A minha análise ao comportamento das equipas estrangeiras nesta Volta a Portugal:
Lampre - Esta equipa valeu sobretudo pelo espectacular desempenho de Francesco Gavazzi. Gavazzi foi simplesmente soberbo! O que se pode pedir mais de um corredor que venceu duas etapas, terminou 2º em outras duas, foi 3º numa outra e ainda conseguiu terminar mais duas no Top 10 (um excelente 8º lugar na duríssima etapa da Torre e 10º na chegada à Sertã sendo que nesta etapa foi o 1º do pelotão)..incrível mesmo..Gavazzi foi o ciclista das equipas estrangeiras mais regular e consistente apesar de não ter sido o que melhor terminou na classificado geral..na minha opinião este ciclista alcançou 4 feitos que passo a citar:
1 - Foi o corredor melhor classificado da Lampre (atendendo ás suas características, às características do percurso e às características dos seus colegas de equipa, quem conseguiria adivinhar que ele iria ser o melhor colocado da equipa?);
2 - Foi o 4º melhor corredor das equipas estrangeiras na geral a seguir a Bisolti, Firsanov e Garikoitz (antes de começar a Volta nem nas minhas previsões mais optimistas eu o colocaria nos 20 melhores quanto mais em 4º!!!)
3 - Terminou a etapa rainha da Volta (e que etapa!!) no Top 10 (8º lugar) perdendo pouco mais de 2 minutos para o vencedor da tirada (ok Gavazzi é um sprinter que passa bem a média montanha mas estamos a falar de alta montanha!! incrível!!)
e por último, 4 - Terminou a Volta num honroso 17º lugar da classificação geral (quem diria antes da Volta começar que um corredor como ele poderia terminar uma Volta a Portugal nos 20 primeiros???)
Foi absolutamente competitivo este Gavazzi e apenas por uma vez eu o vi tirar o pé do acelerador, isso aconteceu na Senhora da Graça onde perdeu 6.39 m..mas e se não fosse esse dia? A resposta é fácil..provavelmente Gavazzi teria terminado a Volta no Top 10 e sido o melhor corredor das equipas estrangeiras. Só faltou mesmo a Gavazzi vencer a camisola branca, isso seria a cereja no topo do bolo. Sinceramente foi o corredor que mais gozo me deu ver correr nas equipas estrangeiras.
Quanto aos seus companheiros de equipa não há muito a dizer, apenas referir que quando havia montanha estava lá Alfredo Balloni mas sempre com muitas dificuldades deixando claro que iá ser bastante difícil não só conquistar de novo a camisola da juventude (também a Lampre nunca assumiu que esta camisola era um objectivo diga-se) como também terminar no Top 10..ficou longe, foi 24º na geral. Esta Lampre trouxe 8 ciclistas à Volta e é caso para dizer que foi Gavazzi e mais 7!!
Farnese Vini - Alessandro Bisolti foi o melhor posicionado da equipa na classificação geral (13º lugar) mas na verdade este corredor teve tudo para terminar no Top 10, esbanjando essa oportunidade..teve uma primeira semana de bom nível estando sempre com os melhores na montanha, defendeu- se relativamente bem no contra relógio (uma especialidade que está longe de ser a sua) mas no dia mais decisivo (Torre) da Volta e quando tudo apontava para que estivesse com os melhores pois a etapa era feita à sua medida, Bisolti fraquejou e mostrou já não ter pernas para se poder manter no Top 10.
Andrea Guardini venceu uma etapa e cumpriu os objectivos da equipa (podia ter vencido mais uma etapazita mas a Volta era muito dura para ele e compreende-se).
Queria ainda destacar nesta equipa o Davide Riccibitti não porque obteve uma boa classificação, longe disso! (foi 68º a mais de uma hora e meia do 1º) e não porque tenha vencido alguma etapa..mas sim porque foi o corredor que mais entrou em fugas..diria que diariamente o tentou e mesmo não sendo bem sucedido se houvesse um prémio de combatividade para o ciclista das equipas estrangeiras mais combativo esse prémio era de certeza para ele! Tanto tentou que para mim merecia ter vencido uma etapa!
Andalucia - O facto de terem vencido uma etapa não me leva a considerar que a prestação desta equipa tenha sido positiva e assinalável. Na verdade viveram toda a corrida na sombra de José Toribio e David Bernabéu e quando estes foram para casa a equipa simplesmente desapareceu da corrida! Falando destes 2 corredores, Toribio foi aquele que mostrou estar melhor, prova disso a excelente vitória em Gouveia e não me venham dizer que não foi uma vitória justa só porque ele aproveitou a roda do Nélson Vitorino..o homem estava fugido desde o início da etapa enquanto que o Nélson só atacou a 2 Km da meta por isso nem é preciso dizer mais nada..ainda assim tinha expectativas relativamente ao seu comportamento na etapa da Torre pois considerava que podia fazer uma boa etapa, foi mesmo pena o seu abandono.
Quanto a Bernabéu já não posso dizer o mesmo pois o que eu tinha vaticinado antes da Volta começar confirmou-se..não estava cá para vencer a Volta nem para obter uma boa classificação, estava sim para adquirir a boa forma para a Vuelta, apenas e só isso!! Dos outros ciclistas da equipa nada tenho a dizer pois passaram ao lado da corrida (o melhor classificado na geral foi Sergio Carrasco em 29º lugar)
Caja Rural - Foi a única equipa estrangeira que terminou com todos os ciclistas que trouxe a Portugal, este facto vale o que vale..mas o que há a destacar foi mesmo o facto de terem levado para casa duas camisolas, a da montanha com Fabricio Ferrari (conquistou-a logo na 1º etapa) e a da juventude por Garikoitz Bravo, este corredor foi mesmo o melhor classificado da equipa ocupando o 15º lugar da classificação geral, é um corredor talhado para a montanha onde esteve com os melhores mas ainda assim notou-se uma certa quebra por parte dele nos últimos dias de corrida (as etapas da Torre e da Sertã não lhe correram muito bem) talvez por ser ainda jovem e pouco experiente e se Volta tivesse mais uns dias provavelmente perderia a camisola.
A principal referência que a equipa trouxe à Volta foi Oleg Chuzhda (ou não tivesse ele já vencido duas etapas em edições anteriores), ainda assim este ano esteve bem mais discreto e a sua classificação na geral (21º) evidencia que ainda não é um corredor com capacidade para terminar uma Volta longa como a portuguesa num Top 10.
Itera Katusha - O 14º lugar da classificação geral alcançado por Sergey Firsanov sabe a pouco muito pouco pois este corredor tinha qualidade mais do que suficiente para terminar a prova no Top 10 e até "assustar" um pouco os portugueses..mas foi vítima da sua irregularidade pois não começou muito bem a Volta..depois teve uma subida de forma obtendo boas classificações (6º na Senhora da Graça e 7º em Gouveia) mostrando toda a sua qualidade mas nos dias em que tudo se decidia (contra relógio e Torre) Firsanov teve um desempenho muito abaixo do esperado (pelo menos abaixo daquilo que eu esperava)..não se defendeu nada bem no contra relógio, perdendo mais de 3 minutos para Ricardo Mestre (quando eu pensava que ele até podia discutir o contra relógio!) e pior ainda no dia da Torre em que perdeu mais de 8 minutos para o vencedor da etapa (André Cardoso).
Quanto a outros corredores desta equipa umas palavras para Timofey Kritskiy (um ciclista que já foi 2º na Volta à França do Futuro), é o corredor com mais potencial daqueles que a Itera trouxe a Portugal mas infelizmente ainda não recuperou das lesões que teve nos últimos 2 anos e que efectivamente não o têm ajudado a alcançar os resultados que obteve enquanto ciclista Sub 23, ainda assim destaco o 3º lugar na etapa de Castelo Branco e também o facto de ter sido o melhor estrangeiro no dia do contra relógio (9º lugar).
De um modo geral penso que esta equipa podia ter feito um pouquinho mais no mínimo para vencer uma etapa.
La Pomme - Alguém deu por Evaldas Siskevicius durante a corrida? Pois é..apareceu apenas no último dia e numa fuga..muito pouco mas a verdade é que a Volta a Portugal não é a mesma coisa que a Volta ao Alentejo..e sabem como é que este corredor conseguiu vencer a Volta ao Alentejo? é fácil de explicar..A Volta ao Alentejo este ano foi muito fácil, não apresentava no seu percurso dificuldades montanhosas e era talhada para sprinters, a acrescentar a isto Siskevicius aproveitou a tradicional guerra birrenta das equipas portuguesas..a guerra do "NÃO GANHO EU MAS TU TAMBÉM NÃO GANHAS" e foi assim que ele venceu..mas assim também vos digo tal como não ouvimos falar deste lituano na Volta a Portugal provavelmente iremos continuar a não ouvir falar dele nos próximos tempos.
O melhor corredor desta equipa na geral foi Eduardo Gonzalo (20º lugar final), provavelmente já terá passado os melhores anos da sua carreira mas aqui fica este seu registo nesta Volta a Portugal.
O corredor que mais gostei e mais considerei combativo no seio desta equipa francesa foi, no entanto, Julien Antomarchi que foi fazendo uma excelente Volta a Portugal até uma certa etapa..a da Torre!! À partida para o dia da Torre ele estava em 15º da classificação geral mas nesse dia mostrou que não era um corredor talhado para a alta montanha e perdeu..34 minutos indo tudo por água abaixo!!
Konya Vivelo - Quando uma equipa chega ao final da 4ª etapa e já só tem um corredor em prova não há muito a dizer sinceramente..a não ser que muito provavelmente Danail Petrov só foi continuando em prova pelo respeito que nutre pela corrida pois fez toda a sua carreira em Portugal, não tivesse sido isso e talvez também fosse para casa..eu que considerava antes do início da Volta que Petrov podia ser um candidato ao Top 10..mas um corredor que perde mais de 8 minutos num contra relógio e 25 minutos na etapa rainha não pode aspirar a tal coisa..foi apenas 39º na classificação geral muito longe mesmo daquilo que nos habituou.
Chipotle - Quando uma equipa composta apenas por ciclistas Sub 23 (Thomas Dekker era a excepção mas deste nem vou falar pois a prestação que teve era previsível) consegue vencer uma etapa da Volta a Portugal impõe-se a dúvida sobre a qualidade do pelotão presente na Volta. No entanto, havia mesmo qualidade nesta equipa (ainda que não se tenha dado muito por isso) e eu considero que no futuro vamos ouvir falar de alguns destes ciclistas, como por exemplo, Robbie Squire que foi o melhor classificado da equipa na Volta (19º lugar final) e que cheguei mesmo a pensar que íria vencer a etapa da Torre tal era a distância que levava para os restantes e o bom ritmo de subida, Lachlan Morton que era apontado como aquele que podia terminar melhor classificado a Volta no seio da equipa, algo que no entanto, não se chegou a verificar (foi 23º nas contas finais) ainda assim parece-me que temos aqui um grande ciclista para o futuro que brilhará sobretudo na montanha, e ainda Jacob Rathe vencedor da etapa da Sertã onde mostrou ser um finalizador com uma óptima velocidade de ponta e muito possante fisicamente. Estes foram aqueles que mais me impressionaram nesta equipa.