Conforme prometido, então aqui vai o meu relato,:
Uma estrada e 738k para percorrer… -
PARTE 1
E COMO É QUE TUDO ISTO COMEÇOU?
A vontade de percorrer Portugal de Norte a Sul em bicicleta em modo Randonneur (ultimamente o único modo em que sei andar) já há muito que se manifestava, e estava como um post-it colado no monitor do computador como para que não me esquecesse, ou pelo menos para acontecer logo que surgisse a oportunidade.
A primeira abordagem ao assunto ocorreu no inicio do ano, no alinhamento da agenda já de si preenchida apontava para Julho, não a N2 na integra, mas mais um Bragança-Chaves (Portugal na Diagonal) totalizando mais de 1000k que era precisamente o propósito desse desafio, totalizar um numero de km redondo, mas a proximidade de outros “compromissos” fez com que essa prova de resistência fosse adiada, e sinceramente não esperava que ainda fosse a acontecer ainda este ano algo similar, mas lá está quando menos esperamos…
Certo dia de Novembro, num normal almoço na copa da empresa, comentava-se:
“Vamos ter uma ponte em Dezembro…” A sério? Pergunto eu como quase sempre a leste destas coisas, e foi assim que a ideia voltou de novo á agenda, embora este tópico em concreto tenha alimentado a concretizar esta ideia.
Na mesma hora mandei uma mensagem ao Luis Carvalho a perguntar se estaria interessado em meter-se á estrada no feriado, e a resposta dele não tardou muito, simples e direta como sempre; Vamos… nem questionou o frio, a época do ano, a preparação, nada, um simples e redondo, vamos…
Eu tinha imposto a mim próprio na hora duas condições, não ia sozinho nem a chover! Cumprindo-se as duas, era preparar tudo e arrancar.
A PREPARAÇÃO
A partir daí começou o planeamento da viagem; o percurso no mesmo dia, e num instante ficou feito através do Ridewithgps (pensava eu..), alinhei de forma provisória os Postos de Controle virtuais (PC) de acordo com as distancias, horas do dia e acumulado, inseri os dados na tabela de Excel, e pronto, o planeamento inicial estava feito, de seguida passaria á 2º fase do processo, a simulação tendo em conta as infra-estruturas que estariam disponíveis pelo caminho, que consiste em alguma pesquisa sobre as localidades onde iriamos passar, o que é que encontraríamos ás 04:00 da manhã nesses locais, a envolvente, etc. Em suma a parte mais divertida do processo, e que eu gosto.
A ideia foi amadurecendo e passados uns dias, num normal café ao fim de jantar para pôr a conversa em dia, entra em cena o André:
- Olha, tens visto o tópico lá do fórum sobre a N2? sabes que mais, em principio devo ir com o Luis aproveitando a ponte de 7 de Dezembro…queres vir? Digo eu em jeito de provocação.
Não me lembro bem da resposta, mas sei que depois de uns segundos de silêncio acompanhado por um sorriso, saiu qualquer coisa do género:
Hum…estás a dar-me umas ideias, mas o que é que estás a pensar? a partir daí foi tratar do planeamento em conjunto, o André só colocou duas condições, uma delas era comum aos dois, ajudo-vos com tudo, mas para já não contem comigo (pois…é isso mesmo), e se chover não vou, algo que já tinha falado com Luis, apesar dos guarda-lamas, eu também não me apetecia ir se chovesse, já chega os km’s, o frio, meter chuva á mistura era demais, sinceramente não tínhamos necessidade disso.
Nas semanas seguintes as mensagens no Facebook multiplicaram-se, era definir a estratégia, verificar o percurso, e aqui fica o primeiro alerta - o percurso original da N2 algumas vezes rola paralelo ao atual, e como não podia ser de outra forma, este tipo de informação só podia ter sido verificada pelo André, meticuloso e perfeccionista, coube a ele a tarefa (auto-incutida) de “dar uma vista de olhos” . Com ele não dava para ser de outra forma, para fazer km por fazer para isso ando por aqui mesmo -
A fazer, vamos fazer bem!
Com o percurso fechado (ou quase) foi altura de começar a pensar na indumentária, equipamento e logistica, o que deveríamos levar, e que fica em casa, será que cabe tudo, daí termos feito um teste (pelo menos eu e o André) carregando a CARRADICE ainda faltavam uns 10 dias e as previsões do tempo ainda não eram as mais confiáveis, com tudo o que deveríamos levar, tendo ficado apenas em suspenso o saco-cama. A minha PENDLE com mais capacidade dava garantias que conseguia levar tudo o que precisasse, já a BARLEY do André…mais um acrescento e certamente que cumpria a função
Vês como cabe tudo? Os primeiros testes e ainda faltavam duas semanas para arrancar!!!
PLANEAMENTO…
O planeamento inicial (aquelas tabelas complicadíssimas que eu faço, mas que por uma razão ou outra não chego a cumprir) apontava para o arranque ás 6h da manhã de Domingo de Chaves, de forma a otimizar o primeiro dia, portanto o plano era ir de carro até Chaves no sábado á tarde de carro com as “Marias”, pousávamos as coisas no hotel, íamos jantar uma Posta na Taberna Benito, elas voltavam para o Porto e nós ficávamos já com a roupa que voltaríamos no regresso ao Porto de comboio; feito o arranque descansávamos em Vila de Rei e daí para frente via-se como corria a viagem sem muito mais planos, até porque pela análise inicial, o que verdadeiramente custaria fazer seria os primeiros 300k, porém como o marco Geodésico localiza-se uns km antes de Vila de Rei, o André e bem, fez questão que fizéssemos o desvio para registar a nossa passagem, alteramos a paragem para a Sertã; fazia todo o sentido, até porque na Sertã teríamos uma estrutura de apoio maior do que em Vila de Rei, e assim ficou.
Como pretendíamos que a viagem fosse o mais descomplicada possível, entramos em contacto com o Bombeiros explicando o que pretendíamos, um lugar climatizado ou abrigado para descansarmos umas horas, apenas isso, com chegada prevista entre as 2h da manhã e as 5h. Esta questão ainda condicionou os nossos planos porque só obtivemos uma resposta na sexta-feira antes da partida, que felizmente foi positiva, dizendo que não nos preocupássemos que teríamos 2 camas na camarata á nossa disposição. Excelente, estava a chegar a hora e tudo estava a correr de feição, mas alguém teria de dormir no chão!
Ainda nos dias antecedentes á partida decidimos logo alterar o horário de saída (e ainda bem) isto porque para além de ser muito cedo e ser de noite, segundo o André não íamos ter condições de tirar fotos decentes e com luz natural ao Km 0…e tinha razão, para além disso, no Hotel (PETRUS) só serviam o pequeno-almoço a partir das 7h30, isto apesar de se terem disponibilizado em deixar-nos um pequeno-almoço no dia anterior no quarto (fica a recomendação), mas por experiência nada como uma refeição reforçada antes de uma jornada destas, e portanto decidimos refazer os planos e marcar para as 08h30 a saída.
Com o aproximar do dia, assaltados por uma ansiedade camuflada, foram feitos os últimos testes ao equipamento, (leia-se corpo e bicicleta) para prever o melhor possível o que seria a nossa viagem. Qual seria o comportamento da bicicleta carregada? Levo saco cama? Onde? Onde é que me fui meter… ainda para mais não houve grandes treinos para preparar o corpo para esta jornada, sempre que programava dar uma volta (não gosto de chamar treino) chovia, ou o trabalho complicava, portanto só aproveitei mesmo os fins-de-semana anteriores com umas voltas pequenas mas preenchidas (acumulado). O teste final, dois dias antes foi mesmo com a CARRADICE “full-loaded” e o saco cama no andar de cima, luzes, baterias e até que não estava nada mal, pelas ruas do Porto andei feito tolinho com a bicicleta carregadíssima.
LEVO OU NÃO LEVO?
Quanto ás roupas a levar, tinhamos algumas restrições, por um lado as temperaturas baixas e o formato em que íamos arrancar contrastava claramente com o espaço disponível, parece que é preciso sempre mais qualquer coisa e não temos espaço, por isso havia que fazer cedências; ainda neste capitulo curiosamente os três levávamos CARRADICE, mas todos modelos diferentes tal como as bicicletas, eu na minha Solace, carbono, geometria relaxada, discos, Brooks e pneus 28c, carregava uma CARRADICE PENDLE c/11lts, o André na Lynskey, titânio, GILLES BERTHOUD e pneus 25c, carregava uma Barley c/9lts, e o Luis na sua Orbea Aero, carbono, postura agressiva, e rodas Mavic Cosmic alto perfil (há sempre um levezinho), levava uma Super C Audax também c/9lts, e aqui deixo uma ressalva que embora tenha a mesma capacidade da BARLEY acho que o modelo do Luis torna-se mais capaz que a do André.
Em suma 3 bicicletas diferentes, alguns aspetos em comum é verdade, mas uma mesma vontade de cumprir um objectivo, o que só prova que não importa como nos vestimos, o importante é querer!
Terminando este capitulo para passarmos ao relato da viagem, e como sei que estas coisas importam, e são uteis para outras pessoas, levava-mos mais ou menos a mesma coisa, mas como não sou muito de meter o nariz no que é dos outros, só vou falar de mim, fica o resumo:
Vestido no corpo á saída (importante porque é equipamento que não temos de levar nos sacos):
- Calças térmicas DECATHLON até -5º ?!?
- Base layer DECATHLON
- Casaco térmico DECTHLON até -5º ?!?
- Colete refletor (serve muito bem de corta vento)
- Sapatos SPECIALIZED + Capas de sapatos em neoprene da SHIMANO
- Máscara + Boné debaixo do meu mais recente capacete da SPECIALIZED (fartei-me depois de ter enviado 3 vezes o BELL para a garantia, sempre a descolorar)
- Luvas de Inverno
Na PENDLE:
- 3x Base layer da DECATHLON
- Calções ASSOS
- Pernitos térmicos
- Jersey c/manga RAPHA
- Jersey m/m dos Randonneurs
- 3x pares de meias
- Corta vento Lightweight da DECTAHLON
- Luvas térmicas
- Toalha de banho (compacta) da DECATHLON
- Liner da DECATHLON (como é óbvio não fazia ideia o que era uma “liner”, basicamente é uma capa para o corpo, como se fosse um saco cama, mas em tecido para ser usado quando nos deitamos em colchões que são usados por várias pessoas, acho que passei a ideia. Obrigado André pela dica)
- Sapatilhas (para a viagem de regresso) + Calças + t-shirt + um impermeável fluorescente (não fosse ficar esquecido no comboio).
- Mochila compacta da DECTHLON e um saco de compressão para trazer as roupas usadas sem ter que perder tempo em meter tudo dentro da PENDLE na viagem de regresso.
Nota: Apesar de as CARRADICE serem impermeáveis, eu coloco a roupa importante em Dry-bags, que para além de serem totalmente impermeáveis, consegue-se retirar o ar lá de dentro tornando tudo mais compacto
Nos bolsos laterais:
- 2x camaras de ar + desmonta pneus + remendos + adapatador de válvula + record
- descravador de corrente + elo rápido
- Multi-funções
- Canivete + Cabo de mudanças + Luvas de latex
- Luz traseira e dianteira de reserva
Ao nível de equipamento (na bolsa de guiador):
- Powerbank XIAOMI 10.000 mAh exclusivamente para o GPS e depois caso seja necessário para o telemóvel
- Powerstick 2200 mAh para o telemóvel
- Carregador p/baterias da iluminação + carregador de telemóvel (esperem, este esqueci-me) + Cabo Micro usb + Usb e uma tripla
- Alimentação variada (barras de cereais e sacos de gel)
Nota: novamente tudo dentro de um Dry-bag, são eletrónicos essenciais…
Por fim, na bolsa do quadro, levava as baterias p/iluminação – 4 unidades c/capacidade p/aproximadamente 25h de autonomia (é muito peso, tenho mesmo de resolver isto de uma vez por todas, mas cada coisa a seu tempo.
Ora bem, mais coisa menos coisa isto era o que eu levava, cerca de 8kgs de equipamento, ou seja outra bicicleta em cima…sem contar com os bidons cheios. Antes que perguntem, não pesei a bicicleta, é o tipo de informação que não quero saber!
FINALMENTE ARRANCAMOS..DO PORTO!
Já não me lembro bem, mas já era de noite quando lá saímos de Valongo com as bicicletas na traseira da carrinha e uma matricula extra “aero” pendurada no suporte, o Luis já se tinha instalado no hotel, e nós lá seguimos em direção a Chaves via IP4 com algum nevoeiro á mistura o que fez com que chegássemos um pouco em cima da hora.
Já no hotel levaram as bicicletas para uma sala fechada na cave (pasme-se, acessível através de rampa a partir da receção, totalmente “bikefriendly”…), e mal pousamos as coisas fomos diretos jantar, mas como se esqueceram da nossa reserva lá tivemos de apanhar uma seca á espera de mesa…pelo menos a posta compensou. Acabados de jantar, estava na altura de mandar as “Marias” para casa e já passava das 23h30, somando o tempo de chegarem a casa (ainda por cima com o nevoeiro) acho que deveria ser perto das 2h da manhã quando fechei os olhos para finalmente descansar para o dia seguinte.
AGORA SIM…ARRANCAMOS DE CHAVES!
A manhã do dia seguinte começou bem cedo, 06h15/06h30 da manhã e toca a levantar, quatro horas e pouco de sono, vai ser bonito, pensava eu. Em direção á sala de pequenos-almoços lá acordamos o hotel todo com o bater dos cleats e das travessas, e tal como seria de esperar fomos os primeiros clientes. Tomado o pequeno-almoço reforçado, lá pegamos nas coisas, montamos nas bicicletas, e eram 08h40 quando estávamos a carimbar na recepção do hotel.
Carimbar? Sim, o André teve a belíssima ideia de criar um passaporte, ao mais puro estilo Randonneur com os tempos de abertura e fecho dos Postos de Controle que tínhamos definido, mas dessa parte ele depois fala melhor.
Do hotel até á rotunda é pouco mais de 1 km, as temperaturas rondavam os 3º/4º, estava nevoeiro, muito nevoeiro, mas a vontade era muita; lá tiramos as fotos, e precisamente ás 9h02 dávamos inicio ao nosso objectivo, chegar a Faro, se possível no tempo limite de 52h15m (de acordo com o formato 90h-ACP).
A primeira paragem (sem contar com aquelas á beira da estrada para serviços minimos) foi feita em Vila Real (62), até lá tinha sido tranquilo, como disse arrancamos eram 9h (que mais pareciam 6h), apanhamos nevoeiro, sol para aquecer dentro do possível nas cotas mais altas, e claro aquele cenário único Transmontano nesta altura do ano. Em Vila Real adotei um hábito que me ia acompanhar nesta jornada, em vez de beber um expresso, passei a beber um abatanado, acompanhado por um doce qualquer, a paragem sem pressas demorou uns 30/40m, o suficiente para aquecer, fazer um primeiro balanço até ao momento e seguir viagem, pois ainda faltavam 676k!
Com a primeira paragem a sério prevista para Castro Daire a 73k (embora como sabem o problema não é a distancia, mas sim a morfologia do terreno), lá seguimos para a Régua, onde novamente paramos para carimbar o passaporte, aproveitando para comer qualquer coisa antes de enfrentar os cerca de 30k sempre a subir que nos esperavam dali para frente. Ao contrário do que eu pensava, não foi fácil carimbar, ou porque o carimbo estava no escritório, ou porque a patroa o levou…enfim, lá conseguimos arranjar um carimbo e passados 30/45m e com as fotos tiradas lá seguimos o nosso caminho. Sem pressas, até porque estávamos ali para apreciar a paisagem e disfrutar do percurso.
A subida, penosa, longa, mas única pelos cenários que nos presenteava, fazia subir de forma regular e constante os número do acumulado no GARMIN, não faço ideia quanto tempo demoramos a chegar a Castro Daire, só sei que passou rápido, e não foi da velocidade, foram umas boas horas a conversar, em estradas desertas, a discutir projetos para o futuro, a rever o planeamento da viagem, deu para tudo um pouco, e pouco a pouco lá chegamos ao nosso destino. Chegados a Castro Daire (135), a noite começava a cair, parámos no primeiro estabelecimento que encontramos aberto com as palavras padaria, confeitaria, refeições rápidas. Lá dentro depois de negociar com a funcionária lá conseguimos uma sopa e mais qualquer coisa acompanhado como não podia deixar de ser de Coca-Cola.
Feito o reabastecimento, já a noite tinha caído, e curiosamente não fugimos muito do tempo previsto para esta paragem, mas o mais estranho foi a sensação apesar de no relógio indicar apenas 17h30 parecia já serem tipo 21h00, ajudando claro estava o final de tarde típico de um Domingo numa pequena cidade do interior, quer pela temperatura e as pouquíssimas pessoas na rua; a paragem seguinte estava prevista para quando nos apetecer, embora como é óbvio depois de uma paragem mais prolongada o que queremos é mesmo “recuperar”, e se bem me lembro assim foi, só voltamos a parar em Viseu para umas fotos tendo em conta a exuberante decoração de Natal, muito bom. Após Viseu (173) lá conseguimos dar algum descanso as pernas, as subidas transformaram-se temporariamente em retas ligeiramente inclinadas onde rolávamos a bom ritmo, mas passadas umas horas, penso que muito perto de Tondela e antes de Santa Comba Dão, era hora de aquecer a alma, pumba, mais um abatanado e um pão com chouriço num qualquer café que encontramos pelo caminho.
FUODASSE!
Este tipo de cafés fora dos centros urbanos geralmente estão sempre povoados por personagens bem particulares e como não podia fugir á regra, sempre que algo fora do comum acontece como por exemplo três marmanjos de colete refletor, calças de justas, capacete, todos agasalhados a entrar lá por dentro fazendo soar as travessas e os cleats a cada passo como se fossem qualquer tipo de autoridade, todas as cabeças rodaram na nossa direção. Tirando isso tudo normal, até que, já prontos para arrancar no alpendre, o RP lá do sitio vem meter conversa. O dialogo foi mais ou menos este:
RP:
Então vocês estão a ir para onde?
Um de nós:
Vamos até Faro!
RP:
Fuodassse….de bicicleta?
Um de nós:
Sim
RP:
Fuodasssse…eu gosto motas, agora de bicicleta, fuodassse!!!!!
Um de nós:
Pois…
RP:
E vindes de onde?
Um de nós:
De Chaves, estamos a fazer a N2, que vai de Chaves a Faro
RP: Fuodassse,
e quando é saíste?
Um de nós:
Hoje de manhã, eram pra ai umas 9horas
RP:
Fuodassee….ora bem, cada um sabe de si
Um de nós:
É, nós já estamos habituados e gostamos disto
RP:
Pois, eu gosto motas, mas até de mota parte um gajo todo, quanto mais de bicicleta, Fuodassse!!!!
Um de nós:
Ora, vamos lá antes que fique tarde
RP:
E não parais para dormir?
Um de nós:
Vamos parar na Sertã
RP:
Fuodasssse, ainda falta muito…ide com Deus e Boa viagem
Um de nós:
Obrigado amigo, e uma boa noite!
(Nota: Não exagerei no Fuodassse…acho que até cortei alguns lá pelo meio.)
Lá seguimos caminho, e o logo depois de Santa Comba dão, já com 225k feitos, paramos para admirar a Barragem da Agueira, lá de baixo, de uma cota a que normalmente não se tem acesso nas barragens, apreciando a monumental parede de betão, iluminada pelos poucos candeeiros que refletiam nas águas calmas do Mondego; mais um daqueles momentos…
De volta a realidade, sim porque tínhamos de dar a perna, encontramos o primeiro verdadeiro problema de navegação, de repente e sem avisar ficamos num quase beco sem saída…ou entravamos no IP3 ou tínhamos de dar uma volta das grandes até reencontrar o traçado da N2. O André dizia, mas eu verifiquei e estava certo, tem de estar aqui o caminho…e realmente ele estava, o track é que estava errado. A solução foi mesmo fazer uns 150mts por um caminho em terra, subir uma ladeira, atravessar o IP3 e de volta até ao traçado da N2. Portanto fica o aviso, não se fiem nos mapas, verifiquem direito os traçados e estudem o percurso.
Daí para frente só iriamos parar novamente em Gois (290). A hora limite de chegada eram as 02h06, e estávamos muito apertados. O sono começava a bater forte, e custava-me manter os olhos abertos, mas de uma forma curiosa, ou seja muito pouco natural. Mais tarde fiquei a saber a razão….o GU!!!!!!!!!
Pois é, ao longo de várias jornadas deste género já tinha experimentado esta sensação várias vezes, uma sonolência extrema, muito pouco natural, do género os olhos fecharem-se, isto apesar do corpo estar bastante ativo e não mostrar grandes sinais de fadiga, a cabeça simplesmente não correspondia, e a razão foi os saquinhos de gel.
Como já disse já tive esta sensação uma vez em Salamanca quando experimentei um suposto Gel cheio de cafeina que segundo a descrição do vendedor e amigo (importante dizer) era do género: “Red bull á beira disto é para meninos..” e mais recentemente no Portugal na Vertical com a segunda dose de Red bull que teve o efeito contrário, desta vez não foi diferente, embora na altura não tivesse associado a isso em particular, imaginei que fosse o cansaço acumulado, ou até mesmo a falta de descanso adequado, contudo neste caso isso não se aplicava, não é que tivesse dormido muito, a jornada não ia assim tão longa como isso (já passei por piores) portanto só podia ser mesmo do GU!
O André lá acelerou até Gois (290), queria entrar nos limites da cidade antes do tempo limite, o Luis lá foi acompanhando, e eu arrastei-me a bom ritmo, ainda assim separado uns 3/5 minutos entrei em Gois eram 02h02 mesmo a tempo, e depois de tanto esforço pensávamos que iriamos ter a recompensa, quanto mais um abatanado e mais um pão com chouriço, mas como estávamos enganados….
GOIS…E AGORA?
Mal entramos em Gois, reparámos que estava um vento extremamente forte, um vento de tempestade, daquele que geralmente leva junto cadeiras de esplanada, verga sinais de transito, etc… a vila estava deserta, nada de anormal até porque já passava das 02h00 da manhã de um Domingo, acho que deu para entender o cenário!
Estávamos no cruzamento antes de virar para seguir para Pedrogão Grande, e depois Sertã que ficava a 65k, mas consultando o gráfico no GARMIN, adivinhem lá o que se seguia, subir, e não era pouco, portanto só tínhamos uma hipótese, comer e descansar antes de arrancar, por isso lá nos dirigimos ao centro da vila que ficava no sentido oposto á direção que deveríamos seguir. Primeira paragem, os Bombeiros Voluntários da Sertã, lá entramos no parque dirigimo-nos ás traseiras visto que estava tudo fechado e nada…ninguém! Bem, vamos tentar a GNR? Lá fomos nós mais um pouco, e pelo caminho embalado pelo vento vem um cheiro a pão…mas o foco era a GNR, precisávamos de parar e descansar., e pouco depois lá avistamos o Quartel da GNR e para variar, ninguém… como é óbvio (ou pelo menos para nós) não queríamos estar a bater á porta para pedir abrigo quando na realidade não estávamos em perigo, por isso depois de 5m em conferência decidimos comer qualquer coisa e depois de barriga cheia decidiríamos o que haveríamos de fazer. Seguimos o cheiro como os cães que nos levou até á panificadora onde fomos muito bem recebidos, quer-se dizer, mais ou menos, com a toda a educação lá abordamos o funcionário que nos recebeu muito bem, e ao entrar naquele espaço quente pelo forno do pão, aqueles bolos todos “fresquinhos” que levavam á possibilidade de nos abastecer convenientemente, fez-nos despertar; o problema foi o chefe, homem de poucas palavras, lá nos disse que os salgados não estavam prontos, portanto era só bolos doces e/ou pão. E para beber? Tem alguma coisa? Quereis aguinha da torneira? Não nos podemos queixar deu para parar, comer, analisar com calma o que tínhamos pela frente até á Sertã, e tomar uma decisão. A decisão foi tentar antecipar o descanso, o vento batia muito forte, mas mesmo muito forte, por isso fomos tentar o Bombeiros novamente, mas novamente, nada…perante este cenário não ia ficar ali sem abrigo, siga, vamos embora sugeri eu.
A subida que nos esperava á saída de Gois em direção a Pedrogão Grande era dura, longa, constante (pelo menos isso) e novamente com o vento a bater tornava aquilo uma subida á Torre, ou pelo menos na altura parecia; a estrada era escura, sem iluminação, ladeada de árvores de grande porte, os galhos rangiam, o vento batia de tal forma que vergava as árvores mais pequenas de tal forma que tínhamos de fazer sprints com medo que elas nos caíssem em cima, e não estou a exagerar, tínhamos razões para isso pois passados poucos minutos um gano grandito no meio da estrada tombado fez nos desviar a rota otimizada da estrada. Poucos minutos depois ouvíamos um camião a subir a estrada (tal era o silêncio c/excepção do vento), e claro tinha de parar por causa da pequena árvore caída na estrada e como viemos a perceber mais tarde, era um camião bem grande por isso o mais certo foi passar por cima dela devagar. Na altura dei por mim a pensar, o que é que aquele camionista vai pensar quando vir 3 artistas de bicicleta no meio da serra com um tempo destes? Só pensei numa expressão: “Estes não devem ter palha na cama…”
A meio da subida tive de parar, não aguentava, o Luis parou comigo, lá nos estendemos numa paragem de autocarros, e o André foi um pouco mais á frente “ver o que se passava” dizia ele. Parámos cerca de 15m, e só assim deu para continuar, no meu caso não por muito tempo, mas o suficiente para aguentar o resto da subida e finalmente começar a descer, e foi na descida que tive de tomar “aquela decisão”. Não conseguia manter os olhos abertos e a descer a 50km/h achei que era muito perigoso, portanto disse-lhes que continuassem e que nos encontrávamos na Sertã. Eram umas 06h00 quando lá parei junto a um adro de uma igreja, e debaixo de um telheiro deitado num banco de pedra, envolvido na manta térmica descansei… até ás 06h30, nessa altura fiquei a perceber que o relógio da igreja tocava a cada meia hora, boa, pelo menos não me atraso!
Passava pouco depois das 07h30 e já me sentia outro, lá me fui mentalizando que tinha de retomar a viagem e ás 08h00 em ponto estava em cima da bicicleta pronto para “dar-lhe bem” até Pedrogão Grande, foi uma hora mais ou menos num sobe desce característico da região; lá atravessei o centro, e é onde logo a seguir depois de uma descida acentuada que me deparo com a Barragem de Cabril; aqui pensei, eles devem ter passado aqui de noite, por isso vou tirar uma foto para lhes mostrar, mas nessa altura liga-me o André a perguntar se já tinha acordado e onde estava; tinham acabado de chegar á Sertã, aos Bombeiros e preparavam-se para descansar, eu por outro lado ainda estava a mais ou menos uma hora do descanso. Cheguei á Sertã num instante, animado com a perspetiva de uma cama, porém depois de uma boa descida até uma cota baixa, vim a descobrir que os Bombeiros ficavam lá no alto, por isso lá tive de subir aquilo tudo, devagar, uma pedalada de cada vez porque já tinham passado mais de 24h desde que saímos de Chaves, percorridos 340.0k e +5390d... Nada mau para o primeiro dia…
VAMOS DAR INICIO Á 2ºPARTE..
Acabadinho de me deitar na cama, envolvido no liner, apercebo-me que começou na sala ao lado uma formação de Higiene e Segurança no Trabalho com incidência nos riscos laborais e EPI’s…a sério? Mais tarde fiquei a saber que todo o quartel tinha consciência dos problemas de insonorização dos espaços, mas a verdade é que com o cansaço acumulado nada importava, foi fechar os olhos e a cabeça tratou do resto.
Duas horas depois lá acordamos, banho tomado, roupa seca e quente, só faltava mesmo uma coisa para retomar a viagem, e isso nenhum de nós abdicava, uma refeição quente! Lá nos despedimos dos Bombeiros agradecendo a boa vontade a ajuda, fizemos um donativo, e recebemos em troca um pin, oferecido pelo comandante. Que pinta!!!
O restaurante (indicado pelo Comandante) ficava (como quase tudo) na parte baixa da cidade, por isso toca a descer tudo outra vez, mas valeu a pena, até porque imaginávamos que o caminho seguia por lá. A ementa era sopa de espinafres no ponto, uma coxa de frango assado, uma salada de frutas?!?, café tomado e cigarro fumado, lá retomamos o caminho, com a expectativa de chegar ao Marco Geodésico mesmo antes de Vila de Rei. O caminho até lá, ainda na N2, foi novamente a subir para sair da cidade (outra vez), mas depressa nos demos conta que não estávamos no traçado original, mesmo assim, contrariados e tendo em conta o tempo gasto até ao momento lá continuamos, muita subida (para variar), descidas curtas em que nos punham a pensar, mas porque raio estou a descer se vou ter subir? lá fomos, até que quando nos preparávamos para começar a descer de vez o Luis anuncia: FURO!!!!!!!!!!! Ok, pelo menos não fui eu….lá o ajudamos a mudar a camara, a minha bomba fantástica lá agilizou a laboura, e seguimos caminho, fazendo o desvio até ao Marco Geodésico, só que para chegar lá…que rampa! Não faço ideia qual a inclinação naqueles 200/300mts?!?!? Mas não eram 10% nem 15%, eu levei-a á mão, e ainda assim me custou! Hoje arrependi-me pelo comodismo, mas fica para a próxima.
Tiradas as fotos, de volta á N2, outro anuncio: FURO!!!!!!!!! O Luis novamente. Bem o dia não estava a correr nada bem, mas não importa, vamos com calma e ver quais são as prioridades para chegarmos a Faro. Para além dos furos o Luis estava com uma irritação e tinha de passar por uma farmácia, por isso o plano era, Farmácia, depois comer, reparar o furo e arrancar porque o pior já passou, daqui para a frente é rolar até lá baixo.
Passados na Farmácia, pomada aplicada, reparamos o furo, e aproveitamos para perguntar a uma senhora onde é que podíamos encontrar uma pastelaria boa, eis a resposta dela: Uma pastelaria? Há aqui uma muito boa, mas hoje está fechada….mas espere, tem outra mais lá em baixo que está aberta. Bem, estava a ver que até numa coisa destas tão simples íamos ficar mal servidos, mas não, lá lanchamos, preparamo-nos, fizemos compras num minimercado que tinha á frente, e quando estávamos para arrancar, começa a chover... Já estou como outro, fuodassse…já não bastava 2h45m para fazer 23k desde a Sertã, dois furos, uma irritação, a noite que começava a cair, tinha mesmo de começar a chover? Bem, mas o objetivo era chegar ao destino por isso, siga que se faz tarde.
FINALMENTE O ALENTEJO (OU NÃO)!
Felizmente que o percurso até Abrantes pelo traçado original foi lindissimo e grande parte dele a descer; chegados a Abrantes (405) foi seguir até Mora antes de Montemor, isto já no Alentejo e tudo aquilo que o carateriza, longas retas, o escuro, mas rápido (chegamos a rolar a 30/35km/h durante bastante tempo) chegamos a um marco importante da nossa jornada, o Km 475, ainda faltava muito mas pelo menos a sensação de alivio no acumulado e consequentemente ao corpo dava outro animo, resumindo víamos as coisas a passar mais depressa.
Mesmo antes de chegar, deviam ser umas 22h30 o André já passava uma vista de olhos pelo Tripadvisor para ver qual o melhor sitio para jantarmos, as temperaturas baixaram novamente, e o corpo notava, obrigando a baixar o ritmo, mas lá continuamos e fomos procurar o Restaurante Afonso; mal entrei, sim porque estavamos em cima da hora de fecho, perguntei se serviam refeições, em que o funcionário me responde: Amigo, só se for umas bifanas, é que a cozinha já fechou! Só bifanas? - pensei para mim - E uma sopa arranja-se? Pergunto. Arranja-se… Óptimo!
Enquanto jantávamos, discutíamos os próximos passos, dormimos por aqui? Arrancamos? Lá nos decidimos a procurar os Bombeiros (novamente), ao qual pedimos para nos arranjar um sitio para descansar hora e meia, nem precisava de ter camas e podia bem ser no Parque das viaturas, algo desconfiados lá devem ter ligado ao Comandante, mas a resposta veio logo a seguir, três camas impecáveis…estejam á vossa vontade, só precisamos das vossas identificações e podem descansar o que quiserem – dizia o bombeiro, pelo que lhe explicava que não podíamos dormir a noite toda, era só mesmo uma hora e meia. Entretanto o Luis tinha descoberto que continuava a furar.
Lá nos deitamos, e qual é o nosso espanto, passado pouco tempo (hora e meia) toca o telefone da camarata.
Bem, não fui eu que atendi, mas a conversa foi mais ou menos esta: Desculpem estar a incomodar, mas já passou hora e meia… vocês podem ficar o tempo que quiserem, estão á vontade, mas como tinham dito que só podiam descansar esse tempo… falava uma voz algo envergonhada do outro lado da linha; era hora de levantar, e eu que dormia tão bem!!! Lá agradecemos a amabilidade, e o serviço de despertador, e fomos em direção a Montemor-o-Novo atrasados (de novo) em relação ao planeado, arrancamos de Mora eram 02h30 da manhã e pelo caminho decidimos que iriamos parar para comer em Montemor, portanto mal chegamos, GOOGLE, pastelarias, confeitarias, panificadoras…mas nada, até que após umas voltas pelo centro histórico, encontramos um café/restaurante/tabacaria aberta, eram cerca das 04h30 da manhã e o empregado á porta admirado (mais um) por ver-nos, ao perguntar-lhe o que havia para comer, responde de imediato: Temos bifanas, empadas, o que quiserem, está tudo a sair agora.. altamente, uma bifana e duas empadas acabadas de sair depois, estávamos a arrancar, ainda assim tivemos sorte, mas como se costuma dizer a sorte protege os audazes?!?
ALCÁÇOVAS PARA RECORDAR..OUTRA VEZ!
Dali para frente estariam em falta 240k?!? e já bem perto de Alcaçovas sentia-me bem, uma musiquinha dos Rudimental nos phones, o dia a nascer, estava com a sensação que o objectivo estava perto, afinal só falatava um brevet de 200k…e foi aí que decidi tirar as teimas, tomei um GU, o ultimo; aquela porcaria é mesmo boa, parece mousse de chocolate, só que logo depois tive a certeza do efeito secundário.. novamente não conseguia abrir os olhos, e através da experiência acumulada já tinha aprendido que não há nada a fazer, por isso, mais uma vez e como diz o ditado “Amigo não empata amigo” aviso-os de que vou parar, podem seguir que eu vou encostar ás boxes.
Lá fui para o largo da vila, precisamente onde uns meses antes por altura do Alqueva 400 desesperava para consertar o quarto furo do dia com o Luis, deitei-me no banco do jardim e descansei meia hora, “aquelas meias horas mágicas”. Acordei bem disposto e renovado, tomei um café e comi um fatia de salame de chocolate fresquinho com 1.5cm de altura, fiquei impecável.
Arranquei e dei-lhe forte até Torrão (568), sempre acima dos 30km/h..estranho!! Em Torrão era altura de assinar o passaporte, mas como não havia nada aberto, liguei-lhes, eles estavam a pouco mais de meia hora de distancia, excelente; seguiu-se Odivelas, Ferreira do Alentejo, e felizmente com temperaturas bem mais agradáveis do que nos dias anteriores deu-me para fazer um “cliché”, encostar na beira da estrada e deitar-me na erva junto a uma árvore, foram 10m de tranquilidade interrompidos pelo passar dos carros, mas de resto foi óptimo.
Logo em seguida liguei aos companheiros de viagem e descobri que estavam apenas 7/8km de distancia, por isso aqui para a frente, e caso tivesse forças só voltaria a parar em Almodovar (666) para reagrupar e concluir a travessia. Pelo caminho e no meio do Alentejo deu me a fome e em Aljustrel tive de parar, não é que estivesse com muita fome, dava para aguentar, mas ao ver um Intermaché, era garantia que podia comer bem, e foi a melhor coisa que fiz, comi uma sopa de legumes, um sumo de laranja e um pão com manteiga que deu para continuar sem mais paragens.
O Alentejo para mim é chato, as longas retas, a monotonia da paisagem entre outros aspetos característicos da região não me seduzem, mas quando tem de ser, tem de ser, portanto até Almodovar foi dar lhe certinho, porque quando lá chegasse, só iam faltar 60/70k para Faro, até ao objectivo final.
Nesta altura ainda tínhamos na ideia que podíamos chegar por volta das 16h30 para apanhar o comboio das 17h30, não me lembro bem das horas mas era mais ou menos isto, porém quando cheguei a Almodovar (666) uma meia hora depois do Luis e do André, encontrei o André preocupadíssimo mas conformado que não íamos chegar a tempo; por acaso eu já o havia avisado na noite anterior que não ia dar, mas nem por isso deixei de lutar como eles para recuperar e tentar chegar a horas, até porque já tínhamos os bilhetes comprados, mas como sempre o que não tem remédio, remediado está, foi altura de procurar alternativas e aqui que entram os autocarros.
MAIS UMA AGRADÁVEL SURPRESA, O ALGARVE E A SERRA DO CALDEIRÃO.
Comi mais um prato de comida e lá arrancamos, desta vez juntos em direção á Serra do Caldeirão; o percurso é lindo, nunca pensei que fosse tão bonito e recompensador, primeiro subimos uns metros acima do nível do mar, para depois começar a subida a sério, 3 rampas alternadas, mas puxadas, ainda por cima com tantos km para trás, lembrei-me do “velho” ditado dos Randonneurs, as subidas são para descansar, e assim foi, mudança leve, cadência média (60/70), umas puxadas de vez em quando e lá fomos nós, até ao ponto mais alto do Caldeirão já depois do marco do Km 700…verdadeiramente recompensador, não tenho muitas palavras para descrever aquele trajeto entre Almodovar e São Brás de Alportel, certamente que voltarei para apreciar de outra forma tudo aquilo que nos envolvia,
Depois de subir, tínhamos de descer, a descida até Faro rápida, umas subidas chatas pelo meio para cortar o ritmo, senão seriam cerca de 16k a descer, contudo ainda assim tínhamos de pedalar na mesma, não dava para ir na “mama”; daí para frente era apanhar a 125 e claro a parte aborrecida. Nessa altura só tínhamos vontade de chegar ao fim, por isso, comboio formado, não sei bem porque eu ia na frente a puxar, e lá fomos até á penúltima paragem para a foto da praxe no km 737, para depois seguirmos até ao 738,5 já esquecido, perdido…concluindo praticamente a nossa aventura.