Boa noite!
A saúde está em primeiro lugar e, por isso, 24 horas depois de terminar o Troia-Sagres, o balanço que faço é, para já, (muito) negativo.
Referi que iria fazer Tróia-Sagres-Tróia. Devo ter sido o único a fazê-lo pois no regresso não me cruzei com ninguém.
Na ida para Sagres, parti sozinho às 8 h em ponto. Ultrapasso vários ciclistas até que ao km 10 quando vou a 30 km/h sou ultrapassado por um grande grupo de ciclistas (uns 30 talvez).
Começa a chover. Nunca tinha pedalado em grupo com chuva. Para evitar apanhar a saraiva das rodas coloco-me atrás de uma bicicleta que tem guarda-lamas. O ritmo é superior a 35 km/h. Não há vento ou quando há parece que sopra pelas costas.
O grupo decide parar em Rogil a 50 km de Sagres. Sigo sozinho mas 30 km depois sou de novo apanhado pelo mesmo grupo. A chuva só deu tréguas a uns 30 km de Sagres.
Chego a Sagres com 32,3 km/h de média. Só parei 2 vezes para urinar. Quando lá cheguei tinha as mãos um pouco frias mas nada de especial. Tinha o corpo bem protegido com 2 camisas e impermeável.
Antes do regresso, vou a um café e como um bolo e bebo um galão quentinho. Coloco a lanterna que levava na mochila para a parte noturna da viagem.
Regresso às 14.45 em direção a Tróia. Não chove e o vento sopra forte de Sul pelo que nos primeiros 50 km vou a uns 30 km/h. Até aí, ainda passo por ciclistas em direção Sagres.
Em Vila Nova de Mil Fontes, anoitece. Ligo a lanterna e quando vou para ligar o pirilampo traseiro verifico que ele não está lá!!
Fico preocupado. O que terá acontecido com o pirilampo?! Roubaram-mo? Saiu do espigão sem eu dar por isso?
Prossigo caminho só com iluminação dianteira. Não há muitos carros, mas quando sinto que um carro me vai ultrapassar, encosto-me o máximo possível para a berma.
Um dos carros, depois de me ultrapassar, para à minha frente e o condutor avisa-me que quase me ia atropelando pois não tinha iluminação traseira.
Prossigo caminho apesar disso. A 20 km de Sines, já noite escura, cai um forte aguaceiro. A temperatura nesta zona arrefece bastante. Tenho o corpo quente, mas a mão esquerda arrefece bastante, a ponto de perder sensibilidade. Já não consigo meter as mudanças com a mão esquerda.Nos Alpes e Pirinéus já senti esta sensação de mãos geladas com temperaturas de 0 ºC por isso não me preocupei.
Passa por mim uma carrinha de ciclistas que vem de Sagres. Um dos passageiros sai da carrinha e oferece-me um pirilampo colocando-o na parte de trás do capacete. Fica aqui um agradecimento público (não lhe perguntei o nome).
A partir de Melides (últimos 40 km) as condições do tempo pioram bastante. A chuva aumenta de intensidade e o vento sopra de frente. Vou a 20-22 km/h e páro 2-3 vezes para, com o bafo, tentar aquecer as mãos. Principalmente a mão esquerda. Sem qualquer efeito.
À medida que me aproximo de Tróia a falta de sensibilidade nas mãos é cada vez maior. Chego à minha carrinha às 22.50 e continua a chover.
Não tenho qualquer sensibilidade na mão esquerda. Na mão direita tenho alguma. Todos os movimentos para me preparar para regressar a Alcobaça são um martírio: tirar a chave da carrinha da bolsa, abrir a porta, colocar a chave na ignição… tudo muito difícil.
Uma vez dentro da carrinha, ligo a ventilação quente para aquecer as mãos. Até a Alcobaça, as mãos (e todo o corpo) ficam quentes mas a falta de sensibilidade na mão esquerda mantém-se.
Hoje ao levantar-me, pensava que o problema da falta de sensibilidade, resolvia-se enquanto eu dormia, mas não. Como com uma só mão não consegui vestir um par de calças com botões, tive de escolher um par com fecho. Mesmo assim, foi um castigo abotoar o único botão.
Vou à internet à procura de soluções para este problema de saúde. Mergulhei durante 1 hora, as mãos em água à temperatura de 40 ºC. Sem resultados
Estou a escrever quase só com a mão direita e neste momento estou preocupado mas ao mesmo tempo admirado pois a pele da mão não apresenta qualquer aspeto exterior diferente da mão direita, nem as temperaturas durante o dia da prova baixaram dos 5-6 ºC, ou seja, não houve congelação de tecidos.
Passei o Domingo a pesquisa uma cura para isto, mas encontrei cura para casos, aparentemente, mais graves que o meu e que envolvem congelação de tecidos.
Não consigo, segurar quase nada com a mão esquerda. Tenho muitas dificuldades em realizar tarefas simples como atar uns atacadores. Hoje não consegui comer de faca e garfo.
Não tenho força na mão e nos dedos da mão esquerda. Se carrego na pele tenho uma sensação de dormência.
Apesar das temperaturas nunca estivessem negativas, foram as muitas horas à chuva que provocaram a situação. As luvas também não ajudaram.
Desconheço se este problema tem ou não solução. Nesta altura não posso faltar ao trabalho para ir ao médico. Aliás mesmo no trabalho irei estar limitado.
Isto é um sério aviso para mim se eu conseguir recuperar e para os outros que lerem esta mensagem e nunca passaram por esta situação.
Pedalar 394 km como eu pedalei não é difícil para mim, mas dadas as condições do tempo o mais sensato seria ter pedido uma boleia no regresso…