-me cair completamente esgotado, num pequeno relvado.

Depois do check-in e já no quarto encho a banheira de água gelada e apesar de custar imenso, mergulho todos os músculos na tentativa de os recuperar para o dia seguinte.

Até amanhã
 

fogueteiro

Active Member
Boas Companheiro,

como eu te invejo, sendo eu um fã destas aventuras...

Subscrevo na totalidade do que dizes. Conheço muito bem todas as estradas que mencionas e paisagens que fotografaste, porque moro em Pedrogão Pequeno. Agora imagina subir da Barragem do Cabril até ao centro da Vila de Pedrogão Pequeno com o calor que sentiste, mas depois de um dia duro de trabalho.:D:D:D:D:D:D:D:D

Quanto ao troço, Vila de Rei - Abrantes, foi pena não conheceres porque terias evitado a monotonia dessa desfigurada N2. Em Vila de Rei seguias por uma estrada secundária, muitíssimo bonita e com uns "spots" fotográficos igualmente soberbos, que segue paralela à N2 até Abrantes.

De qualquer modo muitos parabéns pela odisseia, e posso garantir-te que já aprendi uma coisa contigo: De onde vem o nome TONDELA.

Portugal assim visto, "ao devagarinho" tem outro encanto... eu sei. ;););););););););)
 
Top