Sim... Muito tempo depois estou de volta à escrita!
Talvez as voltas não sejam assim tão relevantes. Talvez até sejam.
O ano transacto não foi de muito actividade e alguns problemas com lesões. Talvez por isso me tenha concentrado mais em treinar do que em passear e fazer coisas realmente dignas de registo.
Aproveitando o feriado, decidi com o Rodrigo sair do típico trânsito do nosso quintal.
Havia o convite para o reconhecimento do Mediofondo mas a nossa vontade era mesmo fugir para o Gerês.
Estávamos relutantes quanto à qualidade do percurso mas deixem-me que vos diga que tiro o chapéu à Bikeservice pela escolha deste ano. Muito melhor... Saíram do óbvio e levaram-nos para um interior do Parque Nacional que não conhecíamos.
Só vos tenho a dizer que foi muito bom. Foi muito bom porque conhecemos um Gerês que não conhecíamos e muito bom porque tivemos longos períodos sem nos cruzarmos com um veículo. Aliás, chegamos a andar completamente no meio do nada. Só nós e a natureza mágica do Parque Nacional da Peneda Gerês.
O inicio é tudo aquilo ao qual não se pode fugir, a descida até às pontes. Depois temos uma subida bem conhecida (Caniçada) que por sinal decidimos atalhar e isso levou-nos a uma parede giríssima que o
Garmin fez autopause aos 23,5% de inclinação. Não dou como perdido o atalho. Aquecemos rapidamente e a vista para o rio era deslumbrante por isso lá fomos.
O restante é entrar na N103, seguir em direcção a Louredo, Salamonde, Ruivães, Santa Leocádia e no toque do Rio Rabagão tocar os limites do distrito de Braga e Vila Real, passando por cima da Barragem de Venda Nova.
Até aqui a subida é constante com zona de descanso e até alguma descida. Faz-se bem a um ritmo certo e até diria que no dia da prova se fará a um ritmo bem elevado. O problema vem depois...
Após a barragem começamos a inclinar-nos para o interior do Parque Nacional. Ferral, Covelo do Gerês, Paradela e uma vez mais tocar uma barragem e a sua albufeira da Barragem de Paradela.
Daqui começamos a subir para a cota mais alta por onde andamos (cerca dos 900m de altitude) junto a Sirvozelo. Não se deixem enganar... No Gerês nunca andamos a cotas muito altas mas as subidas são exigentes derivado das inclinações que apresentam. Ou descemos muito ou subimos muito... Não existe meio termo.
Daqui entramos num período de absolutamente nada. Nós, a paisagem, o silêncio, os mega blocos rochosos e algumas abelhas derivado da apicultura. Tenho que destacar que toda a estrada até aqui tem um piso muito aceitável sendo que em alguns pontos até diria excepcional.
Não assinalo qualquer zona extremamente perigosa, excepto as subidas que já falaremos a seguir.
De Azevedo somos levados a Chãos, onde somos contemplados com pequenas recantos perdidos no Gerês. Aldeias típicas do Minho e totalmente isoladas. De Chãos até Cabril e aqui temos o ponto de viragem nas coisas. O meio envolvente torna-se ainda mais verde e os cheiros são os mais coincidentes com os que estamos familiarizados dentro do PNPG. Para quem está habituado a procurar cascatas sabe do que falo. Cabril é delicioso a meu ver. Muito bonito, cruzado pelo rio Cabril que liga à Albufeira da Barragem de Salamonde.
Quem já vier justo, aqui vai começar a sofrer e a sofrer bem. Logo após a saída de Cabril levamos com uma parede que ronda os 2kms e 11% de inclinação média. O piso é excelente mas a inclinação é dolorosa. Chega mesmo a tocar várias vezes nos 17%. Quando descansamos aos 12% algo está errado (risos).
Após isso temos a descida mais brutal do dia. A estrada é bastante inclinada, requer cuidados redobrados. O piso está em bom estado e circulamos pelo interior da verdadeira essência do que é o PNPG. As árvores, a vegetação, as cores, os sons... Magnífico!!!! Se pudesse eliminava o som do cêpo em roda livre para poder escutar melhor.
Isto leva-nos até uma ponte sobre o rio Fafião. Depois disso descemos um pouco mais e cruzamos outra ponte, desta vez sobre o Rio Arado e o tão conhecido acesso às cascatas do Tahiti. Aqui surge a violenta e última dificuldade da volta. E que dureza... O interior das curvas será melhor evitar se tiverem uma cassete 25 dentes como a minha, porque em alguns momentos senti a roda da frente levantar como querendo virar. Temos um segmento de 1km a 14% de inclinação média. Será muito muito importante que se traga alguma disponibilidade física e água para hidratar. Recomenda-se inteiramente a ingestão de um gel antes de começar a subir a partir de Cabril. Fará muita diferença!
Esta subida leva-nos até à estrada de Ermida que vem da Pedra Bela. O resto já conhecem... Mas antes disso irão ter um pouco de pavé (nada de transcendente).
Para mim o que estraga o percurso é mesmo esta descida de Ermida até à vila do Gerês, mas compreendo que é um mal não evitável pela limitação de acessos a partir dali.
Fiz o percurso do ano passado e considero este mais duro. É mais rompe pernas porque as subidas e acumulado estão dissimulados por vários pontos e depois apanhamos com muros violentos. Mas em paisagem e inovação, claramente destaca-se dos anos anteriores.
Na minha humilde opinião como cicloturista, a Bike Service está de parabéns porque saltou fora do óbvio. Pelo menos para mim e para o meu parceiro de passeata, o Rodrigo Coelho, ao qual agradeço desde já a companhia. Ah! E o gel... que diferença fez.
Desta vez tirei bem menos fotografias porque não tinha a máquina comigo e recorrer constantemente ao telemóvel desmobilizou-me a um registo mais completo.
Foi uma manhã bem passada dentro de um dos nossos paraísos de Portugal. E permitiu-me conhecer um Gerês mais escondido que ainda não conhecia.