• Olá Guest , participa na discussão sobre o futuro desta comunidade neste tópico.

As alterações ao código da estrada e a nossa falta de civismo

helio69

New Member
Não queria, mas lá terá que ser.

A maior parte das recentes alterações ao código da estrada, nomeadamente, aquelas que dizem respeito às prioridades e afins, vieram, sem dúvida, por fim a uma situação inexplicável e complexa, em que as bicicletas tanto tinham prioridade como a seguir a tinham que ceder.

No entanto, caímos no exagero... Não seria problema algum se os portugueses fossem civilizados na estrada, o problema é que não somos (ciclistas incluídos).

Eu sou ciclista, automobilista e motociclista, por isso conheço todos os pontos de vista.

Permitir que bicicletas circulem aos pares é simplesmente criminoso e o tempo me dará razão.
Se um trator tem que circular com um pirilampo por causa da velocidade a que se desloca, não tem qualquer lógica que bicicletas possam andar aos pares porque vai criar um risco desnecessário.
Duas bicicletas, ao lado uma da outra, numa zona de curvas, a surbir ligeiramente, só serão vistas quando já estamos em cima delas (já me aconteceu).

Um mini pelotão de 25 a 30 ciclistas, a par, em qualquer estrada (mesmo em recta) é mais longo do que qualquer camião...

Depois, tudo piora quando as pessoas são parvas (para não dizer outra coisa).

Há uma semana, na estrada que chega ao Porto pela margem direita do Douro, a uns 15 ou 20 kms do Porto, ia um grupo de 30 ciclistas em ritmo de passeio, a par, a ocupar a estrada toda. De início a fim, ocupavam uns bons cinquanta metros. Da parte deles não houve qualquer sensibilidade para o facto de trazerem uma fila de carros atrás de si, os quais começavam a perder a paciência (diga-se, com razão).

Ontem, a descer do Luso em direção a mortágua, vinham três ciclistas. O primeiro, assim que notava que tinha um carro atrás encostava-se de modo a facilitar a passagem. O segundo, a mesma coisa. O que ia à frente deveria achar-se o pantani ou qualquer coisa do género.
Já em zona plana, com duplo traço contínuo, a minha esposa (que seguia à minha frente), e com o Pantani a deslocar-se a vinte km/h, não o conseguia passar sem ir para a outra faixa porque o Pantani ia bem no meio da faixa de rodagem.
Pensando que ele não se tinha apercebido da sua presença, ela manda um pequeno toque na buzina e o Pantani passou-se da marmita.
Encosta-se complamente ao centro da faixa de rodagem, manda-a chegar à frente e diz-lhe que lhe tinha tirado a matrícula... Isto, enquanto a chamava de tudo e mais alguma coisa...
Ela segue, e eu que ia atrás de mota, tive a sincera vontade de lhe dar dois murros, mas enfim, limitei-me a dizer-lhe para ter juízo e que para quem não tinha asas ele arriscava-se demais. Deu com nós, se fosse um gajo burro, escusado será dizer que a brincadeira lhe ia correr mal...

Estas situações estão a acontecer diariamente e desconfio que em breve vão levar a que aconteça algum "acidente" por culpa da falta de civismo de parte a parte..
 

jpacheco

Well-Known Member
pois, mas os ciclistas devem ocupar o lugar mais a direita da via de transito...assim como os carros. realmente esse pantani arrisca-se :/ O pior é que só acontece o mal ás pessoas que tentam facilitar como os dois moços que encostaram logo que sentiram o carro.

Honestamente, pessoalmente, stressa-me imensamente saber que estou a causar transtorno ao transito e tento não o fazer mas há gente estúpida, esses deveriam levar um sinal nas costas, como os camiões que têm o limite de velocidade, que os obriga-se a andar na berma.

Tem mesmo que haver mais sensibilidade... como ha os condutores que fazem razias, à muitos ciclistas com a mania que mancham a reputação de quem anda de bicicleta. De bicicleta, a pé, de moto, de carrinho de mão, deveremos ter sempre em mente que a via é publica e de circulação, na qual deverá haver boa convivência por todos que a usam.
 

portellini

New Member
Helio69.,

em parte concordo com o teu desabafo. No entanto não posso deixar de verificar um grande desconhecimento da Lei. É devido a situações como estas que existe a ressalva legal "e não causarem perigo ou embaraço para o trânsito".

Para condutores cuidadosos e cumpridores, a falta de visibilidade da estrada não deveria ter nada a ver com acirculação ou não a par, já que, por um lado, qualquer ultrapassagem deve aguardar pelo menos 1,5m de distância lateral (18,n.º 3 e 38, n.º 2 alínea e) do Código da Estrada) e, em qualquer caso, o veículo que ultrapassa deve usar a faixa de rodagem contrária para o efeito (art. 38.º, n.º 3). Se não faz, fá-lo mal.

Até porque a falta de visibilidade só deveria fazer aumentar a prudência na condução e reduzir a velocidade. Com efeito, a Lei refere que «as pessoas devem abster-se de atos que impeçam ou embaracem o trânsito ou comprometam a segurança, a visibilidade ou a comodidade dos utilizadores das vias, tendo em especial atenção os utilizadores vulneráveis» (art. 3.º, n.º 2). E especificamente quanto à velocidade, «O condutor deve regular a velocidade de modo a que, atendendo à presença de outros utilizadores, em particular os vulneráveis, às características e estado da via e do veículo, à carga transportada, às condições meteorológicas ou ambientais, à intensidade do trânsito e a quaisquer outras circunstâncias relevantes, possa, em condições de segurança, executar as manobras cuja necessidade seja de prever e, especialmente, fazer parar o veículo no espaço livre e visível à sua frente.» (art. 24.º, n.º 1)

A lei dispõe do seguinte modo quanto à circulação a par:

Art. 90.º
1. ...
...
e) Seguir a par, salvo se transitarem em pista especial e não causarem perigo ou embaraço para o trânsito.
2 — Os velocípedes podem circular paralelamente numa via, exceto em vias com reduzida visibilidade ou sempre que exista intensidade de trânsito, desde que não circulem em paralelo mais que dois velocípedes e tal não cause perigo ou embaraço ao trânsito.


Assim sendo, não me parece legítimo ciclistas circularem a par e com isso causarem embaraço ao trânsito. Nem a Lei o permite.

No entanto, o facto de ter de usar a faixa contrária para ultrapassar (por não ter espaço na mesma faixa) não significa que esteja a causar embaraço. É que, se quisesse ultrapassar continuando na mesma faixa, a ultrapassagem seria ilegal, conforme melhor referem os artigos referidos acima.

E isto leva-me ao ponto seguinte: pela minha experiência automobilista - e como o comprova a literatura autorizada - é mais fácil e seguro ultrapassar um grupo de 15x2 ciclistas (ou seja, uma fila de 15 pares de 2 ciclistas), do que uma fila de 30 ciclistas seguidos.´

Aliás, fazendo as coisas dentro da Lei (a tal a que chamaste criminosa), não faz diferença nenhuma, porque numa ultrapassagem bem feita usa-se sempre a faixa de rodagem contrária - e a mim parece-me, salvo melhor opinião, que uma fila de 30 ciclistas proporciona mais insegurança, porque obriga a percorrer mais distância em sentido contrário.

Obviamente que se pode dizer - como já li e ouvi por diversas vezes - que "ninguém ultrapassa assim" ou que "isso é num mundo ideal" ou "noutros países". No entanto, tu que és um utilizador da via pública nas suas várias vertentes deves reconhecer que, olhando para dentro, quem sofre mais com a conduta negligente dos automobilistas são os ciclistas. E é uma conduta que pode verdadeiramente ser evitada. Não é um problema muito complexo como outros que temos no nosso país. Basta que cada um pense e atue responsavelmente.

Acho que o benefício das bicicletas para a sociedade (e não só para a segurança de todos aqueles que pedalam, mas também todos os benefícios ambientais e económicos) vale o "crime" ou "o sacrifício" de os automóveis circularem mais devagar, serem obrigados a travar mais vezes ou a esperarem mais para ultrapassar.

Isto, como disse no início, sem prejuízo do bom senso dos ciclistas. Mas bom senso não pode ser a lógica vigente do "sai da frente que a estrada é minha". Não pode porque a estrada é de todos.
 

Morg

Well-Known Member
Sinceramente não me causa incómodo quando me ultrapassam sem a distância exigida pela lei (1,5m).
Principalmente porque vou na berma sempre que isso possa facilitar o trânsito, que também é ilegal.

O que me chateia mesmo são as ultrapassagens frontais em que passam 2 carros e uma bicicleta ao mesmo tempo, muitas vezes sem berma para podermos fugir e o carro que vem de frente na nossa faixa em excesso de velocidade.
Nas zonas onde ando passam carros esporadicamente compreendo que seja diferente em vias muito movimentadas.
 

paradawt

Moderador
Bom senso e portugueses não é, de todo, uma característica comum...

Não sou perfeito mas tento colocar-me sempre em todas as posições.

Hoje em dia já não pedalo em grandes pelotões, mas quando o fazia incentivava a malta a ajudar a passagem dos veículos. Se o grupo era grande, partiamos o pelotão em 2 ou 3 partes para que os carros pudessem ir passando ciclistas, ajudando essa manobra com sinaléticas e gestos, dado que por norma temos melhor visibilidade.

Em muitas situações penso que o circular a par é de maior segurança porque desincentiva as ultrapassagens em velocidade.

Mas quando verifico que o facto de ir a par está a prejudicar o trânsito, passo para a frente do meu companheiro e ajudo com sinaléticas o condutor a realizar a ultrapassagem.

Inclusivé agradeço o cuidado que teve. Quanto mais sensíveis formos talvez mais conscientes os condutores fiquem.

Por outro lado, sempre que passam por mim e buzinam eu não insulto o condutor. Muitas vezes até agradeço porque um pequeno toque de buzina serve simplesmente para nos avisar que se aproximam de forma a evitarmos alguma guinada ou mudança de direcção.

Temos que ser o melhor para todos para que os outros sejam o melhor para nós.

Esta questão do bom senso não muda de um dia para o outro mas se todos trabalharmos nesse sentido, acredito que daqui a poucos anos estamos melhores.
 

pratoni

Well-Known Member
O que me chateia mesmo são as ultrapassagens frontais em que passam 2 carros e uma bicicleta ao mesmo tempo, muitas vezes sem berma para podermos fugir e o carro que vem de frente na nossa faixa em excesso de velocidade.
Nas zonas onde ando passam carros esporadicamente compreendo que seja diferente em vias muito movimentadas.

Isto sim, causa-me arrepios porque já passei por isso, infelizmente por mais que uma vez, e só estou vivo porque vinha na berma ou em cima do risco...
 

jpacheco

Well-Known Member
@paradawt completamente de acordo... a questão da buzinadela pode ser entendida nesse sentido quando feita a alguns metros de distância. Agora quando se metem apitar mesmo em cima não é nada agradável... deixa de soar a aviso e passa a soar a outra coisa qualquer. Normalmente costumo agradecer a mesma... e concordo que melhor comunicação para ajuda na boa convivência na estrada.
 

jpacheco

Well-Known Member
supostamente a berma é para o peões... no entanto poderemos usá-la se sentirmos ameaçados ou caso seja o lugar mais segura para andar... mas logo que se possa volta-se a Via. Básicamente podes fazer o que quiseres..é preciso é ter bom senso. Se virmos pessoas vamos para a estrada.

http://codigodaestrada.org/faq
 

Morg

Well-Known Member
Nas estradas onde eu ando nas voltas grande nem carros :) quanto mais pessoas.

Se a lei diz isso não me podem chatear se estiver na berma quando um carro me ultrapassar.
 

jpacheco

Well-Known Member
Se a lei diz isso não me podem chatear se estiver na berma quando um carro me ultrapassar.


básicamente foi isso que entendi até agora, que em caso sintamos perigo possamos recorrer a berma... mas certamente deverá haver alguém aqui entendido na matéria. Aguardaremos outras contribuições.
 

Plobo

New Member
É um gosto ler o que o portellini escreve sobre estas matérias. Parecendo que não, ser especialista na matéria ajuda :p

Isso do andar encostado ou na berma, é um pau de dois bicos. Primeiro, porque quanto mais encostados andarmos, menos espaço para fugir temos, o que é um aspeto que não pode ser desprezado. Por outro lado, um dos maiores problemas das estradas é justamente a noção (errada) que os automobilistas têm que a estrada é só para eles. A autoestrada é que é só para eles. O resto é para partilhar. E antes de vir com questões como "eu pago seguro", que se lembrem que os outros também pagam impostos para suportar os défices das estradas, mesmo que não tenham carro.
 

canuco

New Member
Sem prejuízo do disposto no número anterior, os velocípedes podem circular
nas bermas fora das situações previstas, desde que não ponham em perigo ou
perturbem os peões que nelas circulem.

Artº 17º nº2
 

helio69

New Member
Eu conheço a lei, mas, como todas as normas legais carece de interpretação e não pode ser aplicada "à letra". Aplica-se ao código da estrada, assim como em relação a todas as normas legais.

No ano passado, por alturas da Páscoa, ia eu de Castro Daire para Viseu, quando a subir do Rio Paiva numa zona de curvas deparo-me com uma equipa INTEIRA a fazer a mesma subida. Eu ia a 50/60 km/h, vejo-os a meio de uma curva, a circular a monte. Independenmente de irem dois a dois, ou três a três, iam a ocupar a faixa de rodagem por inteiro, quando poderiam (e deveriam) ir em fila e o mais encostados à direita que lhes fosse possível sem comprometer a sua segurança. E passo a explicar porquê. Aquela curva, que eu fiz, no máximo a 60 km/h, pode ser feita a oitenta ou noventa, mas eles deslocavam-se a 15km/h. Eu levava no carro a minha filha e garanto que, se viesse um carro em sentido contrário a minha reação e instinto NUNCA me levaria a passar para a outra faixa como foi possível daquela vez.

A verdade é que, principalmente em subida, uma bicicleta deixa de ser, na prática, um veículo circulante para ser um obstáculo e quem anda de bicicleta deve ter isso em consideração.

Existem estradas que se não nos encostarmos à direita um veículo automóvel terá que aguentar atrás de nós durante kms, quando seguimos a 12 ou 15 km/h, e sem qualquer possibilidade de ultrapassagem (subida de Porto Antigo para Cinfães é apenas um exemplo).

Andar encostado à berma não significa ter menos espaço para "fugir", mas sim mais espaço para os outros circularem sem nos colocarem em risco.

Claro que aqui impera o bom senso. No que me diz respeito aconselho a evitar "passeios a par" e eu não o faço de certeza. Afinal de contas, o direito é muito bonito, mas prefiro sempre chegar ao meu destino por meios próprios do que à boleia de uma ambulância, mesmo que alguém me tenha que pagar uma valente indemnização.

Em relação ao que se tem vindo a passar, não tenho a menor dúvida que um destes pantanis terá em breve um grave dissabor, e será improtante na altura não se vir crucificar desde logo o condutor do automóvel, como se tem vindo a fazer, quando se calhar não teve meios para evitar o acidente.
 

duchene

Well-Known Member
Hélio,

Quando abriste o tópico, exemplificaste com o pirilampo do tractor.

Nesta situação que agora descreves, se não conseguiste ver os ciclistas a tempo, conseguirias ver o pirilampo do tractor? E em quem escolherias bater nessa altura? No tractor ou no carro que vinha de frente?

Será exclusivamente um problema de visibilidade dos restantes utilizadores da via, ou passa também pela adequação da velocidade do tráfego às condições da mesma?
 

grouk

Active Member
Será exclusivamente um problema de visibilidade dos restantes utilizadores da via, ou passa também pela adequação da velocidade do tráfego às condições da mesma?


precisamente

e se em vez dos ciclistas ia um carro de vacas, ou pessoas no meio da estrada, ou se a estrada tivesse caído, tb admito que por vezes estorvamos ao transito, mas também os camiões pesados os papa reformas os ciganos de carroça a GNR quando anda a cavalo. a estrada é de todos e o civismo é conseguirmos conviver, o ciclista deve facilitar a passagem do transito e o transito deve sempre acautelar eventuais perigos

a qualidade das sociedades mede se pelas leis que tem, nunca compreendi a necessidade da lei do 1,5m, porque raio é preciso uma lei que obrigue o condutor a desviar se do ciclista, claro que tem que se desviar se não se desviar pode mata lo. é tao simples quanto isto
 
Top Bottom