A Câmara Municipal do Porto (CMP) recentemente pôs em prática o chamado
plano "resgatar o espaço público", plano este que prevê além de várias transformações, o alargamento da rede de ciclovias de 19 para 54 km até ao final do ano. Com efeito, a mobilidade em bicicleta tem sido um dos parentes pobres das políticas de mobilidade da CMP.
Ao contrário de outras cidades, no Porto, o investimento na promoção da bicicleta como modo de transporte tem sido praticamente nulo. Com efeito, a mobilidade ciclável tem sido um dos parentes pobres das políticas de mobilidade da CMP e é vista com algum desprezo por parte dos responsáveis políticos. Por exemplo, Rui Moreira chegou a dizer que não acredita na bicicleta como solução de mobilidade para a cidade. O presidente da CMP chegou inclusive a defender medidas retrógradas como a matrícula e o seguro obrigatório! Enfim...
Ok, o "plano" representa uma aparente inversão nas políticas até agora seguidas pelo município, o que é de salutar.
Algumas "ciclovias" têm sido desenhadas em meio rodoviário, onde devem estar, mas muitas apresentam evidentes erros de desenho, soluções engenhocas... sim, engenhocas, para tentar dar a volta às estreitas ruas, aos sentidos únicos e ao fluxo rodoviário. Exemplo recente é a "ciclocoisa" desenhada desde a Rotunda da Boavista, pela Av. de França até à Av. de Xangai, para ligar à ciclovia da Prelada. Tem a vantagem de o ciclista poder circular em algumas ruas de sentido único, mas depois, recorrentemente a mobilidade encrava com a atitude mesquinha e recorrente dos automobilistas que teimam em desrespeitar tudo e todos.
Antes do plano da CMP, assim estava a Rua Vieira Portuense (imagem Google Street de setembro de 2019)
Depois do "plano" assim está a mesma rua. Imagem de ontem à tarde, tirada quando pretendia seguir a "ciclocoisa" da Av. de França
(aqui o ciclista terá duas soluções... três, vá lá: circular pela esquerda em sentido proibido, circular pela direita no passeio, ou passar-lhe por cima!)
Para que efectivamente a cidade do Porto desenvolva uma boa rede de ciclovias é essencial tornar a bicicleta uma solução de mobilidade acessível a todos. Não basta avançar com medidas avulsas, é necessário articular um conjunto de medidas coerentes e integradas com vista à promoção da mobilidade em bicicleta, com fiscalização, campanhas de sensibilização e orientações básicas junto dos todos os municipes, sejam eles automobilistas, ciclistas, ou não.